Huawei: como é a vida da milionária dinastia dona da gigante chinesa da tecnologia
Perfil discreto da família caiu por terra depois de uma série de denúncias, envolvendo agências internacionais de espionagem, suspeita de roubo de tecnologia e de acordos secretos com o Irã.
Apesar de ser uma das famílias mais ricas da China, os donos da gigante de tecnologia Huawei passavam despercebidos até pouco tempo atrás.
Porém, desde a prisão no Canadá de Meng Wanzhou, diretora financeira da companhia e filha do presidente da empresa, Ren Zhengfei, em dezembro de 2018, o clã tem ganhado as manchetes dos jornais.
A gigante chinesa é alvo de uma série de denúncias, envolvendo agências internacionais de espionagem, suspeita de roubo de tecnologia e de acordos secretos com o Irã.
No front comercial, a Huawei está no centro da guerra de tarifas entre EUA e China: neste mês de maio, o governo americano incluiu-a em uma lista de empresas que não podem comercializar com companhias americanas, a não ser que tenham uma licença especial. Outras empresas ocidentais - desde o Google até companhias telefônicas da União Europeia - também impuseram restrições a Huawei, sob pressão das determinações americanas.
Em resposta, Ren Zhengfei afirmou, segundo relatos da imprensa estatal chinesa, que "as práticas atuais dos políticos americanos subestimam a nossa força".
Em outra rara entrevista, Ren afirmou à BBC News, em fevereiro, que "não há a menor possibilidade de os Estados Unidos destruírem" a gigante de tecnologia chinesa.
Os EUA acusam a Huawei e Meng Wanzhou de lavagem de dinheiro, fraude bancária e roubo de segredos tecnológicos. A Huawei nega ter cometido irregularidades.
Segundo Ren Zhengfei, sua empresa de tecnologia chinesa é "mais avançada" e, por isso, não tem como ser seriamente afetada ainda que os EUA convençam "mais países" a não comprarem produtos da companhia. "Sempre podemos reduzir um pouco nossa operação", disse, agregando que buscaria novos mercados para seus produtos.
"Se as luzes se apagarem no Ocidente, as do Oriente se acenderão. Se as do Norte se apagarem, ainda há as do Sul. Os Estados Unidos não representam o mundo. Os Estados Unidos representam uma parcela do mundo."
Ao mesmo tempo, a discrição dos membros mais antigos da dinastia contrasta com a exposição dos mais jovens nas redes sociais. E isso permite conhecer alguns detalhes da vida luxuosa deste clã, liderado por Ren Zhengei e seus três filhos.
O passado militar do patriarca
Ren Zhengfei, o patriarca da família, completou 74 anos em outubro. De origem humilde, hoje ele ocupa o posto de 83ª pessoa mais rica da China (tem um patrimônio de U$ 3,2 bilhões (ou R$ 12,3 bilhões).
Segundo sua biografia oficial, ele nasceu no seio de uma família rural. Ren teve oportunidade de estudar e, com 19 anos, entrou no Instituto de Engenharia Civil e Arquitetura de Chongquing - entrar em uma universidade tão renomada fez muitos questionarem se ele de fato tem uma origem pobre.
"Nós tínhamos sal para cozinhar, por isso alguns consideram que éramos ricos", disse ele, em contraponto às críticas, em entrevista à BBC em 2015.
Há dois anos, Ren voltou a aparecer publicamente, mas em situações não tão frequentes entre milionários: uma imagem sua esperando um táxi no aeroporto de Xangai, por exemplo, tornou-se viral nas redes sociais.
Sua entrevista à BBC foi uma das poucas ocasiões em que falou com um órgão de imprensa. Essa discrição contribuiu para que sua vida ficasse coberta de mistério.
De sua vida profissional, o que se sabe é que durante quase uma década ele trabalhou em diversos cargos técnicos como engenheiro do Exército chinês, algo que ele diz ter acontecido por "mera casualidade".
Em suas entrevistas à BBC, ele negou que sua empresa tenha recebido pedidos para realizar tarefas de espionagem.
"Não há uma maneira de entrarmos em sistemas de outras pessoas, e nunca recebemos solicitações desse tipo do governo chinês", disse.
Mas quando a jornalista da BBC Linda Yueh pediu que ele confirmasse que ele e sua empresa não tinham vínculos com o governo chinês ou com o exército, Ren afirmou apoiar o Partido Comunista Chinês e que seu grupo é leal ao seu país. Porém, disse que não permite que esse sentimento afete a segurança ou os interesses de outros países.
