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Jacarezinho: políticos ligados a Bolsonaro dominaram debate nas redes sociais sobre operação policial, mostra pesquisa

Operação da polícia no Jacarezinho terminou com 28 pessoas mortas - REUTERS/Ricardo Moraes
Operação da polícia no Jacarezinho terminou com 28 pessoas mortas Imagem: REUTERS/Ricardo Moraes

Leandro Machado - Da BBC News Brasil em São Paulo

14/05/2021 18h13

Perfis de blogueiros conservadores e políticos de direita ligados ao governo Jair Bolsonaro dominaram o debate nas redes sociais sobre operação da Polícia Civil do Rio de Janeiro que terminou com 28 pessoas mortas na comunidade do Jacarezinho, zona norte carioca, no dia 6. Entre os mortos, havia um policial da própria corporação.

A invasão da polícia ocorreu apesar de uma decisão do STF (Supremo Tribunal Federal) suspender, em junho de 2020, operações policiais em favelas do Rio durante a pandemia de covid-19. A decisão permite ações apenas em "hipóteses absolutamente excepcionais". Para isso, os agentes precisam comunicar ao Ministério Público sobre o motivo da operação.

Um levantamento da Diretoria de Análise de Políticas Públicas da Fundação Getúlio Vargas (DAPP-FGV) apontou que, entre os dias 5 e 12 de maio, 57,5% das interações sobre segurança pública analisadas no Twitter foram realizadas por políticos de direita, jornalistas e blogueiros conservadores. Do total, 43,9% dos perfis pertencem a esse grupo.

Já no Facebook foram analisadas as publicações feitas pelos perfis dos 594 parlamentares (513 deputados e 81 senadores). No período, foram postadas 787 publicações sobre o tema, por perfis de 253 parlamentares.

As publicações somaram 3,7 milhões de interações. Dessas, 494,4 mil foram reações, com destaque para reações de tristeza (27,6%), de raiva (25,6%) e risadas (24,2%). Já 170 publicações contiveram vídeos, que alcançaram 9,4 milhões de visualizações

Segundo Sabrina Almeida, doutora em ciência política e pesquisadora na FGV-DAPP, as postagens feitas pelo grupo alinhado a Bolsonaro parabenizavam a ação da polícia carioca e criticavam entidades de defesa dos diretos humanos e a mídia.

"Muitos dos posts tinham uma perspectiva dualista de que há pessoas ruins que defendem bandidos e outras boas que são contra. Os posts atacavam a esquerda e a mídia tradicional, dizendo que eles são defensores de criminosos. Também houve muitas postagens lamentando a morte do policial na operação", explica.

Dos 15 parlamentares que mais tiveram engajamento no Facebook, 11 são apoiadores de Bolsonaro. Entre eles, os campeões de engajamento foram os deputados federais Carla Zambelli (SP) e Carlos Jordy (RJ), ambos do PSL.

Para Almeida, temas relacionados à segurança pública tendem a ter grande repercussão entre conservadores e bolsonaristas.

"Dá impressão que esse discurso mais apelativo é feito para angariar mais engajamento. Há sim uma atuação mais expressiva por parte da direita nesse tema específico, pois ele tem grande aderência com o público. Por isso, a direita acaba sendo predominante nessas discussões", diz.

Por outro lado, a pesquisa apontou que 31,3% das interações e 36,2% dos perfis no Twitter que se manifestaram sobre a ação policial foram de políticos de esquerda, pesquisadores, jornalistas e canais de comunicação. No Facebook, os deputados federais petistas Gleisi Hoffmann e Paulo Pimenta também se destacaram em engajamento, embora bastante abaixo de parlamentares da direita.

"Partidários da esquerda (PT e Psol) desempenharam atividade relevante, o que indica que houve esforços de mobilização e de disputa narrativa referente ao episódio", explica a pesquisa.

"Esse grupo se manifestou chamando a operação de 'carnificina' e 'chacina'. Também criticaram a ausência de políticas sociais na comunidade e a crescente violência policial contra a população pobre e negra", diz Almeida.

O levantamento da FGV aponta, ainda, que coletivos de comunidades do Rio e ativistas do movimento negro foram responsáveis por 4% dos perfis e 2,5% das interações sobre o tema no Twitter. Nesse caso, o grupo "compartilhou relatos e testemunhos de moradores do Jacarezinho sobre a operação, classificando a ação como trágica e desastrosa".

As postagens também fizeram um levantamento dos números e dos perfis dos mortos na ação e insistiram "na opinião de que a prática estaria longe de constituir uma solução eficaz para a criminalidade na cidade", aponta o estudo.