Quem era Mohammed Mursi, ex-presidente do Egito que morreu após audiência em tribunal
O ex-presidente do Egito Mohammed Mursi, que foi deposto pelo exército em 2013, morreu depois de desmaiar em um tribunal, segundo a TV estatal.
Ex-líder da Irmandade Muçulmana, movimento hoje banido no país, Mursi estava no tribunal para audiência de um processo em que era acusado de espionagem. Ele tinha 67 anos.
Mursi foi derrubado do poder após protestos em massa um ano depois de ter assumido o cargo de primeiro líder democraticamente eleito do país --ele foi escolhido nas urnas após a queda da ditadura de Hosni Mubarak, que ficou 30 anos no poder.
Mursi estava preso desde a queda de seu governo.
Após a sua deposição do poder, as autoridades egípcias reprimiram fortemente seus apoiadores e a Irmandade Muçulmana.
Quatro meses depois de ter sido derrubado, Mursi foi a julgamento ao lado de 14 pessoas da Irmandade, sob a acusação de incitar seus partidários a assassinar um jornalista e dois manifestantes da oposição, além ordenar a tortura e detenção ilegal de outras pessoas.
Na primeira audiência, o ex-presidente gritou do banco dos réus que foi vítima de um golpe militar e rejeitou a autoridade dos tribunais para julgá-lo.
A audiência de hoje, no Cairo, capital do país, ocorria por causa de acusações de espionagem que emanam de contatos suspeitos de Mursi com o grupo islâmico palestino Hamas, segundo a televisão estatal.
A acusação era de que o ex-líder e outros altos membros da Irmandade orquestraram uma fuga em massa de detentos em 2011 com o apoio dos grupos islâmicos Hamas e Hezbollah. O episódio foi parte da Primavera Árabe egípcia, que culminou com a queda de Mubarak.
Da engenharia ao poder
Mursi nasceu em 1951 na vila de El-Adwah no delta do rio Nilo, província de Sharquiya. Ele estudou engenharia na Universidade do Cairo em 1970. Depois, mudou-se para os Estados Unidos para completar um PhD.
Depois de voltar ao Egito, tornou-se chefe do Departamento de Engenharia da Universidade Zagazig.
Em 2012, ele foi escolhido como candidato presidencial da Irmandade Muçulmana, após a queda de Mubarak. Depois de uma vitória apertada, ele prometeu liderar um governo "para todos os egípcios".
Mas os críticos reclamaram que ele não conseguiu cumprir suas promessas de governo durante seu turbulento ano no cargo.
Ele foi acusado de permitir que muçulmanos controlassem o cenário político e gerissem mal a economia do país.
A oposição a sua gestão cresceu e milhões de manifestantes antigoverno tomaram as ruas em todo o Egito para marcar o primeiro aniversário do dia em que ele assumiu o cargo, em 30 de junho de 2013.
Essa oposição começou a ser construída meses antes, em novembro de 2012, quando, planejando garantir que a Assembleia Constituinte dominada por islâmicos pudesse concluir a redação de uma nova Constituição, o presidente emitiu um decreto concedendo amplos poderes a si mesmo.
Em meio à crescente agitação, Mursi assinou um novo decreto autorizando as forças armadas a proteger instituições nacionais e locais de votação até que um referendo sobre a Constituição fosse realizado em 15 de dezembro de 2012.
Oposicionistas afirmaram que o decreto era uma espécie de estado de exceção --e confrontos entre governistas e manifestantes deixaram 50 mortos.
'Golpe'
Os militares advertiram Mursi que haveria uma intervenção se ele não cumprisse as exigências dos manifestantes em 48 horas.
Na noite de 3 de julho, o exército suspendeu a Constituição e anunciou a formação de um governo interino antes das novas eleições presidenciais. Mursi, que denunciou o movimento militar como um golpe, foi preso.
Sua detenção foi ordenada pelo então chefe das forças armadas, e agora presidente, Abdul Fattah al-Sisi. Mursi foi levado pelo exército para um local não revelado --durante semanas, não se sabia nada sobre sua situação.
Seus partidários tomaram as ruas do Cairo, exigindo sua libertação e retorno imediato ao poder. O exército, então, reprimiu fortemente um protesto e prendeu figuras-chave da Irmandade Muçulmana.
Quase mil pessoas foram mortas durante a repressão às manifestações, e as autoridades interinas do país disseram que as ações faziam parte de uma "luta contra o terrorismo".
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.