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Ataque à Síria pode sinalizar reviravolta surpreendente em política externa de Trump

07/04/2017 11h26

Há quatro anos, depois de o governo sírio lançar um ataque químico brutal contra seus próprios cidadãos, Donald Trump disse no Twitter que os Estados Unidos não deveriam retaliar com ataques aéreos. "Obama deve se concentrar em nosso país, empregos, saúde e em todos os nossos problemas. Esqueça a Síria e torne a América grande de novo."

Trump baseou sua campanha presidencial nesta mesma retórica, criticando democratas e alguns republicanos pelo que avaliava como uma política externa excessivamente intervencionista.

Há só uma semana, o secretário de Estado americano, Rex Tillerson, parecia seguir essa filosofia ao dizer, em resposta a apelos para que o presidente sírio, Bashar al-Assad, fosse removido do cargo, que isso "seria decidido pelo povo sírio".

Mas na noite de quinta-feira (6), dois dias após um novo ataque com armas químicas, Trump ordenou o lançamento de mísseis contra uma base militar síria. Isso marca uma reviravolta dramática na sua postura e leva a uma revisão das expectativas sobre sua política externa.

Após o ataque à base militar, Trump afirmou ser "vital para a segurança nacional dos Estados Unidos prevenir e impedir o uso e a disseminação de armas químicas letais". Ele ainda pediu que "nações civilizadas" deem fim "ao derramamento de sangue e massacre" da guerra civil na Síria.

O homem que vinha sendo chamado de neoisolacionista agora, alguns meses após o início de seu mandado, está fazendo uso da força militar americana para que sejam cumpridas normas internacionais e punidos abusos contra direitos humanos.

E agora?

O que mudou? Parece claro que as imagens dramáticas das vítimas (do ataque químico) - entre elas, "bebês lindos", nas palavras de Trump - tiveram um grande impacto sobre a visão do presidente americano.

Com algumas exceções, políticos de esquerda e de direita em Washington estão parabenizando o governo por sua ação. Nos próximos dias, no entanto, algumas questões virão à tona.

Se a política internacional de Trump pode mudar tão radicalmente em poucos dias - ou horas -, aliados e adversários devem interpretar isso como sinal de flexibilidade? Ou incoerência?

Um ataque com mísseis é uma operação militar de baixo risco, mas tem eficácia limitada. Um membro da Casa Branca descreveu a operação como um alerta para Assad.

Se o presidente sírio continuar a usar armas químicas ou realizar ataques convencionais que resultem em um número significativo de mortes de civis, os Estados Unidos intensificarão seu intervencionismo militar, ou recuarão, sob o risco de aparentar fraqueza?

Quando Obama contemplou o uso da força contra o governo sírio, decidiu que precisaria da autorização do Congresso. Trump buscará a mesma aprovação de parlamentares que já se demonstraram relutantes em permitir esse tipo de ação?

Esta quinta-feira foi o primeiro desafio relevante para a política externa de Trump e parece ter mudado drasticamente seu ponto de vista, sua retórica e suas ações.

O candidato que constantemente falava em colocar a América em primeiro plano terminou seu breve pronunciamento na noite de quinta pedindo a benção de Deus em nome não apenas de seu país, mas de "todo o mundo".

O ataque - e sua mudança de atitude - pode ser algo do momento. Ou, talvez, estejamos testemunhando o nascimento de um improvável globalista.