Russos são atacados em Moscou por usar símbolos do Ocidente
Uma onda de patriotismo russo e apoio aos rebeldes separatistas ucranianos está ocorrendo em meio à guerra no leste da Ucrânia.
Em alguns casos, o antagonismo contra as autoridades de Kiev e contra o Ocidente já ganhou as ruas.
A jornalista Anna Ratafyeva viajava de metrô quando levou um tapa no rosto desferido por uma senhora idosa que não gostou de uma figura estampada em seu moletom: o cão Snoopy balançando a bandeira do Reino Unido.
O incidente ocorreu em setembro.
"A mulher se aproximou, me chamou de prostituta americana e me deu um tapa no rosto. Essa é a nova realidade", escreveu Ratafyeva em uma página do Facebook.
O novo cenário a que ela se referiu envolve o banimento de importações da União Europeia e dos Estados Unidos, em resposta às sanções do Ocidente impostas à Rússia por suas ações na crise da Ucrânia.
Outro acontecimento desagradável teve lugar na maratona anual de Moscou em 21 de setembro.
Uma das corredoras, Alexandra Boyarskaya, estava usando uma camiseta com a palavra Ucrânia e pintada nas cores amarela e azul – da bandeira do país. Quando parou para beber água durante a prova, foi atacada.
Ela foi agredida no rosto por uma espectadora, que também gritou: "Sua degenerada! Volte para seu país. Você desonra minha cidade e não tem o direito de correr em nossa maratona!"
Boyarskaya disse à BBC ter ficado surpresa e afirmou que não pretendia passar nenhuma mensagem política.
Ela não registrou queixa afirmando que a agressão foi ridícula. "Ela tem o direito de ter sua opinião, e a única coisa que posso fazer é lamentar que essa opinião exista".
A organização da maratona disse não ter tomado conhecimento do incidente e afirmou que corredores de 61 países participaram, inclusive a Ucrânia.
"Nós não dividimos atletas por países. Nós também temos amigos na Ucrânia. Havia muitos corredores ucranianos na competição e dois deles estavam até entre os vencedores", disse à BBC Dmitry Tarasov, diretor do evento.
A polícia de Moscou disse que não recebeu queixas sobre nenhum ataque relacionado a "símbolos estrangeiros" e sugeriu que esses casos não teriam se espalhado pela cidade.
Porém muitas das vítimas prefeririam se manifestar pelas redes sociais em vez de procurar a polícia.
Símbolos do ódio
Muitos leitores registraram na página da BBC em russo no Facebook casos de violência relacionados ao conflito.
Uma mulher teve o carro atacado porque tinha uma fita amarela e azul no espelho. Outra foi insultada por usar um corte de cabelo similar ao da ex-premiê ucraniana Yulia Tymoshenko.
"Eu tenho uma camisa polo com símbolos americanos e um atendente de uma farmácia me disse que isso não era patriótico", escreveu Andrey Albekov no Facebook.
"Esses são os símbolos de nossos inimigos jurados que têm odiado a Rússia e tudo o que é russo por séculos", escreveu o internauta Yevgeny Filatov.
Em uma recente manifestação antiguerra, pessoas que assistiam insultaram as milhares de pessoas que marchavam com bandeiras ucranianas e fitas azuis e amarelas.
Entre as ofensas era possível ouvir "traidores nacionais", um termo usado pelo presidente russo Vladimir Putin quando o país anexou a Crimeia em março.
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