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Quem são os antifas, grupo que está em pé de guerra com os neonazistas nos EUA

Chip Somodevilla/Getty Images/AFP
Imagem: Chip Somodevilla/Getty Images/AFP

Brenna Cammeron

15/08/2017 19h25

O atropelamento e morte de uma manifestante e a onda de violência do último fim de semana em Charlottesville, no Estado da Virgínia, foram atribuídos a indivíduos supremacistas brancos e neonazistas que protestavam contra o plano de remoção de uma estátua do polêmico general Robert E. Lee, herói dos confederados na Guerra Civil Americana.

E o presidente Donald Trump foi criticado no sábado por não ter condenado diretamente os grupos supremacistas, dizendo que a violência em Charlottesville havia tido "muitos lados".

Nesta segunda-feira, sob intensa pressão política, Trump fez uma crítica mais direta a esses extremistas brancos, dizendo que o "racismo é maldade".

Ao mesmo tempo, grupos conservadores citam a presença de membros do chamado "antifa" - abreviação de antifascismo - nos confrontos do último fim de semana. E criticam a imprensa por supostamente ser leniente com os militantes antifascistas pelo fato de estes lutarem contra os supremacistas e sua ideologia preconceituosa.

A seguir, entenda mais sobre os antifas:

Contra o que eles lutam?

Os antifas declaram oposição a todas as formas de racismo e sexismo, bem como às políticas do governo Trump contra a imigração e a entrada de muçulmanos nos EUA.

Ainda que os antifas sejam classificados por analistas distintos como uma organização de esquerda ou extrema-esquerda, seus integrantes fazem antagonismo à ideologia de extrema-direita, mas não promovem iniciativas que representem a um determinado setor do sistema político.

Diferentemente dos grupos políticos ou partidos tradicionais, os antifas não almeja participar de eleições nem influenciar a aprovação de leis no Congresso.

Com um forte discurso anticapitalista, eles empregam táticas mais similares às de anarquistas do que às da esquerda tradicional.

Nesse sentido, parte dos antifas considera a violência um método válido durante protestos populares, inclusive a destruição de propriedade privada e, em determinados casos, o enfrentamento físico contra seus opositores.

Recentemente, estiveram presentes em manifestações contra o líder de extrema-direita Milo Yiannopoulos, em protestos violentos durante a posse de Trump na Casa Branca e, no último fim de semana, nos incidentes em Charlottesville.

Tão antigos quanto os nazistas

O antifa tem grupos em diferentes países, ainda que, pelo menos aparentemente, os mais ativos estejam nos EUA, no Reino Unido (sob o nome de Anti-Fascist Action) e na Alemanha (Antifaschistische Aktion).

No caso alemão, o movimento foi fundado em 1932 como um grupo de extrema-esquerda de oposição ao nazismo.

No ano seguinte, logo que Adolf Hitler assumiu o controle do Parlamento, o grupo foi desarticulado até o fim da década de 1980, quando se organizou em resposta ao surgimento de grupos neonazistas após a queda do Muro de Berlim.

A eleição de Donald Trump e a ascensão da chamada "direita alternativa" (alt-right) nos EUA parecem ter dado novo impulso aos antifas, que chegaram a criar laços com alguns grupos anarquistas.

Segundo James Anderson, membro do popular site antifascista It's Going Down, o interesse do público pelo portal tem crescido desde a chegada do magnata republicano à Casa Branca.

O número de visitantes ao site passou de 300 ao dia em 2015 para cerca de 15 mil atualmente, diz ele. E, após o ocorrido em Charlottesville, a conta de Twitter do grupo ganhou 2 mil novos seguidores.

"Estamos vivendo um gigantesco ponto de inflexão", afirma Anderson. "Trata-se do poder popular. Este é um movimento aberto que busca integrar uma ampla variedade de gente."

Críticas

Mas se cresceu o interesse pelo movimento, aumentaram também as críticas.

O antifa se converteu em alvo de ataques de grupos conservadores e da extrema-direita. O comentarista da Fox News Erick Erickson, por exemplo, escreveu em seu blog que "os antifas e os supremacistas brancos são duas caras da mesma moeda".

E há poucos dias cerca de 100 mil pessoas assinaram um abaixo-assinado pedindo que Trump classifique os antifas como uma "organização terrorista".

Até o momento não se sabe ao certo quantas pessoas são membros ativos do movimento, já que a maioria se comunica entre si via redes sociais, de forma espontânea.

É provável que, depois do ocorrido em Charlottesville, os antifas continuem sob o radar da imprensa, dos analistas e dos serviços de segurança ao redor do mundo.