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Como briga de casal quase impediu o sucesso do Dia D na Segunda Guerra

O agente Juan Pujol, que enganou não apenas os nazistas, mas sua esposa, Araceli  - PA
O agente Juan Pujol, que enganou não apenas os nazistas, mas sua esposa, Araceli Imagem: PA

28/09/2016 10h51

Documentos recém-liberados dos arquivos do serviço secreto britânico MI5 indicaram que uma das mais importantes operações militares da Segunda Guerra Mundial quase fracassou devido a uma tensão conjugal.

O desentendimento entre o espião Juan Pujol García, codinome agente Garbo, e sua esposa pôs em risco o desembarque das tropas Aliadas na Normandia francesa, na data conhecida como Dia D (6 de junho de 1944), indicam os arquivos.

Pujol era o agente duplo no centro da estratégia dos Aliados para enganar os inimigos nazistas e convencê-los de que o desembarque ocorreria não na Normandia, mas em Pas-de-Calais.

Só que a esposa, inconformada com as ausências do marido e a vida confinada em Londres imposta por razões de segurança, ameaçou ir à Embaixada espanhola e expor os segredos da operação em junho de 1943.

Como condição para manter o segredo, a esposa, Araceli, disse que queria visitar sua mãe.

Saudades de casa

A família vivia em Harrow, no noroeste de Londres, onde o agente Garbo comandava uma rede de 27 subagentes enviando relatórios falsos de inteligência para seus chefes na Alemanha.

Garbo passou aos nazistas informações falsas sobre uma operação chamada Fortitude, que previa o desembarque das tropas aliadas na França em junho de 1944, e foi ela que confundiu os nazistas em relação à geografia da ofensiva, garantindo a surpresa da estratégia.

Mas toda a operação, que historiadores consideram o início da expulsão do nazismo da Europa ocidental, esteve sob risco porque Araceli tinha dificuldades de lidar com as pressões da dupla vida do casal.

Por temores de que a família fosse reconhecida nas ruas de Londres, o serviço secreto havia imposto restrições à movimentação dela e de suas duas crianças.

Isolada, ela tinha saudades de casa e da comida espanhola, detestava o clima britânico e a dieta racionada dos tempos da guerra, e ficava aborrecida com os períodos longos e frequentes de ausência do marido.

Os arquivos secretos, agora liberados pelo Arquivo Nacional britânico, narram o momento em que Araceli confronta o chefe do marido no serviço secreto.

Operação abafa

"Não quero viver nem cinco minutos mais com meu marido", disse ela, exasperada, segundo narrou o oficial do MI5 Tomás Harris. "Mesmo que me matem, vou para a Embaixada espanhola."

A solução do serviço secreto foi bolar um plano para convencer a esposa a ficar quieta. Foi o próprio Garbo quem sugeriu que os seus chefes contassem a Araceli a versão de que o escândalo levara à prisão dele.

Araceli chegou a ser levada, vendada, para visitá-lo em um campo de detenção.

Foi então que o conselheiro jurídico do MI5, Edward Cussen, disse a Araceli que tinha decidido que seu marido poderia ser solto se continuasse a missão.

Depois do encontro, a esposa saiu convencida da necessidade de apoiar o trabalho secreto do marido.

"Ele (Cussen) recordou-lhe que não tinha tempo para pessoas que lhe criassem problemas", contou Harris, "e disse que, se ouvisse o nome dela novamente, simplesmente ordenaria a sua prisão."

"Ela voltou para casa de rabo entre as pernas para esperar a volta do marido."