Na volta às aulas, França ensina alunos desde o maternal a se esconder em caso de ataque
O início do ano letivo na França, em 1° de setembro, será marcado pelo forte reforço da segurança nos estabelecimentos de ensino. Simulações de atentados, inclusive para alunos do maternal, com o objetivo de ensinar crianças a se esconder ou escapar do local, são algumas das medidas adotadas pelo governo.
"O retorno às aulas será sob forte proteção no clima atual de altíssimo risco de ameaça terrorista", declarou o ministro do Interior, Bernard Cazeneuve.
A proteção nas escolas do país já havia sido reforçada após os atentados de novembro de 2015 em Paris. O recente ataque em Nice, que matou 86 pessoas, e o assassinato de um padre na Normandia, ambos reivindicados pelo grupo autodenominado Estado Islâmico (EI), levaram o governo francês a implementar outras iniciativas.
"Tivemos de adaptar nossas ações para ter um nível de segurança cada vez mais elevado", ressaltou Cazeneuve.
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As escolas francesas são um dos inúmeros alvos do Estado Islâmico. Sua revista de propaganda em francês, Dar-Al-Islam, divulgou, em novembro passado, orientações para combater e matar professores.
A simulação do "atentado-intrusão", como diz o governo, obrigatório em todos os estabelecimentos, levará em conta a idade dos alunos e será adaptado em função disso.
Segundo um guia realizado por autoridades educacionais, crianças com idade entre três e seis anos levariam até cinco minutos para se esconder sem fazer barulho.
Brincadeiras como "jogo do silêncio" ou da "estátua", em que os alunos só podem se mexer após autorização da professora, serão alguns dos métodos utilizados. As crianças no maternal também aprenderão a ligar para a polícia.
No total, três exercícios de segurança deverão ser realizados em cada escola durante o ano letivo.
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O governo divulgou guias práticos sobre segurança para os diretores de estabelecimentos e pais de alunos.
O guia para pais de crianças do maternal e de classes de alfabetização especifica que o termo "atentado-intrusão" é utilizado apenas pelos adultos, ressaltando que não é necessário explicitar as razões da simulação de ataque para crianças com menos de sete anos.
Outra medida implementada, destinada aos adolescentes, é uma formação para primeiros socorros. O objetivo é que a totalidade de alunos na faixa de 14 a 15 anos (mais de 810 mil estudantes) saiba neste ano efetuar procedimentos de emergência, contra apenas 30% atualmente.
Nesta formação, serão abordados gestos de socorro no caso hemorragias, traumatismos ósseos, feridas graves, queimaduras, desmaios e paradas cardíacas, de acordo com o Ministério do Interior.
Policiamento
As medidas têm como objetivo a repetição de uma memória dolorosa para a França.
Em 2012, Mohamed Merah matou, em nome da jihad (guerra religiosa), um professor e três crianças em um ataque contra uma escola judaica em Toulouse, no oeste da França.
Os passeios e viagens escolares permanecem autorizados, mas devem ser comunicados antecipadamente às autoridades de ensino, que poderão decidir, junto com a polícia, o eventual cancelamento da atividade.
O policiamento também será mais ostensivo nas escolas e universidades. Mais de três mil reservistas da polícia militar serão mobilizados para o início do ano letivo.
"Uma atenção particular será dada aos arredores dos estabelecimentos de ensino. A segurança será reforçada com patrulhas móveis", afirma Cazeneuve.
Em Paris e suas periferias, como também nos Alpes Marítimos, cuja principal cidade é Nice, é proibido o estacionamento de veículos nas proximidades de escolas e colégios.
Os diretores de escolas e universidades também poderão contar com cerca de 2,4 mil policiais em delegacias ou batalhões militares, ligados diretamente à segurança na rede de ensino.
O Ministério da Educação anunciou um suplemento de 50 milhões de euros (cerca de R$ 200 milhões) com o objetivo de ajudar as prefeituras a realizar obras necessárias para reforçar a segurança dos estabelecimentos.
Professores e estudantes também estão sendo encorajados pelo governo a denunciar alunos que estariam enveredando pelo caminho da radicalização islâmica.
A iniciativa tem criado controvérsias entre professores e nas redes sociais, pois alguns veem a ação como uma delação.
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