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Contrário ao aborto, Bolsonaro já defendeu que decisão caberia 'ao casal'

O presidente Jair Bolsonaro (PL) em evento na Hungria  - Bernadett Szabo/Reuters
O presidente Jair Bolsonaro (PL) em evento na Hungria Imagem: Bernadett Szabo/Reuters

Davi Medeiros

Em São Paulo

23/02/2022 13h05Atualizada em 23/02/2022 13h42

O presidente Jair Bolsonaro (PL) criticou "a esquerda" pela defesa de regras mais flexíveis sobre o aborto e foi às redes sociais na noite desta terça-feira, 22, lamentar a decisão da Colômbia de descriminalizar o ato até 24 semanas de gestação, em um aceno claro à sua base de apoiadores evangélicos. No passado, contudo, o chefe de Executivo já disse considerar que a interrupção de uma gravidez deveria ser decisão do casal e admitiu, inclusive, ter sugerido à sua ex-esposa, Ana Cristina Valle, que não prosseguisse com a gestação de Jair Renan, seu filho "Zero Quatro".

Em entrevista concedida em 2000 à revista IstoÉ Gente, que voltou a circular em grupos de mensagens e nas mídias sociais após as declarações de ontem, o presidente foi questionado sobre a legalização do aborto e respondeu: "Tem de ser uma decisão do casal". Depois, completou: "Já (vivi tal situação). Passei para a companheira. E a decisão dela foi manter".

Colômbia

Na segunda-feira, dia 21, o mais alto tribunal da Colômbia decidiu descriminalizar o aborto nas primeiras 24 semanas de gestação, o que reacendeu o debate sobre o tema também no Brasil. Em desvantagem nas pesquisas de intenção de voto, Bolsonaro tem apostado na pauta de costumes e tentado fidelizar o apoio dos evangélicos, uma de suas principais bases eleitorais.

A polêmica nas redes começou quando a ex-deputada federal Manuela Dávila publicou — e em seguida excluiu — uma postagem celebrando a descriminalização na Colômbia, o que gerou grande repercussão entre bolsonaristas. Apoiadores do presidente viralizaram uma captura do tweet apagado de Manuela, bem como imagens suas na igreja ao lado de Fernando Haddad (PT) na campanha presidencial de 2018. Parlamentares de esquerda, como Sâmia Bomfim, Talíria Petrone e Isa Penna, todas do PSOL, também comemoraram nas redes sociais.

"No Brasil, a esquerda festeja e aplaude a liberação do aborto até o 6° mês de gestação, lamentavelmente aprovado na Colômbia. Trata-se da vida de um bebê que já tem tato, olfato, paladar e que já ouve a voz de sua mamãe. Qual o limite dessa desumanização de um ser inocente?", escreveu o presidente, no Twitter. "No que depender de mim, lutarei até o fim para proteger a vida de nossas crianças!", acrescentou.

Na mesma entrevista à IstoÉ, em 2000, Bolsonaro disse ser católico, mas que era "coisa rara" ir à igreja.

Em razão dessa mesma entrevista, Bolsonaro foi questionado sobre seu posicionamento sobre o aborto na campanha presidencial de 2018. À época, ele reforçou que é contra o procedimento e que não tinha "ascendência" sobre a ex-mulher Ana Cristina Valle para tomar qualquer decisão sobre o tema. À Folha de S.Paulo, declarou que quando Renan nasceu, ele fez um exame de DNA e "assumiu" a criança.

O governo Bolsonaro teve início em 1º de janeiro de 2019, com a posse do presidente Jair Bolsonaro (então no PSL) e de seu vice-presidente, o general Hamilton Mourão (PRTB). Ao longo de seu mandato, Bolsonaro saiu do PSL e ficou sem partido até filiar ao PL para disputar a eleição de 2022, quando foi derrotado em sua tentativa de reeleição.