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5 perguntas para entender o cerco de Aleppo, cidade-chave na Guerra da Síria

Em imagem de janeiro de 2016, forças de combate em favor do governo sírio se preparam para utilizar sistema anti-tanque em trincheira na área de Hatabat al-Bab, leste de Aleppo - George Ourfalian/AFP
Em imagem de janeiro de 2016, forças de combate em favor do governo sírio se preparam para utilizar sistema anti-tanque em trincheira na área de Hatabat al-Bab, leste de Aleppo Imagem: George Ourfalian/AFP

13/12/2016 23h09

O embaixador da Rússia na ONU, Vitaly Churkin, anunciou na noite de terça-feira (13) que chegou ao fim a ação militar no leste de Aleppo.

Durante uma reunião de emergência do Conselho de Segurança da ONU, ele afirmou que soldados do governo sírio retomaram o controle das últimas partes da cidade que estavam sob domínio dos rebeldes.

Churkin afirmou ainda que um acordo foi feito para permitir que combatentes rebeldes deixassem Aleppo. Segundo o representante russo, civis poderiam ficar nos bairros retomados.

Os rebeldes confirmaram o acordo, mas disseram que civis também poderiam deixar a região.

Aleppo é um dos principais campos de batalha na guerra entre as forças leais ao presidente Bashar Al-Assad e grupos rebeldes que querem derrubá-lo.

Os novos acontecimentos podem pôr fim a mais de quatro anos de combates pelo controle da cidade, nos quais milhares de pessoas morreram.

A BBC elaborou perguntas e respostas sobre a situação:

1. Qual é a situação nas áreas dominadas por rebeldes?

Antes que o fim das hostilidades fosse anunciado, os rebeldes haviam se retirado para apenas alguns bairros no leste da cidade, que foram cercados pelas forças de Assad.

É difícil saber exatamente quantas pessoas estão nas áreas sitiadas, mas o enviado da ONU Staffan de Mistura estimou cerca de 50 mil.

Segundo Mistura, havia aproximadamente 1.500 combatentes rebeldes - cerca de 30% deles eram parte de um grupo jihadista conhecido como Frente Al-Nusra.

Outras fontes locais dizem que pode haver até 100 mil pessoas na região, muitas delas chegando de áreas retomadas pelo governo recentemente.

Ibrahim abu-Laith, um porta-voz do grupo de resgate voluntário conhecido como "capacetes brancos", afirmou que 90% do equipamento de atendimento deles parou de funcionar e só um posto médico ainda funcionava nas áreas sitiadas. Ele disse ainda que não há mais material de primeiros socorros.

Abu-Laith afirmou também que voluntários estão tirando as pessoas dos escombros deixados pelas batalhas, mas cerca de 70 pessoas estão presas e não podem ser retiradas.

2. O que aconteceu nos bairros tomados pelo governo?

O porta-voz de direitos humanos da ONU, Rupert Colville, afirma que pelo menos 82 civis teriam sido mortos por forças pró-governo desde o início do cerco - destes, 11 seriam mulheres e 13, crianças. Ele diz, no entanto, que o número de mortos pode ser muito maior.

Colville afirmou ainda que houve relatos de muitos corpos nas ruas, com moradores impossibilitados de retirá-los por medo de serem alvejados.

Por sua vez, o conselheiro da ONU para a Síria, Jan Egeland, falou em "massacre de civis desarmados, de homens jovens, de mulheres, de crianças, de funcionários de saúde", afirmando que uma milícia xiita iraquiana pró-governo era responsável pelas mortes.

3. O que isso significa para a guerra civil?

Não há dúvida de que este é um grande golpe para a oposição armada e uma vitória para Assad, que agora controla quase todas as cidades mais populosas do país.

E é também uma grande vitória para os russos, os iranianos, o grupo libanês Hezbollah e algumas milícias xiitas iraquianas, que têm interesses estratégicos na região.

"Aleppo em si pode não importar muito no tabuleiro de xadrez de Moscou, mas a derrota dos rebeldes da oposição na cidade mostra uma mudança importante na sorte do presidente Assad", diz o correspondente de defesa e diplomacia da BBC, Jonathan Marcus,

"Antes da intervenção russa, o poder militar de Assad estava ruindo."

Mas os rebeldes ainda controlam grandes regiões, assim como os jihadistas do grupo autodenominado "Estado Islâmico". Então a guerra na Síria continua.

O editor de Oriente Médio da BBC, Jeremy Bowen, acredita que será um tipo diferente de guerra de agora em diante - com menos rebeldes tentando manter territórios, e com mais ataques rápidos e insurgências.

4. O que diz a comunidade internacional?

O Conselho de Segurança da ONU está em reunião de emergência para discutir a crise em Aleppo.

A embaixadora dos Estados Unidos, Samantha Power, disse aos demais membros que o governo Sírio juntamente com seus aliados Rússia e Irã são responsáveis pela morte de civis.

Representando o Reino Unido, Matthew Rycroft afirmou que a ONU falhou em sua missão de resolver a crise, e que os relatos de atrocidades "evocaram os dias mais sombrios da história das Nações Unidas".

O embaixador russo Churkin negou que violações de direitos humanos estivessem ocorrendo. Horas antes, o porta-voz do Kremlin Dmitry Peskova chegou a afirmar que atrocidades estavam sendo cometidas por "grupos terroristas", referindo-se aos rebeldes.

5. Como Aleppo chegou a este ponto?

Durante a maior parte dos últimos quatro anos, Aleppo esteve dividida em duas, com o governo controlando a metade oeste da cidade e os rebeldes, a metade leste.

Soldados sírios finalmente romperam o impasse com a ajuda de milícias apoiadas pelo Irã e ataques aéreos russos, reestabelecendo um cerco ao leste da cidade no início de setembro e começando um ataque total semanas depois.

Desde novembro, as forças do governo retomaram rapidamente quase todo o leste, deixando os rebeldes à beira da derrota.

Milhares de civis deixaram estes bairros, mas a ONU diz que centenas desapareceram desde que chegaram às áreas controladas pelo governo - e que os rebeldes estão impedindo que alguns deixem as áreas dominadas por eles.

Ao mesmo tempo, muitos dos bairros controlados pelo governo sofrem com a falta de comida e combustível.