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Com casos em alta, Itália relaxa regras sanitárias contra Covid

O primeiro-ministro da Itália, Mario Draghi, fala sobre o levantamento planejado do estado de emergência Covid-19 do país e as regras impostas durante a pandemia - Filippo Monteforte/AFP
O primeiro-ministro da Itália, Mario Draghi, fala sobre o levantamento planejado do estado de emergência Covid-19 do país e as regras impostas durante a pandemia Imagem: Filippo Monteforte/AFP

17/03/2022 14h29Atualizada em 17/03/2022 18h18

A Itália divulgou hoje os próximos passos do combate à pandemia do novo coronavirus após o fim do estado de emergência no dia 31 de março.

O cronograma prevê um afrouxamento de praticamente todas as regras sanitárias entre abril e maio, com apenas algumas obrigatoriedades pontuais, e foi aprovado por unanimidade pelo CdM (Conselho de Ministros).

"O objetivo do governo era o retorno à normalidade, era a recuperação da sociabilidade. Os provimentos aprovados hoje sancionam essa situação. Reabrir a economia e limitar a experiência das aulas a distância. Esse é o estado em que nós conseguimos chegar", disse o premiê da Itália, Mario Draghi, em coletiva de imprensa após a reunião dos ministros.

O primeiro-ministro ainda agradeceu a todos os especialistas, cientistas e médicos do ISS (Instituto Superior de Saúde) e do CSS (Conselho Superior de Saúde) que auxiliaram o governo durante os mais de dois anos e dois meses de trabalho por meio do comissariado extraordinário, que será dissolvido em 31 de março.

"Eles nos deram um apoio extraordinário para decisões dificílimas tomadas por esse e pelo governo precedente. Deram suporte psicológico para dizer que as decisões estavam sendo tomadas com base na ciência e não em sensações. Isso é fundamental para nós tomarmos as decisões", acrescentou.

Em um agradecimento especial ao povo italiano, que respeitou as regras e se vacinou em sua imensa maioria, Draghi ressaltou que "mais de 80 mil mortes foram evitadas no país" graças à vacinação maciça da população.

"Quero agradecer a todos os italianos por seu altruísmo, pela paciência demonstrada nesses anos. Muitas vezes nós achamos que há pouco senso cívico, mas ao invés disso, nós fomos muito bons nessa pandemia e precisamos nos orgulhar", destacou

Entenda o que muda - A partir de 1º de abril, o passe verde (o certificado sanitário italiano que mostra se a pessoa está vacinada, curada ou com teste negativo recente para a Covid-19) não será mais obrigatório para usar os transportes públicos locais, mas as máscaras de proteção continuam sendo necessárias.

Outros locais também não precisarão mais exigir o documento, nem sua versão "super", que só permite a entrada de vacinados e curados, mas a lista final ainda será divulgada em breve. O que já foi antecipado é que ele não será mais obrigatório nos hotéis e nos restaurantes - em medida válida também para os estrangeiros.

A abolição do passe verde para todos os locais entrará em vigor de maneira definitiva em 1º de maio.

Além do uso no transporte, as máscaras continuarão a ser obrigatórias em locais fechados até o dia 30 de abril. Ao ar livre, elas já não são mais necessárias - apenas se houver grandes aglomerações.

Também a partir do primeiro dia do próximo mês, não haverá mais limitação de público nos estabelecimentos de todos os tipos, incluindo estádios, que poderão voltar a receber 100% do público. No entanto, nos eventos esportivos, ainda será necessário apresentar o passe verde simples durante todo o mês de abril.

Outra mudança é que não será mais exigido o "super passe verde" para as pessoas com mais de 50 anos acessarem seus locais de trabalho, em medida que está em vigor desde 15 de fevereiro.

Essas pessoas, que ainda permanecerão obrigadas a se vacinar por serem a faixa etária que mais desenvolve casos graves ou mortes pela doença, precisarão apresentar apenas o certificado simples.

Já a vacinação compulsória de profissionais que atuam na área da saúde ou que trabalham em asilos continuará a valer até o fim do ano.

Uma grande mudança na gestão da pandemia na Itália será o fim da estrutura de comissariado para o enfrentamento da covid-19, comandado por Francesco Figliuolo, e do CTS (Comitê Técnico-Científico), responsável pela orientação científica do governo durante a crise sanitária. Ambos serão extintos em 1º de abril.

No lugar das duas estruturas, será montada uma unidade operacional no Ministério da Saúde para acompanhar esse período de transição e para completar a campanha nacional de vacinação.

Segundo o ministro da Saúde, Roberto Speranza, Figliuolo vai comandar essa unidade especial até o dia 31 de dezembro.

O comissariado e o CTS foram criados no início de março de 2020, ainda durante o governo do premiê Giuseppe Conte, para lidar com a doença que havia acabado de chegar ao país e já provocava números assustadores. Quando o atual primeiro-ministro, Mario Draghi, assumiu o governo em 2021, as duas estruturas foram mantidas apenas com a troca das pessoas que estavam no cargo e com um foco bastante direcionado a fazer a campanha de imunização funcionar de maneira rápida e ativa.

O documento do governo também determina que as aulas a distância, chamadas de DAD, devem só ser realizadas para os estudantes que testarem positivo para a Covid-19 e não será mais necessário isolar classes inteiras por conta de contágios de alunos.

Assim como para os estudantes, as quarentenas para as pessoas que tiverem contato com alguém contaminado serão abolidas. Só precisará ficar em isolamento domiciliar a pessoa que contrair a doença. Aqueles que tiverem contato com o contaminado, devem monitorar sua situação e se isolar apenas em caso de teste positivo. Também não haverá mais a distinção nesses prazos de quarentena entre vacinados e não vacinados.

O trabalho em home office "simplificado" no setor privado, sem a necessidade de um acordo individual entre empresa e funcionário, ficará em vigor até o dia 30 de junho. Até a mesma data, também será prorrogada a medida que permite o desenvolvimento do trabalho em casa para os colaboradores considerados "frágeis", ou seja, que tenham fatores de risco para a covid-19.

A pandemia na Itália

Primeiro país ocidental duramente afetado pela pandemia, a Itália vive um período de maior "calmaria" após o pico provocado pela variante ômicron no início de 2022.

Atualmente, a média móvel de contágios está subindo - cerca de 60 mil infecções por dia -, mas as internações e os óbitos não acompanham o aumento, mantendo suas trajetórias de queda lenta e constante.

A menor gravidade da imensa maioria das contaminações - cerca de 99% dos casos ativos são pessoas em isolamento domiciliar - vem por vários fatores, entre eles, a alta cobertura vacinal da população, o investimento nos novos medicamentos anti-covid que são administrados assim que aparecem os primeiros sintomas (o Paxlovid começou a ser usado em fevereiro); e a manutenção de regras sanitárias por mais tempo que seus vizinhos europeus.

Conforme a última atualização do Ministério da Saúde, a Itália tem 91,32% das pessoas com mais de 12 anos com uma dose das vacinas disponíveis; 89,66% tomaram duas aplicações; e 83,59% receberam as três. O país também vem aplicando uma quarta dose em pessoas imunossuprimidas, com cerca de 4,76% do público-alvo já tendo sido protegido.

A vacinação entre as crianças de 5 a 11 anos, porém, continua lenta: 37,4% da faixa etária com uma dose e 33,2% com duas. A imunização desse grupo começou em 16 de dezembro do ano passado.

Ao todo, desde o início da crise sanitária, a Itália soma mais de 13,6 milhões de casos confirmados e 157,4 mil mortes.