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Risco de violência levanta alertas nos EUA às vésperas de posse de Biden

6.jan.2021 - Apoiador do presidente Donald Trump ferido após confronto de manifestantes em frente ao Congresso dos EUA - Tasos Katopodis/Getty Images
6.jan.2021 - Apoiador do presidente Donald Trump ferido após confronto de manifestantes em frente ao Congresso dos EUA Imagem: Tasos Katopodis/Getty Images

Carolina Marins

Do UOL, em São Paulo

13/01/2021 04h00

Após o protesto de trumpistas que terminou com a invasão ao Capitólio na semana passada, as forças policiais dos Estados Unidos se preparam para mais episódios de violência.

Para a posse de Joe Biden como presidente, no próximo dia 20, o FBI (a Polícia Federal do país) e o Departamento de Justiça estão em alerta para atos armados em todos os 50 estados. O documento foi revelado pela rede de TV ABC.

Na semana passada, após serem incitados pelo presidente Donald Trump, apoiadores marcharam até a capital Washington na intenção de impedir a certificação de Biden no Congresso. O ato levou a uma invasão sem precedentes na história moderna do país, colocando parlamentares em risco e resultando na morte de cinco pessoas.

O Departamento de Justiça americano e o FBI informaram que ao menos 70 pessoas já foram acusadas pela invasão. Esse número deve crescer nos próximos dias. Os presos devem ser acusados por crimes graves.

"A brutalidade a que o povo americano assistiu com choque e descrença no dia 6 não será tolerada pelo FBI. Os homens e mulheres do FBI não deixarão pedra sobre pedra nesta investigação", disse o diretor-assistente do FBI em Washington, Steven D'Antuono, nesta terça em entrevista.

D'Antuono informou que o FBI busca os responsáveis pelas bombas deixadas nas sedes dos partidos republicano e democrata no mesmo dia da invasão ao Capitólio. Segundo ele, as duas bombas eram reais. "Não sabemos exatamente por que eles não explodiram", disse.

A polícia do Capitólio já informou que não será permitida qualquer aproximação do público no dia da posse e já bloqueia as ruas em volta do prédio.

Segundo o coordenador do curso de Relações Internacionais da FGV (Fundação Getúlio Vargas), Eduardo Mello, é esperado que haja tentativas de protestos na posse, mas não atos de violência.

"A segurança da posse não é feita pela polícia do Capitólio, que é quase como uma segurança de edifício. Quem faz a segurança da posse é o Serviço Secreto, que é a agência de proteção ao presidente. É uma agência muito maior. Com muito mais capacidade e que já enfrentou atentados", explica.

FBI teria avisado sobre violência

O jornal americano "The Washington Post" revelou ontem que o escritório do FBI na Virgínia emitiu um comunicado avisando sobre uma possível preparação de um grupo pró-Trump para a invasão do Congresso.

O relatório menciona o compartilhamento de mapas de túneis do Capitólio e pontos de encontro para possíveis conspiradores seguirem em grupo rumo a Washington em pelo menos quatro estados americanos, entre eles, Pensilvânia e Massachusetts.

O FBI investiga se algum dos manifestantes planejava matar ou sequestrar parlamentares no dia da invasão, quando o Congresso se reuniu para certificar a vitória de Biden.

Histórico de transições conturbadas

Os EUA têm um histórico considerável de transições presidenciais que foram caóticas e com contestações, mas nunca com uma ameaça de violência assim. Mello lembra que, na eleição de 2000, democratas também tentaram reverter o resultado na Justiça, mas sem episódios de ataques.

Para achar momentos assim na história americana você tem que ir para o século 19 e início do século 20. Talvez mesmo assim você não ache nada parecido. Eduardo Mello, coordenador do curso de Relações Internacionais da FGV

A pior transição presidencial foi em 1860, quando Abraham Lincoln foi eleito. Na esteira da guerra de secessão, ele sofreu duas tentativas de assassinato antes de assumir o poder. Fez ainda uma lendária viagem de 13 dias, na qual passou por sete estados buscando aumentar sua popularidade.

Na quarta eleição presidencial americana após a independência, em 1800, já havia preocupações. John Adams perdeu a reeleição para seu ex-amigo e até então vice, Thomas Jefferson. Chateado, saiu às 4h de Washington no dia da posse de Jefferson e voltou a Massachusetts praticamente escondido.

Uma situação semelhante aconteceu mais de um século depois. Antes de 1932, Herbet Hoover e Franklin D. Roosevelt tinham uma convivência pacífica, enquanto o país vivia as consequências da Grande Depressão de 1929. Mas aí os dois passaram a discordar do rumo das políticas a serem tomadas.

Roosevelt derrotou Hoover nas urnas, o que foi considerado uma humilhação. Como a posse acontecia apenas em março, era necessária uma cooperação entre os dois presidentes, em especial em momentos de crise econômica. Mas ambos não confiavam um no outro e isso não aconteceu.

Outros episódios de impasses durante a transição presidencial ocorreram com Jimmy Carter e Ronald Reagan, em 1980, e Bill Clinton e George W. Bush, em 2000.