A campanha que faz mulheres iranianas desafiarem a lei e tirarem seus véus
Uma campanha recente contra a lei que força mulheres a usarem véus está ganhando enorme repercussão no Irã.
Com a hashtag #whitewednesdays (#quartas-feirasbrancas, na tradução livre), mulheres do país estão postando fotos e vídeos usando véus brancos ou roupas dessa cor como um símbolo de protesto.
A ideia veio de Masih Alinejad, fundadora do "Minha Liberdade Furtiva", um movimento online que se opõe às regras de vestimenta impostas às mulheres do país.
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Antes da Revolução de 1979, que levou ao poder o regime islâmico do aiatolá Khomeini, parte das iranianas usavam roupas ao estilo das ocidentais, incluindo minissaias, tops e blusas de manga curta.
Atualmente, as leis islâmicas em vigor determinam que elas cubram seus cabelos, restringem o uso de maquiagem e obrigam o uso de vestimentas até o joelho, sob o risco de serem multadas ou presas.
Mais de 100 mil mulheres e homens foram às ruas protestar contra essa legislação em 1979, e a oposição às restrições de vestimenta perdura até hoje.
Nos três anos desde que foi fundado o movimento, o "Minha Liberdade Furtiva" recebeu mais de 3 mil fotos e vídeos mostrando mulheres sem véus, com o cabelo à mostra.
Em geral, as fotos postadas nos sites do movimento geralmente são anônimas, para evitar a perseguição das autoridades. Agora, porém, com a hashtag #whitewednesdays, as mulheres têm demonstrado insatisfação em público.
Desafiando a lei
Em cinco semanas de campanha, Alinejad conta ter recebido mais de 200 vídeos, alguns deles com mais de 500 mil visualizações.
"Eu me sinto muito motivada a estar nessa campanha", disse uma das participantes em um vídeo que compartilhou enquanto caminhava pela rua. "Eu quero falar com vocês sobre meu aprisionamento (...). Eles me impõem o hijab (véu islâmico) desde quando tinha 7 anos", diz ela, enquanto vai afrouxando o véu em sua cabeça. "Eu nunca me senti comprometida com isso, nem serei."
Alinejad conta que ficou surpresa com a quantidade de manifestações corajosas das mulheres - algumas enviaram vídeos feitos em lugares públicos, sem o véu cobrindo suas cabeças.
"Quando mencionei (a uma participante) minha preocupação quanto a sua segurança, ela respondeu que preferiria colocar seu emprego em risco do que seguir vivendo nessa opressão que mulheres iranianas vivem há 38 anos."
Alinejad encara o projeto como um "trabalho por amor", que realiza com a ajuda eventual de alguns voluntários.
A maioria das imagens e dos vídeos vêm de dentro do Irã, mas Alinejad conta que já recebeu contribuições da Arábia Saudita (onde os véus também são compulsórios) e até mesmo de lugares mais distantes, como Europa e Estados Unidos.
Uma mulher no Afeganistão escreveu sobre sua admiração pela campanha e pelas mulheres que aderiram a ela, mas disse sentir muito medo de postar uma foto sem o hijab.
Lá, os véus não são obrigatórios por lei, mas muitas meninas e mulheres são forçadas a utilizá-los por suas famílias.
Repercussão
Com a campanha e as ações de seu movimento, Alinejad acredita estar "emancipando mulheres iranianas".
"Mulheres iranianas estão liderando elas próprias essa campanha. Elas não precisam de mim. Precisam só da plataforma, e eu ofereço isso a elas", diz.
Uma participante disse que decidiu correr o risco de ser detida pelas autoridades por acreditar que a campanha possa ter um impacto futuro. "Mesmo que isso me leve à cadeia para dormir com baratas, vale a pena tentar ajudar as próximas gerações",
Alinejad, que vive em exílio nos Estados Unidos, não pisa no Irã desde 2009 e teme ser presa se regressar a seu país natal.
Campanhas anteriores lhe renderam ameaças de morte e críticas a ela e sua família, mas ela diz que manterá a luta pela liberdade de vestimenta.