Sem dar mais detalhes, Bolsonaro diz que discurso na ONU será 'em Braille'
O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) afirmou hoje que seu discurso na abertura da Assembleia Geral das Nações Unidas (ONU) "vai ser em Braille", sem explicar o que quis dizer com a referência ao sistema de leitura tátil para cegos ou pessoas com baixa visão.
O presidente fez a declaração a jornalistas no período da manhã, após o tomar o café da manhã no hotel onde está hospedado em Nova York. Foi a única manifestação pública do presidente desde que desembarcou nos Estados Unidos, na tarde do domingo.
Bolsonaro desceu do seu quarto para o café da manhã às 7h45, no horário local, e foi acompanhado pelos ministros Marcelo Queiroga (Saúde), Joaquim Leite (Meio Ambiente), Luiz Eduardo Ramos (Secretaria-Geral da Presidência), Anderson Torres (Justiça e Segurança Pública), Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional) e pelo secretário de Assuntos Estratégicos da Presidência, Flávio Rocha.
O grupo usou uma sala reservada do hotel para o desjejum. Uma placa na entrada do restaurante do hotel indica que é exigido comprovante de vacinação contra covid-19 para entrar no local. Bolsonaro não está vacinado.
O restaurante, no entanto, não tem requisitado a apresentação do comprovante aos clientes. A reportagem do jornal O Estado de S. Paulo entrou no restaurante sem que houvesse pedido por parte dos funcionários para mostrar comprovante de vacinação.
O único compromisso na agenda oficial do presidente no período da manhã é uma reunião com o primeiro-ministro do Reino Unido, Boris Johnson.
Agenda positiva
Conforme o jornal O Estado de S. Paulo revelou, contra o desgaste internacional do governo brasileiro, o Itamaraty quer que o presidente Jair Bolsonaro divulgue uma agenda positiva ao discursar hoje na abertura da Assembleia-Geral da Organização das Nações Unidas.
Uma das medidas que diplomatas tentam fazer o presidente encampar e anunciar é a doação de vacinas contra covid-19 para nações da América Latina em piores condições de combate à pandemia, como Paraguai e Haiti, segundo assessores.
Bolsonaro entrou no domingo pela porta dos fundos do hotel onde está hospedado, ao desembarcar em Nova York. Alguns poucos manifestantes contrários ao governo o aguardavam com faixas na porta do hotel.
Não havia apoiadores do presidente no local. Em 2019, última vez que esteve em Nova York para participar presencialmente da Assembleia-Geral, Bolsonaro encontrou à sua espera manifestantes a favor e contra seu governo. Na ocasião, entrou pela porta da frente do mesmo hotel.
Na sua primeira participação na ONU, há dois anos, Bolsonaro desembarcou acompanhado pelo então chanceler Ernesto Araújo e fincou os pés nas bases do bolsonarismo em seu primeiro discurso no organismo.
Na época, Bolsonaro se juntava a um time de líderes como o então presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que desafiavam o sistema multilateral.
Desta vez, com o Itamaraty sob comando do chanceler Carlos França e o democrata Joe Biden na presidência americana, diplomatas tentam convencer Bolsonaro a centrar seu discurso em temas alinhados com a agenda de aliados americanos, europeus e da própria ONU.
Os três pilares do discurso esboçado pelo time de França serão a diplomacia da saúde, onde entrará o possível anúncio a respeito das vacinas, o combate ao desmatamento e a recuperação econômica.
Desde o início do seu governo, Bolsonaro foi retratado na imprensa internacional como um líder que ameaça a democracia, os direitos humanos e o meio ambiente no Brasil. Na pandemia, foi também descrito como um negacionista.
Apesar de ter questionado a eficácia das vacinas durante o último ano, Bolsonaro deve comemorar na frente de líderes internacionais que o país avançou na vacinação mais do que muitas nações ricas e que poderá se tornar um "hub regional" de produção de imunizantes.
Nesse contexto, Itamaraty e Ministério da Saúde querem o anúncio da doação de vacinas para a região.
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