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Ex-contador e apostador: quem era Stephen Paddock, apontado como o atirador que matou mais de 50 em Las Vegas

Stephen Paddock tinha 64 anos e se matou quando a polícia se dirigia ao quarto de hotel onde estava - BBC
Stephen Paddock tinha 64 anos e se matou quando a polícia se dirigia ao quarto de hotel onde estava Imagem: BBC

02/10/2017 11h29

Stephen Paddock, o homem apontado pela polícia como autor do mais letal tiroteio da história recente dos Estados Unidos, era um ex-contador e fãs de apostas que desfrutava de uma boa condição de vida e de uma aposentadoria tranquila com sua namorada em uma comunidade quase deserta.

O americano de 64 anos, que havia se divorciado duas vezes, vivia na cidade de Mesquite, no Estado de Nevada, a 130 km de Las Vegas. Ele tinha brevê de piloto para aeronaves pequenas e licença de caça, além de uma ficha criminal totalmente limpa, segundo as autoridades. Em sua casa, havia armas e explosivos, informou a polícia.

Um ex-vizinho de Paddock o descreveu como uma pessoa "estranha", mas seu irmão disse que ele era um cara normal que gostava de jogar pôquer na internet, música ao vivo e burritos. Já o presidente americano, Donald Trump, o chamou de um "homem doente, demente" ao fazer um discurso na Casa Branca após a tragédia.

Stephen Paddock é, segundo a polícia, o atirador responsável por disparar centenas de tiros ao longo de cerca de dez minutos enquanto o cantor de música country Jason Aldean encerrava sua apresentação para mais de 22 mil pessoas presentes em um festival de música em Las Vegas na noite de domingo.

Ele deixou ao menos 58 mortos e mais de 500 feridos, superando o atentado na boate Pulse, em Orlando, na Flórida, que matou 49 pessoas em junho do ano passado.

Paddock estava em um quarto no 32º andar do hotel e cassino Mandalay Bay. Matou-se quando policiais se encaminhavam para prendê-lo. Havia 23 armas com ele.

A polícia ainda busca a razão que o levou a agir desta forma - nenhuma ligação com extremistas internacionais foi identificada. Alguns investigadores sugeriram que o atirador tinha um histórico de doença mental, mas isso não foi confirmado.

'Homem perturbado'

O xerife de Las Vegas, Joseph Lombardo, disse que Paddock estava hospedado no hotel desde o dia 28 de setembro - a última quinta-feira. "Não temos ideia de quais eram suas crenças religiosas. Mas acreditamos que se tratava de alguém que agiu de forma isolada", disse.

Áudios gravados durante o show sugerem que o atirador usou rifles automáticos no ataque. Lombardo descreveu o atirador como um "homem perturbado que pretendia causar fatalidades em massa".

Paddock vivia em uma comunidade para idosos ao nordeste de Las Vegas. Ele morava com uma filipina-australiana chamada Marilou Danley, de 62 anos, que vive em Nevada há 20 anos. Ela estava no Japão no momento do atentado e aparentemente não está envolvida, disse a polícia após interrogá-la para averiguar se a mulher sabia dos planos de Paddock.

A suspeita se deu porque Paddock "usou alguns dos documentos de identidade" de Danley ao fazer check-in no hotel. Eric Paddock, irmão dele, a descreveu como "namorada" do suspeito. Ele afirmou que a família ficou atordoada com o incidente. "Estamos estupefatos. Não entendemos o que aconteceu. Não faz nenhum sentido, não há nenhuma razão para ele ter feito isso."

Seu outro irmão, Bruce Paddock, disse à emissora NBC que seu irmão era um investidor de imóveis multimilionário. Eric Paddock corroborou com isso ao afirmar que Stephen ganhava dinheiro a partir dos apartamentos que havia comprado e gerenciava com a mãe, que mora na Flórida.

"Ele era apenas um cara que jogava pôquer, fazia cruzeiros e comia burritos. Ele mandava biscoitos para a mãe. Ele provavelmente não tinha nem multas por estacionar em lugar errado", disse Eric.

Ex-vizinha de Paddock, Diane McKay, de 79 anos, disse ao jornal americano The Washington Post que ele e sua namorada sempre mantinham as persianas da casa onde viviam fechadas: "Ele era estranho. Era como não viver ao lado de ninguém. Você pode até ser mal-humorado, ou algo do tipo. Ele não era nada, apenas quieto".

Sem conexão com extremismo

O xerife Lombardo disse que, após buscas na casa do atirador, foram encontradas "19 outras armas, alguns explosivos e milhares de balas, além de aparelhos eletrônicos" que estão sendo analisados. Em seu carro, foi achado o composto químico nitratro de amônio, usado em fertilizantes e para fazer bombas.

David Famigiletti, da loja de armas New Frontier Armory, disse à BBC que Stephen Paddock comprou armas de seu estabelecimento em Las Vegas há alguns meses, cumprindo todos os requisitos estaduais e federais, o que inclui uma checagem de seu histórico no FBI.

No entanto, "de acordo com o que vi e ouvi nos vídeos do atentado", afirmou ele, as armas usadas não foram as mesmas compradas ali. A alta velocidade dos disparos indicam que Paddock pode ter modificado suas armas com acessórios considerados legais para fazer com que tivessem um desempenho próximo ao de armas automáticas.

Isso vai ao encontro dos mecanismos achados em seu quarto de hotel, que poderiam ser acoplados às armas para que elas disparassem centenas de tiros por minuto, informou a agência de notícias AFP.

O grupo extremista autodeclarado Estado Islâmico divulgou que Paddock teria se convertido ao islamismo há alguns meses, se referindo a ele como um "soldado do califado" que esses jihadistas afirmam ter criado no norte da Síria e do Iraque, mas o grupo não apresentou provas disso e já fez declarações semelhantes no passado que se provaram falsas.

O perfil de Paddock não bate com os dos apoiadores tradicionalmente associados ao grupo extremista no passado, disse Mina al-Lami, que monitora grupos jihadistas para a BBC. O FBI disse não ter identificado "nenhuma conexão com organizações terroristas internacionais".

Pai 'psicopata'

O irmão do atirador disse à imprensa americana que seu pai era ladrão de bancos e chegou a ter seu nome na lista de mais procurados do FBI. Além disso, teria fugido da prisão.

De acordo com um boletim do FBI de 1969, Patrick Benjamin Paddock foi "diagnosticado como um psicopata, responsável por transportar armas de fogo em roubos a banco" e "teria tendências suicidas, e pode ser considerado muito perigoso quando armado".

Segundo Eric Paddock, seu irmão gostava de frequentar cassinos em Las Vegas para assistir a shows e apostar. A polícia local disse à rede NBC que o suspeito gastou "dezenas de milhares de dólares" em apostas nos últimos dias.

Ainda não está claro se ele ganhou ou perdeu dinheiro - ou se as apostas têm relação com os disparos na noite de domingo. Não há indícios de que o atirador enfrentava problemas financeiros.