Ataques fatais de ursos geram medo e polêmica sobre caçadas na Romênia
Uma onda de ataques de ursos-pardos na Romênia está criando temores de que a população do animal cresceu e esteja fora de controle no país. Em pouco mais de um mês, três homens foram mortos por ursos — dois deles na região da Transilvânia.
O urso-pardo é o maior carnívoro sob proteção na Europa, e a Romênia é o país com maior número de ursos-pardos do continente. Há cerca de 6 mil ursos vivendo no país e ocorrências envolvendo os animais estão se tornando cada vez mais comuns.
"A população de ursos cresceu e precisa ser reduzida", diz o guarda florestal Karoly Pal. O temor levou alguns políticos a promoverem quase que uma "guerra" aos ursos.
Neste mês, um pastor de 63 anos foi morto por um urso nos limites de uma floresta no condado de Mures, na região central da Transilvânia. No mês passado, um pescador de 61 anos foi morto no mesmo condado e outro homem, de 46 anos, foi morto no condado de Bacau, que fica mais ao leste do país.
Esses casos elevam a seis o número de mortes por ataques de ursos neste ano no país, além dos diversos ataques não fatais que também foram registrados.
É um número muito acima da média no país. Comparativamente, em 15 anos, de 2000 a 2015, onze pessoas haviam sido mortais por ursos na Romênia.
Karoly Pal tem uma pequena fazenda em Neaua, uma vila onde se fala húngaro, na região mais afastada da Transilvânia.
"A todos os lugares onde vou nesta região as pessoas estão dizendo que há ursos demais, que você não consegue mais plantar nada. As pessoas estão sendo obrigadas a abandonar a agricultura e suas terras, e estão com medo de sair de sua vilas", diz Pal.
Aumento de acidentes
Ursos já destruíram plantações de fazendeiros, danificaram carros, mataram rebanhos e causaram de acidentes de trânsito.
No sábado, um grande urso macho foi atingido por um carro. As autoridades demoraram 19 horas para sacrificá-lo.
O urso teve três membros quebrados e ficou deitado agonizando na estrada, com a polícia ao lado e pessoas passando, o que gerou revolta de muitas pessoas.
O primeiro-ministro, Ludovic Orban, disse que as autoridades falharam em cumprir seu dever, e que demorou mais de 15 horas para o Ministro do Meio Ambiente receber o pedido para sacrificar o urso. O animal morreu só no domingo à tarde.
Desde então, outros dois ursos foram atingidos por carros.
Ursos pardos podem cobrir grandes distâncias em busca de alimento, já que consomem até 20 mil calorias por dias, nos meses mais quentes, para engordar para o inverno.
Com a redução de seu habitat natural, ficar longe de cidades, plantações, rebanhos e rodovias tem sido um desafio para os animais.
"Em uma só noite na semana passada contei 22 ursos nesta área", diz Karoly Pal, caminhando em uma estrada de terra entre duas cidades de sua região.
Volta da caça?
Muitos acreditam que o aumento na população de ursos se deve à proibição da caça esportiva, introduzida em 2016.
Mas os números oficiais podem estar errados, dizem especialistas. Eles dizem que estimativas populacionais de animais são feitas por órgãos de monitoramento de vida selvagem que usam "métodos ultrapassados" e com a possível influência de outros interesses.
"Desde a proibição, há uma pressão de caçadores e guardas florestais para relatar o máximo de danos (causados por ursos) possível", diz o especialista em ursos Csaba Domokos, da ONG de preservação ambiental Milvus Group.
Domokos teme que, sem um programa de gerenciamento da vida selvagem, as pessoas começarão a agir por si mesmas.
"A preocupação é que as pessoas comecem a usar venenos e armadilhas", diz ele. Isso teria um efeito catastrófico na população de ursos.
De fato, o assunto "ursos problemáticos" tem tido grande destaque na mídia local.
O membro do Parlamento Marius Pascan disse que o condado de Mures está "sitiado" por ursos.
"Precisamos agir antes que mais pessoas sejam mortas", disse ele nas redes sociais na semana passada, quando uma mãe ursa e dois filhotes foram fotografados caminhando em uma rua residencial.
Ele disse que "defensores de urso" estavam sendo irresponsáveis e "crianças poderiam ser feridas no caminho para escola".
Deputados romenos aprovaram uma lei em setembro que permite a caça de ursos-pardos por um período de cinco anos. Ambientalistas já reuniram mais de 100 mil assinaturas em em abaixo-assinado contra a lei.
'Situação está pior do que nunca'
Em um dia chuvosos de novembro, em Ghinesti, na zona rural do país, o pastor Janos Szabo, de 69 anos, observa seu rebanho de ovelhas, como fez nos últimos 42 anos.
"Temos um grande problema com ursos, eles mataram quatro de minhas ovelhas neste ano", diz ele, tomando um brandy caseiro ao lado de seus 15 cães pastores.
"Todos os pastores têm problemas com ursos. A situação está pior do que nunca."
Depois de um longo período de engorda, alguns dos ursos romenos iniciarão sua hibernação de inverno, o que pode ajudar a reduzir tensões."
O ambientalista Csaba Domokos diz que a convivência com os ursos está se tornando muito difícil.
"Se não houver aceitação social, a espécie não tem futuro na Romênia", diz ele.
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