Os principais momentos da CPMI das Fake News, que ampliou racha na base de Bolsonaro
Comissão, que investiga uso de perfis falsos e ataques virtuais com fins políticos, acirrou conflito que dividiu o PSL e que levou Bolsonaro a tentar criar novo partido.
Criada em setembro de 2019, a Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) das Fake News agravou o racha na base original do presidente Jair Bolsonaro no Congresso.
Até 13 de abril, a comissão deve encerrar suas atividades, que resultarão em um relatório a ser encaminhado a órgãos policiais e ao Ministério Público com eventuais pessoas a serem indiciadas.
A CPMI foi instalada em setembro de 2019 para investigar, no prazo de 180 dias, "os ataques cibernéticos que atentam contra a democracia e o debate público; a utilização de perfis falsos para influenciar os resultados das eleições 2018; a prática de cyberbullying sobre os usuários mais vulneráveis da rede de computadores, bem como sobre agentes públicos; e o aliciamento e orientação de crianças para o cometimento de crimes de ódio e suicídio".
Na quarta-feira (04/03), em um dos mais recentes desdobramentos da comissão, o deputado federal Alexandre Frota (PSDB-SP) disse ter acessado dados do Facebook que ligam um assessor do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) a um perfil do Instagram que promovia ataques contra críticos do governo.
A BBC News Brasil lista a seguir os principais episódios da CPMI.
Depoimento de Alexandre Frota
Em 30 de outubro de 2019, o deputado Alexandre Frota disse em depoimento à comissão que os assessores da Presidência da República Tercio Arnaud Tomaz, José Matheus Salles Gomes e Mateus Matos Diniz atuavam em "milícias digitais".
Segundo Frota — que apoiou a candidatura de Bolsonaro, mas rompeu com ele em meio a disputas pelo comando do partido que os elegeu em 2018, o PSL —, o trio é chefiado pelo vereador Carlos Bolsonaro (PSL-RJ), filho do presidente.
Frota afirma que o grupo controla perfis falsos responsáveis por difundir mentiras e atacar críticos do governo nas redes sociais.
Em reação ao depoimento, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) chamou Frota de "traíra". " A população tem aversão a esse tipo de conduta. A pessoa é muito seu amigo, dá tapa nas costas, aí é eleito e depois muda de lado", disse Eduardo.
Depoimento de Santos Cruz
Em 26 de novembro, o general Carlos Alberto dos Santos Cruz, que foi ministro da Secretaria de Governo entre janeiro e junho de 2019, sugeriu à CPMI que contratasse uma empresa especializada em rastrear perfis falsos na internet.
Santos Cruz deixou o governo após sofrer uma série de ataques virtuais e quando era alvo de críticas de duas pessoas que exercem influência sobre o presidente: Carlos Bolsonaro e o escritor Olavo de Carvalho.
O general disse ter suspeitas sobre quem teria orquestrado a ofensiva contra ele, mas não quis citar nomes.
Depoimento de Joice Hasselmann
Em depoimento em 4 de dezembro, a deputada federal Joice Hasselmann (PSL-SP) — outra antiga aliada de Bolsonaro que rompeu com o governo — acusou os filhos do presidente de comandar um "gabinete do ódio" incumbido de atacar adversários.
"Escolhe-se um alvo. Combina-se um ataque e há inclusive um calendário de quem ataca e quando. E, quando esse alvo está escolhido, entram as pessoas e os robôs. Por isso que, em questão de minutos, a gente tem uma informação espalhada para o Brasil inteiro", afirmou a deputada.
Um mês antes de depor na CPMI, Joice chorou na tribuna da Câmara ao descrever ataques virtuais que ela e sua família sofreram após a deputada ficar em lado oposto ao do presidente na disputa pelo comando do PSL.
Ainda em dezembro, após seu grupo vencer a disputa pelo comando do partido, Joice expulsou da comissão os deputados bolsonaristas Filipe Barros (PSL-PR), Carla Zambelli (PSL-SP) e Eduardo Bolsonaro (PSL-SP).
Depoimento de Hans River
Após o recesso do fim do ano, a CPMI retomou as atividades em 11 de fevereiro ao ouvir Hans River, ex-funcionário da Yacows, empresa de marketing digital investigada por fraudes na campanha eleitoral de 2018.
No depoimento, River disse que repórter Patrícia Campos Mello, da Folha de S.Paulo, havia se "insinuado" sexualmente para ele com a intenção de obter informações para uma reportagem.
Mello foi autora de uma reportagem segundo a qual empresas bancaram disparos de mensagens no WhatsApp contra o PT durante a última campanha eleitoral. A Yacows era uma das empresas contratadas para efetuar os disparos, segundo a reportagem.
Ao comentar o depoimento de River em entrevista a jornalistas, Bolsonaro fez um trocadilho de cunho sexual dizendo que Mello "queria dar um furo a qualquer preço contra mim".
O depoimento de River e a fala do presidente foram criticados por grupos de vários espectros.
A Folha disse que River mentiu e apresentou prints de conversas entre ele e Mello que não apresentavam qualquer indício de insinuação sexual. O presidente da Câmara, Rodrigo Maia, disse que que dar falso testemunho em "comissão do Congresso é crime".
Quanto à fala de Bolsonaro, juristas afirmaram que houve quebra de decoro, o que em tese poderia legitimar a abertura de um processo de impeachment contra o presidente.
Assessor de Eduardo Bolsonaro
Na quarta-feira, Alexandre Frota afirmou, durante uma reunião da CPMI, que documentos enviados pelo Facebook, em resposta a um requerimento da Câmara, implicavam Eduardo Guimarães, assessor parlamentar de Eduardo Bolsonaro.
Segundo Frota, os documentos mostram que o computador de Guimarães está vinculado à conta do Instagram Bolsofeios, que já fez ataques contra jornalistas e críticos do governo.
Frota e Joice Hasselmann já haviam citado o perfil em seus depoimentos à CPMI como um dos pertenciam à "milícia virtual".
Eduardo Bolsonaro disse desconhecer o vínculo de seu assessor com o perfil.
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