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Sentinela: como vive a tribo isolada da Índia que matou um jovem aventureiro americano com flechas

24/11/2018 07h58

Eles rechaçam todo contato com o mundo exterior e são tão isolados que não se sabe que idioma falam ou qual é o tamanho de sua população.

O mistério que ronda a tribo que vive na Ilha Sentinela do Norte é tamanho que não se sabe que língua seus membros falam, nem quantos são.

O que se sabe é que este é um dos últimos agrupamentos no mundo que não mantém contato com outros grupos do lado de fora.

A ilha, parte do arquipélago de Andaman e Nicobar, na Baía de Bengala, no Oceano Índico, fica a mais de mil quilômetros de qualquer porto na Índia continental.

Eles são tão desconhecidos que até mesmo na própria Índia pouco se sabe sobre sua existência, explica Ayeshea Perera, editora do serviço hindi da BBC (seção em hindu do serviço mundial), em Delhi.

"A última vez que eles receberam atenção foi depois do tsunami de 2004, quando o governo indiano precisou investigar se eles sobreviveram ao desastre", diz Perera.

Agora, os moradores da ilha estão de volta aos holofotes depois do tincidente em que o turista americano John Chau foi morto a flechadas. Não está claro se ele foi a Sentinela do Norte para pregar o cristianismo ou para viver uma aventura.

Perigo de extinção

Estima-se que existam entre 50 e 150 pessoas da tribo na ilha, cuja visita é proibida - devido sobretudo ao risco de que os nativos sejam contaminados com doenças de fora.

"Sem imunidade, qualquer vírus pode matar toda a tribo", explica a editora

Andaman abriga cinco tribos classificadas como "particularmente vulneráveis". Além dos sentineleses, estão ali os jarawas, os grandes andamanenses, os onge e os shompen. Os sentineleses e os jarawas não se integraram ao resto da comunidade da ilha.

"Os 'sentinelas' são um dos povos mais primitivos e ameaçados da Terra", disse uma fonte do governo indiano ao jornal Indian Express.

O pouco que se sabe sobre eles é que sua origem está em uma migração originada na África há 60 mil anos, e que hoje eles vivem em uma pequena área de floresta. Trata-se de uma das poucas tribos de caçadores-coletores no mundo.

Os sentineleses também se destacam pelo uso do arco e flecha, item com o qual eles caçam e se defendem - e mostram-se hostis a estrangeiros.

Em 1974, um diretor de cinema que visitou o local recebeu uma flechada em uma perna. Sua equipe tentava filmar um documentário para a National Geographic.

Após o tsunami de 2004, que afetou a bacia do Oceano Índico, autoridades da Índia usaram helicópteros para verificar a situação da tribo e foram recebidas com flechas.

"A resistência deles a todo contato com o mundo exterior tornou impossível alguma aproximação", diz Ayeshea Perera.

No Brasil e em outros países sul-americanos, como o Equador e o Peru, também existem várias tribos isoladas.

Guloseimas

TN Pandit, um antropólogo indiano que estudou as tribos de Andaman nos anos 70, tentou começar a criar um vínculo com os sentineleses oferencendo-os doces como côco, mas a tribo não deixou de lado sua desconfiança.

Segundo Pandit, os índios se juntavam e davam de costas a esta aproximação, que viam como insulto.

"Eles mostraram repetidas vezes que querem ser deixados sozinhos", disse a ONG Survivor International em um comunicado.

Pesquisadores que estudaram as línguas de Andaman indicaram que as características físicas dessa tribo se assemelham às da tribo vizinha Jarawa.

Segundo Shailendra Mohan, professor de línguas austro-asiáticas do Departamento de Linguística da Universidade Deccan, em Pune (cidade na Índia), os sentineleses parecem ser um pouco mais altos que membros de tribos próximas.

Mohan fez parte de dois grupos internacionais que estudaram línguas tribais na região entre 2001 e 2002.

A equipe conseguiu interagir com os jarawas, os grande andamanenses e os onges, mas não foi capaz de mapear quais conexões existem entre estas e os sentinelenses.

"Embora essas tribos vivam próximas, nenhuma relatou ter qualquer ideia da existência dos vizinhos sentinelas", disse Mohan ao portal Livemint.

Ele concluiu que os grupos "são geneticamente diferentes".

A maior parte das tribos atuais desenvolve algum tipo de atividade agrícola.

"Os sentinelas são importantes porque são um povo puro, não misto, que ainda caça e coleta", diz o pesquisador.

Turismo tribal

O que se sabe e o - tanto - que não se sabe sobre esta tribo faz dela uma fonte de intriga para muitos dos 500 mil turistas que visitam as ilhas de Andaman e Nicobar todos os anos, de acordo com o serviço hindi da BBC.

Há turistas que viajam para visitar os jarawas - para isso, é preciso pegar um ônibus de Port Blar, a capital de Andaman, e cruzar uma grande reserva florestal.

Para chegar a Sentinela do Norte, porém, não existe rota direta e a área é protegida pela Guarda Costeira e pelo Departamento Florestal da Índia.

Às vezes, barcos com turistas passam perto da ilha, mas costumam ser seguidos pela Guarda Costeira e não fazem paradas, segundo disse à BBC Manish Chandi, da Equipe Ambiental de Andaman e Nicobar.

De acordo com o Departamento de Bem-Estar Tribal, há patrulhas constantes na região para evitar esse contato - mas, devido ao tamanho da área, "existe a possibilidade de que algum contraventor entre".

A morte do turista John Chau está sendo considerada pelas autoridades como um "lapso" na segurança.

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