Carta de mil padres com críticas a Bolsonaro esquenta racha político na Igreja Católica
Mil e cinquenta e oito padres brasileiros assinaram um manifesto, divulgado na tarde de hoje, em apoio a uma carta de 152 bispos da Igreja Católica com duras críticas ao governo do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), tornada pública no fim de semana.
A iniciativa desses sacerdotes esquenta ainda mais o embate entre as chamadas alas "progressista" e "conservadora" na Igreja Católica.
Grupos conservadores haviam reagido ao documento dos representantes do episcopado, a "Carta ao Povo de Deus", divulgada no domingo pelo jornal Folha de S.Paulo.
Os bispos disseram que o Brasil atravessa um dos momentos mais difíceis de sua História e vive uma "tempestade perfeita", combinando uma crise sem precedentes na saúde e um "avassalador colapso na economia", com questionadas e polêmicas ações do presidente da República que resultam "numa profunda crise política e de governança".
'Agir em favor de toda a população'
Os padres afirmam que a manifestação dos bispos brasileiros "em profunda comunhão com o papa Francisco e seu magistério e em comunhão plena com a CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil)" oferece ao povo "luzes para o discernimento dos sinais nestes tempos tão difíceis da história do nosso País".
Segundo o documento dos padres, os governantes "têm o dever de agir em favor de toda a população, de maneira especial os mais pobres", mas "não tem sido esse o projeto do atual governo", que "não coloca no centro a pessoa humana e o bem de todos, mas a defesa intransigente dos interesses de uma economia que mata, centrada no mercado e no lucro a qualquer preço".
E acrescenta: "Por isso, também estamos profundamente indignados com ações do presidente da República em desfavor e com desdém para com a vida de seres humanos e também com a da 'nossa irmã, a Mãe Terra', e tantas ações que vão contra a vida do povo e a soberania do Brasil".
O documento dos bispos brasileiros deveria ser divulgado inicialmente na quarta-feira (22), mas foi suspenso para ser analisado pelo Conselho Permanente da CNBB.
Acabou vazando, deliberadamente, diante do temor de alguns signatários de que os conservadores católicos impedissem a sua divulgação.
Assinaram o documento, entre outros, o arcebispo emérito de São Paulo, dom Claudio Hummes, o bispo emérito de Blumenau dom Angélico Sândalo Bernardino; o bispo de São Gabriel da Cachoeira (AM), dom Edson Damian; o arcebispo de Belém, dom Alberto Taveira Corrêa, e o bispo emérito do Xingu (PA), dom Erwin Krautler.
O texto será avaliado pela CNBB em reunião no próximo dia 5. A CNBB, na avaliação de religiosos, tende a se manifestar em favor da autonomia dos bispos para darem declarações.
Padres da Caminhada
Já os padres também contrários às ações de Bolsonaro se organizaram em movimentos como o Padres da Caminhada - com cerca de 200 integrantes, entre eles bispos eméritos, com dom Mauro Morelli, de Duque de Caxias (RJ) -, e os Padres contra o Fascismo, com 170 membros.
Surgido no final do ano passado em um encontro de comunidades eclesiais de base em Canoas, no Rio do Grande do sul, os Padres da Caminhada saíram em defesa do pároco Edson Tagliaferro, da cidade de Artur Nogueira (SP), que chamou Bolsonaro de "bandido" numa homilia, no início de julho.
Também apoiaram os colegas padres Dennis Koltz e Sisto Magro, agredidos por um fazendeiro no interior do Amapá, há cinco meses, e se posicionaram contra o racismo na Igreja Católica, reivindicando ao papa Francisco a nomeação de mais bispos negros.
Na carta divulgada ontem, os padres afirmam ser necessária e urgente a reconstrução das relações sociais no Brasil, pois "este cenário de perigosos impasses, que colocam nosso País à prova, exige de suas instituições, líderes e organizações civis muito mais diálogo do que discursos ideológicos fechados".
Afirmam ainda um compromisso "em favor da vida, principalmente dos segmentos mais vulneráveis e excluídos, nesta sociedade estruturalmente desigual, injusta e violenta", e se solidarizam com todas as famílias que perderam vidas por causa da covid-19.
"Essa doença ceifa vidas e aterroriza a todos. Próximos de atingir 100 mil mortos nesta pandemia, é inadmissível que não haja neste governo um ministro da Saúde, que possa conduzir as políticas de combate ao novo coronavírus", reclama o documento.
Leia a íntegra:
Boa tarde, irmãos da Caminhada!
Para contribuir na contextualização da existência deste grupo, retomamos alguns elementos aqui, como segue!
Este grupo surgiu a partir de uma sugestão apresentada no IV Sulão das CEBs, em Canoas, de 15 a 17 de novembro de 2019 . Refletimos sobre "Igreja da base na perspectiva do Papa Fancisco". Aos poucos, outros padres em sintonia com a perspectiva eclesiológica do Povo de Deus, da libertação foram entrando neste grupo, que de regional passou a nacional.
A intenção primeira era articular os padres que comungam desta perspectiva teológica e que buscam caminhar em sintonia com ensinamentos do Papa Francisco. Não é simplesmente um seguimento do Papa Francisco, mas o projeto que ele representa e que nos identificamos. Podemos perceber ao longo destes anos do Pontificados de Francisco que, de fato, ele *está * concretizando (recepcionando) o verdadeiro espírito do Concílio Vaticano II.**
Este grupo, portanto, tem um primeiro objetivo de nos articular em nível de país , como padres que assumem o Vaticano II, buscando implementá-lo em nossas práticas eclesiais e em nossas relações cotidianas.
Quer ser também um espaço de partilha de nossas práticas : o que estamos fazendo e que contribuem para a concretização de uma Igreja mais libertadora, profética, comprometida com a realidade, mas principalmente de ser pobre com os pobres.
Mas, além de tudo, queremos refletir sobre temas importantes para viver a Igreja Povo de Deus, construir alternativas dentro da Igreja e do espaço em que estamos inseridos.
A você, meu irmão, que está chegando agora neste grupo, seja bem vindo! E contamos com sua participação e colaboração.
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