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Eleição nos EUA: 4 temas em que Trump e Hillary se assemelham

Mark Ralston/Pool via AP
Imagem: Mark Ralston/Pool via AP

20/10/2016 15h05

A eleição presidencial nos Estados Unidos vem sendo apresentada como uma dicotomia: a disputa de mulher contra homem, democrata contra republicano, discurso político experiente versus língua afiada.

As diferenças entre Hillary Clinton e Donald Trump parecem claras, mesmo antes das polêmicas acusações de assédio sexual contra o empresário americano.

Um abismo separa os candidatos em questões como imigração, aborto, segurança social, economia ou política internacional.

Além disso, ambos marcam posições opondo-se um ao outro.

"Tenho muito melhor juízo do que ela", afirmou Trump em seu primeiro debate com Hillary. "Também tenho muito melhor temperamento do que ela", acrescentou.

"Não concordo com quase tudo o que ele diz ou faz", afirmou Hillary sobre Trump no segundo debate.

Os especialistas concordam que as desavenças são fortes, ao menos em termos pessoais.

"Não é necessariamente a (eleição) mais polarizada no campo ideológico, mas pessoalmente muito forte", diz Bruce Oppenheimer, professor de Ciência Política da Universidade Vanderbilt, nos Estados Unidos, à BBC Mundo, o serviço em espanhol da BBC.

Contudo, tamanha confrontação na esfera pessoal deixou em segundo plano as coincidências entre os dois candidatos sobre questões importantes.

Confira abaixo quatro temas em que propostas de Hillary e Trump são mais parecidas do que distintas.

1) Comércio exterior

Hillary e Trump indicaram que, se eleitos, promoverão políticas comerciais mais restritivas ou menos abertas do que as realizadas durante os oito anos da administração Barack Obama.

Ambos criticam a Parceria Transpacífico, acordo negociado pelo atual presidente americano com 11 outros países, incluindo México, Peru e Chile.

Donald  - Paul J. Richards/AFP - Paul J. Richards/AFP
Imagem: Paul J. Richards/AFP

Além disso, os dois manifestaram interesse em taxar competidores desleais no exterior, referindo-se mais ou menos diretamente à China: segundo Trump, em seu eventual governo, a alíquota do imposto poderia subir para até 45% para mercadorias provenientes do gigante asiático. Hillary não falou em números.

O pano de fundo é o aumento da preocupação de setores da sociedade sobre os efeitos da liberalização do comércio sobre o mercado de trabalho americano.

Trump diz que Hillary mudou de ideia sobre a Parceria Transpacífico para imitá-lo, e lembra que, como secretária de Estado de Obama, havia classificado o tratado como uma de suas principais conquistas comerciais.

Oppenheimer diz acreditar que a mudança de Clinton responde a "circunstâncias eleitorais".

"A dúvida será sobre sua posição uma vez eleita presidente: provavelmente ela irá querer renegociar a parceria antes de declará-la morta."

Mas o especialista lembra que Trump não representa a "posição dominante" no Partido Republicano, tradicionalmente mais inclinado ao livre comércio.

2) Armas e listas de terrorismo

A posse de armas de fogo e a possibilidade de restringi-las é tema de outro debate acalorado entre Trump e Hillary.

Hillary se mostra disposta a aumentar o controle sobre a venda de armas de fogo. Atualmente, por exemplo, é possível adquiri-las pela internet.

Trump, no entanto, rejeita a maioria das restrições propostas para a compra de armas de fogo, lembrando que se trata de um direito previsto e consagrado pela Constituição americana.

Hillary  - Robyn Beck/AFP - Robyn Beck/AFP
Imagem: Robyn Beck/AFP

Por suas posições, o empresário ganhou o apoio da influente National Rifle Association (Associação Nacional de Rifles, ou NRA, na sigla em inglês).

No entanto, apesar das desavenças, Trump e Clinton concordam com a ideia de proibir a venda de armas para pessoas que figuram na lista do governo como impedidas de voar de avião por supostas ligações com o terrorismo.

"Se você é considerado perigoso para voar deve ser considerado perigoso para comprar uma arma", disse Hillary em seu primeiro debate com Trump, em 26 de setembro.

"Concordo com você", acrescentou o empresário, em uma sincronia impressionante.

A declaração acabou valendo-lhe uma crítica dos defensores das armas de fogo, lembrando que as listas são consideradas imprecisas até por organizações de direitos civis.

3) Guerra do Iraque

A polêmica guerra do Iraque teve início em 2003, na gestão do republicano George W. Bush, e continua a ser um dos principais temas de discussão no país.

Trump lembra, sempre que pode, que Hillary, como senadora, votou a favor da resolução do Congresso que, em 2002, autorizou Bush a fazer uso da força no Iraque.

A democrata nega que tenha assinado um "cheque em branco" para Bush ir à guerra ou mesmo apoiado a política do ex-presidente de ataques preventivos.

Mas ela diz não se arrepender de seu voto.

Trump, por outro lado, diz repetidamente ter desaprovado a ida ao Iraque.

As evidências, por outro lado, sugerem o contrário.

No mesmo ano de 2002, o apresentador de rádio Howard Stern perguntou se Trump apoiaria a eventual invasão do Iraque, ao que o empresário respondeu: "Sim, acho que sim."

Hillary citou essa declaração do rival durante o primeiro debate presidencial.

Trump respondeu que seu comentário foi feito "sem pensar muito" e reiterou que, em privado, disse ao apresentador que a guerra desestabilizaria o Oriente Médio, mas não há registro dessa conversa.

Fato é que, após o início da guerra, Trump começou a expressar dúvidas sobre a operação, assim como Hillary.

4) Gastos em infraestrutura

Esse é um dos raros temas em que Hillary e Trump concordam: a ideia de que o governo federal aumente o investimento em infraestrutura, desde estradas a aeroportos e escolas.

Os dois veem o setor como meio de promover um crescimento econômico maior do que os Estados Unidos vêm registrando desde a crise de 2008.

Hillary prometeu enviar ao Congresso um plano de infraestrutura de US$ 275 bilhões (R$ 872 bilhões), financiado em grande parte a partir de uma revisão dos impostos comerciais.

Trump prometeu pelo menos o dobro do investimento, lançando as bases para um plano de reconstrução de até US$ 1 trilhão (R$ 3,17 trilhões). O dinheiro viria de um imposto a ser criado sobre uma nova fonte energética atualmente restrita.

Mas nem todos concordam com os candidatos: segundo Edward Glaeser, professor de economia da Universidade de Harvard, decisões políticas equivocadas podem resultar em desperdício de dinheiro público em locais menos necessitados.