Aporte de US$ 1 bi vira tema da campanha na Argentina; Planalto nega ação de Lula

A revelação pelo Estadão de que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva intercedeu por um aporte de US$ 1 bilhão do Banco de Desenvolvimento da América Latina (CAF) para a Argentina repercutiu ontem na campanha presidencial do país vizinho. Javier Milei, que lidera as pesquisas, disse que Lula atuou contra a sua candidatura e chamou o petista de "comunista furioso".

O Estadão mostrou que o crédito abriu caminho para que o Fundo Monetário Internacional (FMI) pudesse liberar desembolso de US$ 7,5 bilhões à Argentina, o que favorece o candidato peronista Sergio Massa, atual ministro da Economia e rival de Milei.

A coluna da jornalista Vera Rosa foi compartilhada ontem por Milei nas redes sociais. "A casta vermelha treme. Muitos comunistas furiosos e agindo diretamente contra minha pessoa e meu espaço. A liberdade avança. Viva a liberdade, c...", escreveu o candidato. Ele ainda compartilhou publicações de apoiadores. Uma delas diz: "O presidente comunista do Brasil, Lula, que fundou com Fidel Castro o Foro de São Paulo, está agindo para que um banco brasileiro empreste milhões de dólares ao governo argentino, para evitar que Milei ganhe as eleições. Lula financiou Maduro (Venezuela), CFK (Cristina Kirchner, Argentina), Petro (Colômbia), entre outros".

Ajuda

A Secretaria de Comunicação Social da Presidência divulgou nota ontem para dizer que o empréstimo de US$ 1 bilhão feito pelo CAF à Argentina teve como único objetivo "ajudar o país com escassez de reservas". O Brasil agiu porque, a rigor, o país vizinho não poderia mais ter acesso aos recursos, uma vez que já havia esgotado o limite de crédito.

A nota da Secom afirma que, "diferentemente do que vem sendo repercutido", o empréstimo não teve intervenção de Lula. O comunicado diz, ainda, que Lula não conversou sobre o empréstimo com a ministra do Planejamento, Simone Tebet. O Estadão apurou que Tebet deu aval à operação após pedido do presidente. Ela é governadora do Brasil no CAF.

Depois da publicação da notícia, começaram a ser veiculadas no X (ex-Twitter) mensagens com a hashtag #impeachment, por causa da atuação do presidente brasileiro para ajudar a Argentina. As postagens acirraram a disputa política entre apoiadores de Lula e do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

O contato do Palácio do Planalto com Tebet ocorreu no fim de agosto, às vésperas da visita de Massa, nome apoiado pelo presidente Alberto Fernández para sua sucessão. Partiu do gabinete do ex-chanceler Celso Amorim. Ele despacha no terceiro andar do Planalto, perto do gabinete do presidente, e atua hoje como assessor especial de Lula para a área internacional. Foi preciso telefonar várias vezes para a ministra, na tentativa de localizá-la. Tebet estava fora de Brasília, em compromisso particular, e só ligou de volta depois.

O empréstimo-ponte do CAF não é ilegal e passou pelo crivo de 21 países-membros do banco. Oficialmente, o governo brasileiro afirma que não age para ajudar nem barrar o avanço de qualquer concorrente na eleição da Argentina, marcada para o próximo dia 22.

'O presidente Lula não me ligou, não entrou em contato comigo'

Durante audiência ontem na Comissão Mista de Orçamento do Congresso, a ministra do Planejamento, Simone Tebet, foi questionada sobre o empréstimo à Argentina. Ela disse que não chegou a consultar diretamente Lula sobre o assunto.

"Não é que eu não fui consultada, eu que não consultei o presidente Lula. O presidente Lula não me ligou, não entrou em contato comigo, porque é natural: eu sou governadora desse banco", respondeu a ministra.

"Minha secretária, por minha determinação, foi autorizada a votar favoravelmente, como 20 de 21 países votaram favoravelmente", disse. "Esse banco que não é nosso, não tem dinheiro federal, e foi aprovado." Segundo a ministra, a Argentina já quitou o empréstimo.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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