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Voto impresso é risco para processo eleitoral e traz de volta o "terror", diz Barroso

O presidente do TSE também apontou como um dos riscos da implementação do sistema a judicialização das eleições - Nelson Jr/STF
O presidente do TSE também apontou como um dos riscos da implementação do sistema a judicialização das eleições Imagem: Nelson Jr/STF

Matheus de Souza

Em São Paulo

05/07/2021 13h30

O ministro Luís Roberto Barroso, presidente do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), voltou a argumentar contra a implementação do voto impresso no País, tema que virou bandeira do presidente Jair Bolsonaro (sem partido). Barroso apresentou como argumento contra o sistema a logística envolvendo o transporte dos votos "no País do roubo de carga", além da dificuldade de implementação da modalidade. Citou também o risco de judicialização devido a possíveis divergências em uma recontagem. Para Barroso, o voto impresso não é mecanismo a mais de auditoria, "ele é um risco para o processo eleitoral".

"Qual a razão pela qual o TSE tem se empenhado contrariamente ao voto impresso? É que nós vamos ter que transportar 150 milhões de votos no País do roubo de carga, da milícia, do Comando Vermelho, do PCC, do Amigos do Norte, já há aí um primeiro problema", argumentou.

Barroso, que destacou a segurança das urnas eletrônicas, também reforçou que o sistema com voto impresso só presta para recontagem manual, o que, segundo ele, seria um "terror". "Se o candidato a presidente da República pedir recontagem, nós vamos ter 150 milhões de votos contados manualmente, aquelas mesas apuradoras que faziam o terror da vida brasileira antes das urnas eletrônicas", disse.

Para o ministro, a única forma de implementar o sistema seria através de mecanismo de contagem automática, coisa que, segundo ele, já não é mais possível fazer a tempo para a próxima eleição. E mesmo com esse sistema, Barroso afirma ser um paradoxo implementar o passo extra de verificação. "O voto impresso seria imprimido pela mesma urna que estaria sob suspeita, portanto, se fraudar o eletrônico, frauda o impresso. Vamos gastar R$ 2 bilhões de reais, criamos um inferno administrativo para essa licitação, com o risco de fraude, e pior, quebra de sigilo", afirmou.

O presidente do TSE também apontou como um dos riscos da implementação do sistema a judicialização das eleições. "A contagem manual vai dar diferença em relação à contagem eletrônica. Até caixa de banco ou caixa de empresa no final do dia você tem que fazer uma reconciliação, e aí vão pedir anulação de urna para dizer que deu defasagem, deu desencontro, nesse País em que se judicializa tudo, vai se judicializar também a eleição", concluiu o ministro.

Em meio aos escândalos do governo envolvendo a compra de vacinas, o presidente Bolsonaro, de olho nas eleições de 2022, tem colocado em xeque a segurança das urnas eletrônicas. Para o chefe do Executivo, haveria uma articulação dentro do STF para colocar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), de volta ao poder por meio de fraude.

Sem apresentar provas, Bolsonaro tem feito a afirmação contra a segurança do processo eleitoral para seus apoiadores. Em uma de suas conversas com seus eleitores, na saída do Palácio da Alvorada, Bolsonaro chegou a sugerir que fará uma live com hackers demonstrando as possíveis fragilidades do sistema.

Barroso também argumentou contra a possibilidade de um hacker prejudicar o sistema eleitoral. "As urnas não entram em rede", afirmou o ministro. "As pessoas dizem: 'mas atacam a Nasa, atacam o FBI, atacam o Pentágono, porque não vão atacar o TSE?'. Até atacam, mas mesmo que ataquem o TSE, mesmo que derrubem o sistema do TSE - o que nunca aconteceu - as urnas não entram em rede, e, portanto, não há como fraudar o resultado eleitoral", pontuou.