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Brexit: Reino Unido pede à UE nova prorrogação até 30 de junho

O presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, deve propor uma extensão de 12 meses para o Brexit, com a opção de abreviar este prazo - Reuters
O presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, deve propor uma extensão de 12 meses para o Brexit, com a opção de abreviar este prazo Imagem: Reuters

05/04/2019 16h08

O pedido deve ser recusado por líderes do bloco, segundo apurou a BBC, e a premiê Theresa May receberá uma contraproposta de extensão do prazo em 12 meses, com a opção de saída antecipada caso o Parlamento britânico aprove um acordo.

A primeira-ministra Theresa May escreveu à União Europeia para pedir uma nova extensão de prazo para o Brexit, como é chamada a saída do Reino Unido da União Europeia (UE). A premiê deseja que a nova data-limite seja 30 de junho.

O Brexit está marcado para 12 de abril, mas o acordo negociado entre o governo britânico e o bloco não foi aprovado pelo Parlamento até agora.

May propôs que, se os parlamentares britânicos aprovarem um acordo a tempo, o Reino Unido saia do bloco antes das eleições para o Parlamento Europeu, que terão início em 23 de maio. Mas ela afirmou que o país se preparará para participar dessas eleições caso nenhum acordo seja aprovado até lá.

Cabe à UE conceder ou negar a prorrogação do prazo, depois de os parlamentares britânicos rejeitarem três vezes o acordo negociado entre o bloco e o Reino Unido.

A editora da BBC na Europa, Katya Adler, foi informada por uma fonte na UE de que o presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, proporá uma extensão "flexível" de 12 meses para o Brexit, com a opção de abreviar este prazo.

A maioria dos líderes da UE está inclinada a conceder este adiamento mais longo, segundo Adler, para evitar repetidos pedidos de extensões mais curtas por parte de Londres.

Mas o governo francês disse na sexta-feira que é "prematuro" cogitar outro adiamento, enquanto fontes diplomáticas francesas descreveram a sugestão de Tusk como um "balão de ensaio grosseiro".

Em 10 de abril, será realizada uma cúpula da UE para que líderes do bloco avaliem qualquer plano de adiar a saída do Reino Unido. Um pedido britânico terá de ser aceito unanimente por todos os outros 27 países-membros da UE.

Originalmente, o Brexit ocorreria em 29 de março, mas May já havia pedido que fosse concedido um novo prazo. O pedido foi rejeitado em uma cúpula no mês passado.

Em vez disso, ela recebeu uma contraproposta: um adiamento até 12 de abril - quando o Reino Unido deverá dizer se pretende participar das eleições parlamentares europeias - ou até 22 de maio, caso o Parlamento britânico aprovasse o acordo negociado com a UE até a sexta-feira da semana passada. Mas, neste dia, o Parlamento reprovou os termos negociados por May pela terceira vez.

Um porta-voz do governo disse que as "circunstâncias são diferentes agora" e que a primeira-ministra "já deixou claro que ela está buscando um pequeno adiamento".

Adiamento 'será o último'

Em sua carta, May afirmou que continuará a buscar uma "rápida aprovação" do acordo no Parlamento e uma "visão compartilhada" para o futuro relacionamento entre o Reino Unido e a UE.

Ela disse que, se as negociações com o Partido Trabalhista não puderem estabelecer "uma única abordagem unificada" no Parlamento, os deputados serão convidados a votar em uma série de opções para o Brexit, que o governo "estará disposto a cumprir", se os trabalhistas se comprometerem a fazer o mesmo.

O Reino Unido "aceita a opinião do Conselho Europeu de que, se o Reino Unido ainda for um Estado membro da União Europeia em 23 de maio de 2019, será obrigado legalmente a realizar as eleições (para o Parlamento Europeu)", escreveu May. Ela disse ainda que o Reino Unido está "realizando os preparativos ??para essa contingência".

Mas ela sugere que o Reino Unido possa sair antecipadamente e cancelar os preparativos para as eleições europeias.

O negociador-chefe da UE para o Brexit, Michel Barnier, disse em uma reunião de embaixadores do bloco em Bruxelas que qualquer extensão concedida deve ser a última, para manter a credibilidade da UE.

Mas por que 30 de junho?

A data de 30 de junho é significativa. Será o dia anterior à primeira sessão do novo Parlamento Europeu.

Isso daria ao Reino Unido um pouco mais de tempo para aprovar um acordo, mas sem que os representantes britânicos tivessem de assumir cargos em um Parlamento do qual o povo do Reino Unido não quer mais participar, como determinou o resultado do plebiscito de 2016.

No entanto, May já fez essa proposta antes, e ela foi recusada. É provável que o mesmo ocorra desta vez, diz o correspondente Iain Watson, da BBC News, e que seja oferecido um prazo mais longo com a possibilidade de encurtá-lo se um acordo for aprovado.

"Mas, ao pedir uma extensão relativamente curta, mesmo que não tenha sucesso, a primeira-ministra espera escapar da ira de alguns de seus apoiadores no Brexit, que estão ansiosos para sair do bloco", afirma Watson.

"E ela tentará sinalizar aos eleitores que sua escolha é sair da União Europeia o mais rapidamente possível - e que um prazo mais longo será algo que ela será forçada a aceitar, não por vontade própria."

Negociações continuam

As conversas entre trabalhistas e conservadores continuam nesta sexta-feira. O líder trabalhista, Jeremy Corbyn, disse que o governo "parece não ter mudado muito de opinião até agora" e afirmou que seu partido pressionaria para manter uma "relação de mercado com a Europa".

O secretário de Relações Exteriores do Reino Unido, Jeremy Hunt, disse que o país ainda espera sair do bloco "nos próximos meses", mas pode ter "poucas escolhas" além de aceitar um prazo maior se o Parlamento britânico não conseguir chegar a uma solução.

Mas o parlamentar conservador Jacob Rees-Mogg, que é a favor do Brexit, disse que a UE "deve ter cuidado com o que deseja". Ele afirmou em entrevista à rádio BBC Radio 4 que, se houver eleições para o Parlamento Europeu, é provável que partidos e políticos à direita do atual governo "obtenham bons resultados".

Outro conservador, o parlamentar Bernard Jenkin, disse que prefere ficar na UE por mais um ano em vez de aceitar uma "derrota humilhante" do acordo negociado pelo governo de seu partido.

Stephen Gethins, do Partido Nacional Escocês, disse que a proposta de May "demonstra, sem sombra de dúvida, que ela está colocando os interesses de seu partido dividido acima de tudo".

"É claro que, com o Parlamento do Reino Unido incapaz de chegar a um consenso, juntamente com tudo o que sabemos sobre o impacto negativo que o Brexit terá sobre a economia, empregos e padrões de vida do Reino Unido, agora deve ser uma prioridade levar a questão de volta ao povo, com um novo plebiscito, com a opção de permanecer no bloco presente na cédula de votação", acrescentou.