A carreira da filha mais velha
Ren se casou três vezes. Sua atual esposa, Su Wei, é muitos anos mais nova que ele e já foi sua secretária, segundo o jornal South China Morning Post.
Com Meng Jun, sua primeira esposa, ele teve dois filhos no início dos anos 1970: Meng Wanzhou e Meng Ping.
Ambos adotaram sobrenomes da mãe para evitar "atenção inesperada", segundo jornais da China.
Meng Wanzhou, que tem 46 anos e também é conhecida como Sabrina ou Cathy Meng, começou sua carreira como recepcionista antes de se tornar diretora financeira da Huawei.
Como seu pai, Meng também tentou manter um perfil discreto (na verdade, muitos até se surpreenderam ao saber que eles são pai e filha). A discrição caiu por terra com a divulgação internacional de sua prisão no Canadá.
Graças aos documentos do tribunal canadense que julga seu caso, vieram à tona detalhes sobre sua vida privada.
Meng, que tem quatro filhos e foi casada duas vezes, disse ter vivido no Canadá até 2009, quando regressou à China. No entanto, disse que voltava ao Canadá constantemente.
Isso explica algumas de suas propriedades no Canadá, como uma casa de seis quartos avaliada em U$ 4,2 milhões (R$ 16 milhões) e outra grande mansão de U$ 12,2 milhões (R$ 46 milhões).
Por outro lado, seus advogados falaram de seus problemas de saúde. Meng teve câncer na tireoide, tem hipertensão e distúrbios de sono. Além disso, precisa tomar doses diárias de medicamentos, segundo os defensores.
Paixão pela moda
Do segundo filho do guru da Huawei, Meng Ping (também conhecido como Ren), pouco de sabe além de que ele também trabalha na empresa do pai. Segundo reportagem do jornal The New York Times de 2013, Ping tem pouco interesse em suceder o pai no comando da empresa.
Pouco depois de fundar a Huawei, Ren se divorciou para se casar com sua segunda esposa, Yao Ling, com quem teve sua segunda filha, Annabel Yao, que hoje tem 20 anos de idade.
Estudante de informática na prestigiosa Universidade de Harvard e integrante de uma companhia de balé, a mais jovem membro da dinastia tem uma vida com pouco a ver com a discrição que caracteriza os membros mais velhos.
Pelo menos é o que suas redes sociais demonstram. Ela costuma publicar imagens de luxo e glamour - também mostra sua paixão por balé, moda e viagens.
Poucos dias antes de sua irmã Meng Wahzhou ser presa, por exemplo, Yao era uma das protagonistas de Le Bal em Paris, um dos "bailes de debutantes" mais exclusivos para as jovens aristocráticas ou de famílias ricas do mundo todo.
Já participaram deste evento, que tradicionalmente servia para apresentar as jovens para a sociedade quando elas atingiam a maturidade, filhas de personalidade como o ex-primeiro-ministro italiano Silvio Berlusconi ou o ex-presidente da Nissan, o brasileiro-libanês Carlos Ghosn.
Por ocasião desta festa, Yao conseguiu algo sem precedentes: que seus pais posassem ao lado dela na luxuosa mansão da família em Shenzen, na China, para uma entrevista para a revista francesa Paris Match.
Uma das imagens mostra alguns aspectos da propriedade, como estátuas de mármores, tapetes orientais e uma sala de estar que reproduz a recepção do Grand Hotel de Paris. A revista descreveu a mansão como "um palácio" gigantesco - sete hectares apenas de jardins.
Na entrevista, Yao diz que pratica piano, caligrafia e pintura chinesa.
"Eu realmente queria uma oportunidade para sentir que cresci e saí para o mundo", disse ele à revista Vogue sobre sua dança de debutante.
"É hora de trabalhar ainda mais para eu não ser apenas uma modelo para outras meninas, mas alguém que conseguiu alcançar seus objetivos", disse.
Fiel ao seu estilo, seu pai não deu qualquer declaração à revista Paris Match.
"Não sou nada misterioso. Não sei nada sobre tecnologia ou finanças. Se você não sabe muito sobre as coisas, é melhor ficar quieto ou as pessoas verão que você é um farsante. Mas não mantenho esse perfil discreto de propósito", disse ele à BBC, em 2015.
*Texto publicado em 13 de dezembro de 2018 e atualizado em 22 de maio de 2019.
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