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'Sociedade deve agir para enfrentar o autoritarismo', diz Felipe Neto

Felipe neto no Instagram - Reprodução/Instagram
Felipe neto no Instagram Imagem: Reprodução/Instagram

Roberta Jansen

Do Estadão, no Rio

20/03/2021 13h05

O influenciador digital Felipe Neto reafirmou, em entrevista por e-mail ao Estadão, considerar "genocida" a política do presidente Jair Bolsonaro para combater a pandemia. A acusação é semelhante àquela que levou à abertura de um inquérito na Polícia Civil do Rio, com base na Lei de Segurança Nacional e no Código Penal, pelo suposto crime de calúnia. A investigação foi considerada ilegal e suspensa pela Justiça, mas inspirou o youtuber a criar o movimento "Cala-Boca já Morreu", com assistência jurídica a qualquer investigado ou processado por criticar autoridades. "Os casos não param de surgir por todo o País", disse ele.

Como surgiu a ideia do "Cala-Boca Já Morreu"?
Surgiu na madrugada após minha intimação. Só conseguia pensar em como aquilo poderia ser utilizado para calar pessoas que não têm como se defender. Eu sabia que a ação contra mim daria em nada, justamente pela minha rede de apoio e defesa, mas entendi que o problema era muito mais profundo. Eles queriam colocar medo na população, nos jornalistas, nos professores. Então decidi procurar os melhores advogados que conheço e perguntar se eles topariam utilizar seus escritórios para defender todo mundo que sofresse essa tentativa de silenciamento absurda que eu sofri. Eles toparam na hora.

A liberdade de expressão está sob ameaça?
Vinte e cinco pessoas foram intimadas pela PF em Uberlândia por postagens contra o governo. Quatro rapazes foram presos em Brasília por estenderem uma faixa criticando Bolsonaro. Um homem está sendo perseguido judicialmente por ter colocado um outdoor comparando o presidente a um pequi roído. Casos não param de surgir por todo o País. Não adianta esperar sentado que as coisas serão cuidadas pelos próprios poderes públicos. É imprescindível que a sociedade civil aja para enfrentar o autoritarismo. Eu estou apenas fazendo a minha parte.

O sr. já pensou em fazer denúncia formal em alguma instância internacional?
Sim, estamos nesse momento trabalhando em uma denúncia. Não resta dúvida de que a política de Jair Bolsonaro é uma política genocida, por ação e omissão, tanto pelas políticas públicas, ou falta delas, durante a pandemia, quanto nas ações ou omissões a respeito de povos indígenas do País. O Tribunal Penal Internacional de Haia aceitou denúncia contra Jair Bolsonaro justamente por "incitar o genocídio e promover ataques sistemáticos contra os povos indígenas do Brasil".

O sr. voltou a sofrer ameaças?
Sofremos ameaças constantes. Minha família passa por coisas que ninguém faz ideia. Contudo, eles permanecem ao meu lado, sem titubear, sem me pedir para frear. Vivo sob um rígido sistema de segurança.

Como evitar o discurso de ódio e as fake news na internet?
Só existem dois caminhos: educação digital para a população e investimento nos setores investigativos da Polícia Federal para desarticulação dos grupos de ódio. A parte da educação digital é uma das minhas prioridades, por isso fundei o Instituto Vero, que está trabalhando para levar educação digital para o máximo possível de pessoas. A população recebeu a maior arma da história da humanidade, a internet, sem manual de instruções. Até 2017, 50% da população brasileira achava que a internet era o Facebook. Pessoas não sabem diferenciar uma notícia de um veículo sério com uma notícia editada no WhatsApp. Precisamos educar a população sobre o que é o ambiente digital o mais rápido possível.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.