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Apesar de derrota, oposição a Chávez ganha terreno na Venezuela

Simpatizantes do presidente da Venezuela, Hugo Chávez, comemoram vitória nas eleições - Ramon Espinosa/AP
Simpatizantes do presidente da Venezuela, Hugo Chávez, comemoram vitória nas eleições Imagem: Ramon Espinosa/AP

08/10/2012 17h20

Na noite de domingo havia decepção, frustração e choro no comando da campanha do candidato da oposição à presidência da Venezuela, Henrique Capriles Radonsky.

Pela quarta vez em quase 14 anos os opositores do presidente Hugo Chávez fracassaram em sua tentativa de tirá-lo do poder pela via eleitoral.

O ensurdecedor estrondo dos fogos de artifício que celebraram a vitória oficial, lançados justamente da rua atrás da sede do comando da campanha de Capriles, no leste de Caracas, davam um toque de humilhação em um ambiente de tristeza e espanto.

No entanto, mesmo na derrota, a oposição venezuelana deveria ter razões para sentir-se satisfeita do que foi seu melhor desempenho desde o início da era Chávez, em 1998, e orgulhar-se de ter conquistada seu melhor resultado, reduzindo à metade, em termos percentuais, a diferença de votos do presidente, em comparação com 2006.

Além disso, os contrários à chamada Revolução Bolivarana parecem sair deste processo eleitoral com algo que não tinham até pouco tempo: um líder jovem, carismático e com um apelo popular que poderia servir de condutor para convertê-los em uma oposição de poder frente ao "chavismo".

Caminho

No discurso de reconhecimento da derrota, Capriles, vestindo uma jaqueta com as cores da bandeira venezuelana, pareceu fazer uma promessa de futuro a seus seguidores, que conseguiu levantar o ânimo tão abatido após a divulgação do primeiro boletim do Conselho Nacional Eleitoral.

"Por aí segue o caminho", disse o candidato, jogando com as palavras de "Há um caminho", que foi o lema de sua campanha eleitoral e, para muitos analistas, equiparando-se com o famoso "por agora" que Chávez pronunciou em fevereiro de 1992, quando fracassou a tentativa de golpe de Estado.

Ao assegurar a seus seguidores que não os deixaria "sós", Capriles arrancou entusiasmo daqueles que poucos minutos antes não encontravam consolo, de uma maneira que não se havia visto na última década entre os opositores venezuelanos.

Capriles assegurou que seguirá trabalhando pelo país a partir de sua proposta política e, apesar de não querer se reconhecer como chefe de fato da oposição ao presidente Chávez, seu discurso parece ter deixado em muitos a sensação de que não sofrerão a orfandade que sucedeu outras derrotas.

"Como ele (Capriles) disse, não acredito que esta liderança seja algo que se decrete. O que acredito é que está se configurando um quadro de liderança da oposição com um líder nacional e com uma série de lideranças regionais. É como um elenco da unidade, ainda que Capriles esteja legitimado agora por causa das eleições", disse à BBC Mundo Ricardo Subre, membro da equipe do opositor.

No final, esses mesmo que choravam terminaram aclamando o candidato perdedor, inclusive nas redes sociais - a hashtag #GraciasCapriles (obrigado, Capriles) ficou popular.

O reconhecimento de Chávez

Um possível indicativo de mudança na dinâmica política é o fato de Chávez ter, pela primeira vez na história de seus discursos de vitória, reconhecido o "civismo" da oposição e os 44% da população que votaram contra seu projeto político.

No passado, esse tipo de discurso de vitória simplesmente ignoraria seus adversários ou, quando se referisse a eles, seria para questionar seu patriotismo e até para colocar em xeque seus eventuais triunfos eleitorais.

Mas desta vez Chávez começou seu discurso com uma expressão de respeito à oposição, de quem até poucos dias ele dizia que queria desestabilizar o país com um eventual desconhecimento do resultado eleitoral.

"Acredito que se avançou muito porque a campanha de Capriles teve muitos méritos. Não sabemos quais vão ser os resultados finais, mas se considerarmos cerca de 47% e vemos que a última vez (eleições presidenciais de 2006) teve 39%", disse o analista Diego Bautista Urbaneja.

Urbaneja afirma que, apesar de Manuel Rosales (candidato opositor em 2006) ter levado uma "surra", ele foi responsável por unir os principais partidos da oposição.

"Capriles percorreu um importante caminho, mas agora tem de seguir demonstrando seu calibre. Vai depender dele se manter em cena", disse o analista.

No momento, a oposição deveria redefinir as estratégias para as próximas eleições para prefeitos e governadores - em dezembro.

O governo tem a vantagem do impulso obtido nas eleições presidenciais, enquanto a oposição deverá lutar contra o previsível desânimo que toma conta de seus partidários.

"Vai haver uma reflexão, uma análise, mas não creio que haja um esvaziamento da oposição. Se comparar com 2006, há mais gente que apóia a proposta unitária."

E nessa tarefa, uma cabeça mais visível poderia ajudar os opositores nesse reagrupamento e a construir uma plataforma política mais sólida que enfrente Chávez na próxima eleição presidencial, em 2019.