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Serviço de inteligência britânico trabalha com risco 'severo' de ataque desde 2014

22/03/2017 16h09

O serviço de inteligência britânico, o MI-5, já trabalhava com o risco "severo" de um ataque desde agosto de 2014.

"Faz tempo que Londres está em estado de alerta severo, o que significa que um ataque terrorista internacional é altamente provável. Acima de severo, há apenas o nível crítico, o que significa que o ataque é eminente", explica o professor de direito Octávio Ferraz, da universidade King's College London.

Por isso, para ele não causa surpresa o ataque que deixou pelo menos quatro pessoas mortas e ao menos 20 feridos nesta quarta-feira ao lado do Parlamento.

Ferraz, contudo, diz ser preciso cautela sobre a motivação do ataque.

"Pode ser um extremista muçulmano, um radical britânico insatisfeito com a demora do Parlamento em definir a saída do Reino Unido da União Europeia ou até alguém com alguma outra motivação pessoal", avalia o professor. "Mas não é algo inesperado."

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Histórico de ataques

Em junho do ano passado, por exemplo, o britânico Thomas Mair, de 53 anos, matou a deputada Jo Cox disparando contra ela e também a esfaqueando.

Segundo a Justiça, ele cometeu o crime aos gritos de "Grã-Bretanha, primeiro!", em um ato de "brutalidade e covardia gratuita". Mair foi condenado à prisão perpétua.

Em 2013, o soldado britânico Lee Rigby foi assassinado em plena luz do dia por dois fundamentalistas islâmicos. Apontados como agressores, os britânicos de origem nigeriana convertidos ao Islã Michael Adebolajo, de 28 anos, e Michael Adebowale, de 22, foram feridos a tiros por policiais no local do crime.

Desde aquele ano, pelo menos 13 ataques em potencial no Reino Unido já haviam sido evitados e cerca de 500 investigações foram conduzidas, conforme noticiou a BBC no início deste mês.

Na semana passada, autoridades conduziram um exercício antiterrorismo no rio Tâmisa para se preparar para o pior cenário, informou Dominic Casciani, correspondente da BBC para assuntos internos.

Ele afirmou, no entanto, que ainda não há elementos suficientes para afirmar que o episódio ocorrido nesta quarta poderia ter sido evitado.

Tiros e mortos

A polícia londrina, que desde o início trata o episódio como "ataque terrorista", informou que um carro atropelou pelo menos 12 pessoas que atravessavam a ponte de Westminster, entre elas três policiais.

O suspeito deixou um veículo e teria avançado em direção ao Parlamento, para então esfaquear um policial. Pouco depois, foram ouvidos disparos.

Quatro pessoas morreram, entre elas o agressor e o policial responsável pela segurança do Parlamento, conforme informou a polícia.

O professor Octávio Ferraz lembra que atualmente a classificação de risco de um ataque internacional no Reino Unido, conforme os alertas do MI-5, é maior que as previsões envolvendo o histórico conflito com a Irlanda do Norte.

Para o professor, saindo ou não da União Europeia, o país permanece sendo um alvo em potencial, assim como outros países da Europa Ocidental.

Segundo o correspondente da BBC, as autoridades devem focar na motivação do ataque.

"A Scotland Yard, o MI-5 e outras agências importantes farão absolutamente tudo na tentativa de estabelecer o pano de fundo que motivou o suspeito - se ele estava trabalhando sozinho ou se poderia haver mais no caminho", diz Casciani.

Ferraz lembra que desde 2000 a legislação antiterrorismo britânica vem sendo modificada e revisada.

"No ano passado, aprovaram uma lei bastante criticada que permite guardar por até um ano comunicações individuais, já aprovaram detenção prolongada de suspeitos de terrorismo e até as universidades são obrigadas a comunicar qualquer suspeita de alunos em processo de radicalização. Isso mostra que ataque terrorista é uma preocupação antiga."