No Japão, coronavírus impulsiona venda de máscaras e faz comerciante 'proibir entrada' de chineses
País deve sentir impacto no turismo pela diminuição na vinda de chineses, ao mesmo tempo em que teme-se que epidemia alimente xenofobia.
As máscaras cirúrgicas do Japão se tornaram um presente popular e um termômetro da preocupação com o novo tipo de coronavírus que já matou 26 pessoas e infectou mais de 800 pacientes na China. Não há vacina para o novo tipo de vírus que provoca pneumonia e sintomas como febre, tosse e dificuldade em respirar.
Com o crescente número de casos, muitos chineses e japoneses resolveram acatar as recomendações de autoridades médicas, adotando máscaras para cobrir a boca e o nariz ao tossir e espirrar, além de gargarejo e desinfecção das mãos. A adesão às medidas preventivas obrigou a maior fabricante de máscaras cirúrgicas do Japão, a Unicharm, a trabalhar 24 horas por dia para atender a demanda. Um dia após a confirmação do primeiro caso de infecção no Japão, a empresa recebeu dez vezes mais pedidos do que o normal nas farmácias.
O medo de ocorrer surto do coronavírus no Japão levou o dono de uma confeitaria em Hakone (província de Kanagawa) a usar uma aplicativo de tradução e afixar um cartaz manuscrito a tinta vermelha e em chinês com o aviso, em chinês: "Proibida a entrada de chineses. Não quero que espalhem o vírus".
O proprietário recebeu muitas críticas da comunidade chinesa após a exposição do caso em redes sociais. Ao jornal Asahi, ele afirmou que pretendia reescrever o cartaz para deixar claro que queria se proteger do vírus, mas evitando ofensas a chineses. No entanto, o episódio foi visto como xenófobo por críticos.
Desde maio de 2016, existe uma lei que visa acabar com o discurso do ódio, manifestações xenófobas e publicações na internet que estimulam a aversão contra estrangeiros. Porém, o texto em vigor não prevê punição, apenas solicita às autoridades e à sociedade que combatam esse tipo de comportamento.
Em consequência, o proprietário da confeitaria de Hakone não será punido. Ele poderá, no máximo, receber recomendações das autoridades para não fazer mais isso. E mais críticas pelas redes sociais.
Epicentro
O surto do coronavírus tem seu epicentro em Wuhan, uma megalópole de 11 milhões de habitantes localizada na província de Hubei, centro da China. Os primeiros casos apareceram em meados de dezembro. Em três semanas, o coronavírus chegou à Tailândia, Coreia do Sul, Taiwan, Vietnã, Cingapura e Estados Unidos, Macau e Hong Kong.
No Japão, o primeiro paciente confirmado positivo é um homem na faixa dos 30 anos que tinha viajado a Wuhan no final do ano.
O governo japonês tem pedido às pessoas para evitar viagens desnecessárias à cidade chinesa, ao mesmo tempo que coleta informações sobre a doença para repassar aos japoneses que moram na China.
Quarentena e turismo
Wuhan e as vizinhas Huanggang e Ezhou estão isoladas, em uma espécie de quarentena e com o serviço de transporte público suspenso. Autoridades pediram à população que não deixem a cidade, a não ser em circunstâncias especiais.
A chegada do Ano Novo Lunar chinês aumentou a preocupação no Japão, pois visitar parentes no aguardado feriado que vai de 25 a 30 de janeiro costuma ser um forte argumento para sair de casa.
O Japão é um dos principais destinos dos chineses neste período do ano, segundo o Instituto de Pesquisa de Turismo da China (COTRI). Em média, mais de 1 milhão deles costumam viajar para cidades como Kyoto e Tóquio, a passeio e compras, durante o feriado de Ano Novo.
O impacto desses turistas na economia local é significativo. Dados do governo japonês revelam que no ano de 2018, o Japão recebeu cerca de 8,4 milhões de visitantes chineses que consumiram o equivalente a US$ 13 bilhões.
Se fazer compras em farmácias já era comum, com o surto de coronavírus agora será roteiro obrigatório para adquirir termômetros e muitas máscaras cirúrgicas japonesas.
Na quinta-feira (23/1), durante sessão no Parlamento japonês, o primeiro-ministro Shinzo Abe disse que o governo pedirá às companhias aéreas que nos voos da China façam anúncio solicitando aos passageiros que notifiquem a tripulação caso se sintam mal.
Por semana, há mil voos ligando Japão e China. A companhia aérea ANA (All Nippon Airways) decidiu cancelar os voos de Narita à cidade de Wuhan e anunciou que a retomada das operações prevista para sábado vai depender do cenário.
Há várias medidas preventivas sendo adotadas. Em alguns voos da companhia aérea Spring Airlines Japan, comissários de bordo começaram a distribuir máscaras cirúrgicas aos passageiros desde quarta-feira.
No aeroporto de Kumamoto, sul do Japão, em várias partes foram afixados cartazes do Ministério da Saúde alertando para a propagação do coronavírus. Embora não haja voos diretos ligando a região à China, há o temor que pessoas infectadas embarquem em outros aeroportos conectados com Kumamoto, como Taiwan e Hong Kong. E como nas demais regiões, nas lojas de lá também as vendas de máscaras cirúrgicas têm crescido.
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