Impeachment de Trump: os republicanos que estão se voltando contra o presidente
Vários integrantes do Partido Republicano dizem que vão votar pelo impeachment do presidente Donald Trump por seu papel na invasão do Congresso da semana passada, que resultou em cinco mortes.
A republicana Liz Cheney disse que Trump "acendeu a chama" do ataque.
Uma votação na Câmara dos Representantes, controlada pelos democratas, é esperada para quarta-feira (13/1).
Em sua primeira aparição pública desde a invasão, o presidente não se responsabilizou pela violência.
Os democratas acusam Trump de incitar seus partidários a invadir o prédio do Capitólio em um discurso antes do tumulto. Eles pressionam para que haja uma votação de impeachment.
Trump sofrerá impeachment?
Como os democratas detêm a maioria na Câmara, Trump provavelmente se tornará o primeiro presidente dos EUA a ter procedimentos de impeachment aprovados duas vezes. Ele se tornou o terceiro presidente a ter um pedido de impeachment aprovado na Câmara em dezembro de 2019 por violar a lei ao pedir à Ucrânia que investigasse Biden na eleição. Posteriormente, em julgamento no Senado, Trump foi inocentado.
Se Trump tiver seu impeachment aprovado na Câmara nesta quarta-feira, o Senado realizará um julgamento para determinar sua culpa. Uma maioria de dois terços seria necessária para condenar Trump, o que significa que pelo menos 17 republicanos teriam de votar pela condenação.
Até 20 republicanos do Senado estariam dispostos a condenar o presidente, relatou o jornal americano The New York Times. Mas é improvável que o julgamento possa ser concluído antes de Trump deixar o cargo, em 20 de janeiro, quando o presidente eleito Joe Biden assume o poder.
Um julgamento de impeachment no Senado depois da posse de Biden poderia servir para impedir que Trump concorra novamente. Ele já indicou que planeja fazer campanha em 2024 para voltar à Casa Branca.
O que dizem os republicanos?
Liz Cheney, que é filha do ex-vice-presidente Dick Cheney, prometeu apoiar o impeachment, dizendo que Trump "convocou essa multidão, reuniu essa multidão e acendeu a chama desse ataque".
"Nunca houve uma traição maior por parte de um presidente dos EUA a seu cargo e seu juramento à Constituição", acrescentou a representante de Wyoming.
Dois outros membros republicanos da Câmara, John Katko e Adam Kinzinger, disseram que também votariam pelo impeachment.
O líder republicano da Câmara, Kevin McCarthy, aliado de Trump que disse ser contra o impeachment, decidiu não pedir aos membros do partido que votassem contra a medida, segundo noticiou a imprensa americana.
De acordo com o New York Times, o líder republicano no Senado, Mitch McConnell, disse a pessoas próximas que estava satisfeito que os democratas desejassem impeachment do presidente porque ele acreditava que isso ajudaria a livrar o partido Republicano de Trump.
Na terça-feira à noite, o republicano Brian Fitzpatrick, da Pensilvânia, apresentou uma resolução para censurar Trump, uma medida menos severa do que o impeachment.
A medida acusa Trump de "tentar derrubar ilegalmente" os resultados das eleições de novembro e de ter "posto em perigo" o Congresso.
Anteriormente, a Câmara aprovou uma resolução por 223 votos a 205 solicitando ao vice-presidente Mike Pence que ajudasse a destituir Trump usando a 25ª Emenda, que permitiria ao vice destituir o presidente se ele for considerado incapaz de cumprir suas obrigações.
Mas Pence já havia rejeitado a resolução dos democratas, dizendo em uma carta à presidente da Câmara, Nancy Pelosi: "Segundo nossa Constituição, a 25ª Emenda não é um meio de punição ou usurpação".
Como Trump reagiu?
Na terça-feira, Trump não demonstrou arrependimento pelos comentários que fez aos apoiadores antes da violência, quando repetiu alegações infundadas de fraude eleitoral, dizendo-lhes para "fazer ouvir sua voz de forma pacífica e patriótica", mas também "lutar como no inferno".
"O que eu disse foi totalmente apropriado", disse Trump a repórteres. "Eu não quero violência."
Ele também disse: "Este impeachment está causando uma raiva tremenda, e (...) é realmente uma coisa terrível o que eles estão fazendo", acrescentando que o "verdadeiro problema" era a retórica usada pelos democratas durante os protestos Black Lives Matter e a violência no ano passado.
O YouTube disse que suspendeu o canal de Trump por violar as políticas de incitação à violência. As contas do presidente no Twitter e no Facebook já foram removidas.
Domínio de Trump diminui
Análise de Anthony Zurcher, repórter da BBC News nos EUA
No período em que o Força Aérea Um, o avião presidencial, levou para levar Donald Trump de volta da fronteira com o Texas para a Casa Branca, na terça-feira, o terreno político desmoronou sob seus pés. Os sinais de Mitch McConnell de que está "satisfeito" com os esforços democratas sugerem que o cálculo político está mudando para os líderes republicanos no Congresso.
Um número crescente acredita que as ações do presidente na semana passada ameaçaram não apenas a democracia dos EUA, mas também a segurança pessoal dos parlamentares.
E mesmo antes do tumulto no Capitólio dos EUA, Trump era cada vez mais visto como um problema político com poder cada vez menor. Sua reação radical aos resultados da eleição provavelmente custou aos republicanos duas cadeiras no Senado da Geórgia, e não está claro se Trump aumenta as chances eleitorais do partido quando seu nome não está na cédula.
McConnell, entre outros, pode estar pensando se um rompimento franco com Trump é melhor para seu futuro político, mesmo que isso signifique trabalhar com os democratas para se livrar dele.
Como estão as investigações sobre os invasores?
Até agora 170 pessoas foram identificadas e 70 indiciadas, disse o FBI. Espera-se que outras centenas sejam acusadas. Os culpados de conspiração podem pegar até 20 anos de prisão.
Os manifestantes estão sendo instados a se entregarem para a polícia. Uma campanha de mídia social pede que membros do público identifiquem as pessoas a partir de fotos.
O FBI também disse que as investigações concluíram que duas bombas encontradas perto de escritórios de partidos políticos em Washington tinham ignitores e timers.
A imprensa dos EUA noticiou que um dia antes dos distúrbios, o FBI emitiu um relatório interno alertando que os extremistas planejavam viajar para a capital americana para cometer violência. O documento, de um escritório do FBI na Virgínia, mostrou que os conspiradores compartilhavam mapas dos túneis sob o Capitólio.
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