Guerra na Ucrânia: por que o naufrágio do Moskva é um duro golpe para a moral e para a força naval russa
Um duro golpe para os russos, "um dano que foi mais psicológico do que material". Assim tem sido classificado o naufrágio do cruzador de mísseis Moskva, principal navio da frota russa do Mar Negro.
A embarcação afundou após ser profundamente danificada por uma explosão na quarta-feira (13/04), confirmou o Ministério da Defesa russo.
O navio estava sendo rebocado para o porto quando "mares tempestuosos" o fizeram afundar, segundo as autoridades russas.
O governo da Ucrânia afirma que a explosão foi causada por um ataque executado por suas forças. Segundo as Forças Armadas ucranianas, eles teriam utilizado um míssil Neptune, fabricado nacionalmente após a anexação da Crimeia pela Rússia em 2014.
No entanto, Moscou não relata nenhum ataque e afirma que o navio afundou em decorrência de um incêndio causado pela explosão de munições que estavam na embarcação.
Os Estados Unidos descreveram o naufrágio do navio como um "grande golpe", mas não conseguiram confirmar se os mísseis ucranianos Neptune foram os responsáveis por isso.
Com 12.490 toneladas, o Moskva é o maior navio de guerra russo afundado em combate desde a Segunda Guerra Mundial.
A embarcação com capacidade para 510 tripulantes era um símbolo do poder militar da Rússia e liderou a parte naval do ataque russo à Ucrânia.
Agora a Rússia terá que continuar a batalha sem a sua principal embarcação, o que tem sido apontado como uma tarefa difícil.
Uma perda "humilhante"
Os especialistas concordam que esse é um grande revés para as forças russas, tanto por razões militares quanto morais.
A maioria não duvida que isso complicará ainda mais as ambições do Kremlin na Ucrânia.
"O desaparecimento do outrora poderoso Moskva é visto como justiça poética na Ucrânia", explica Frank Gardner, correspondente de segurança da BBC.
"É provável que esse incidente faça com que os navios de guerra russos tenham que se distanciar mais da costa por questões de segurança", acrescentou.
Jenny Hill, correspondente da BBC em Moscou, diz que o naufrágio do Moskva é uma perda "significativa e humilhante" para o presidente russo Vladimir Putin.
Golpe ao orgulho nacional
Putin insiste em várias ocasiões que sua "operação militar especial" na Ucrânia avança com sucesso, "conforme planejado".
Mas Hill afirma que o naufrágio do Moskva é algo como "um golpe ao orgulho nacional".
"O que antes era um símbolo do poder e da ambição da Rússia, agora está no fundo do mar", acrescenta a jornalista.
Na Rússia, os boletins matinais de televisão se limitaram a repetir brevemente, na manhã de sexta-feira (15/4), a declaração emitida pelo Ministério da Defesa russo.
Alguns comentaristas argumentam que o sistema de combate a incêndios a bordo do navio de guerra de quarenta anos era antigo e ineficiente.
Para Mykola Bielieskov, do Instituto Nacional de Estudos Estratégicos da Ucrânia, o dano é "mais psicológico do que material".
"(O naufrágio do navio) não vai acabar completamente com o bloqueio naval da Rússia à Ucrânia", disse à BBC.
"Mas é um símbolo poderoso de que armas sofisticadas podem ser usadas de forma eficaz", acrescentou.
Russos mais vulneráveis agora
Bielieskov, que assessora o governo ucraniano em estratégia militar, afirmou que "os navios russos agora serão forçados a se afastar da costa ucraniana, onde não podem mais se sentir seguros".
O Moskva não disparou mísseis contra alvos terrestres ucranianos, mas especialistas militares disseram à BBC que a embarcação forneceu apoio crucial a outras embarcações que fizeram isso.
Os navios restantes da frota russa do Mar Negro agora estarão mais vulneráveis a ataques aéreos, embora não esteja claro se as forças da Ucrânia, que sofreram inúmeras baixas desde o início da guerra, têm recursos para tirar proveito da situação.
"O Moskva era o único navio da frota a ter defesas aéreas de longo alcance a bordo", explicou Sidharth Kaushal, especialista em energia marítima do Royal United Services Institute, em Londres.
"Enquanto navios menores bombardearam cidades ucranianas, o Moskva forneceu cobertura aérea em uma área ampla", completou.
"Muito vergonhoso"
O cruzador de mísseis Moskva foi usado anteriormente por Moscou no conflito da Síria, onde forneceu proteção naval para as forças russas no país.
É o segundo grande navio que a Rússia perdeu desde o início da invasão da Ucrânia.
O almirante Alan West, ex-chefe do Estado-Maior Naval do Reino Unido, diz que além de ser um golpe sob o aspecto militar, a perda do navio é "muito vergonhosa".
"Tem um grande impacto", disse West em entrevista à emissora BBC Radio 4 antes de a Rússia confirmar que o Moskva havia afundado.
"Putin ama a marinha. Quando chegou ao poder, a marinha foi a primeira área das forças soviéticas em que ele se esforçou. Ele sempre teve uma certa preferência pela marinha".
O navio de guerra foi, por muitos anos, um "símbolo do poder naval russo no Mar Negro", segundo Michael Petersen, do Instituto Russo de Estudos Marítimos.
"O Moskva foi uma pedra no sapato dos ucranianos desde o início desse conflito", disse Petersen à BBC, antes de acrescentar que ver a embarcação destruída seria "um verdadeiro impulso moral para os ucranianos".
No início do conflito, o Moskva ganhou notoriedade depois que sua tripulação ordenou que as tropas de fronteira ucranianas que defendiam a Ilha da Cobra no Mar Negro se rendessem.
Os guardas recusaram, transmitindo pelo rádio uma mensagem de rejeição memorável que se traduz vagamente em "vá para o inferno".
Originalmente construído na era soviética, o Moskva entrou em serviço no início dos anos 80 e era o navio mais temido da região. Seja por um incêndio, como alega Moscou, ou por um míssil Neptune, como Kiev alega, a batalha pelo controle da Ucrânia arrancou esse título da embarcação.
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