Morte de Pinochet provoca festa e lágrimas no Chile
da BBC, em Londres
Milhares de chilenos saíram às ruas para comemorar ou para lamentar a morte do ex-presidente Augusto Pinochet, de 91 anos, em mais uma demonstração da profunda divisão que a figura do general causa no Chile.
Familiares das vítimas do regime Pinochet (1973-1990) e integrantes do Partido Comunista acenderam fogueiras, tomaram champanhe nas ruas, banharam-se com a bebida e improvisaram um carnaval, erguendo faixas e bandeiras.
Em diferentes pontos da capital, entretanto, houve distúrbios e choques com a polícia, que usou canhões de água e bombas de gás lacrimogênio para dispersar a multidão.
Segundo a polícia, várias pessoas foram presas, em Santiago e no interior do Chile.
'Repressor'
“Estou feliz, feliz da vida porque morreu o homem que tanto mal fez ao nosso país”, dizia uma manifestante às câmeras de TV chilenas, perto do palácio presidencial de La Moneda.
Os manifestantes gritavam “Repressor, repressor”.
Em outros pontos da cidade, entre eles em frente ao hospital Militar, onde Pinochet morreu na tarde de domingo, seus seguidores estavam aos prantos.
Lá, os gritos eram de “Pinochet, Pinochet”. Cartazes mostravam o rosto do ex-general, mais jovem, e frases como “herói nacional”.
Diante da polarização nas ruas, o governo e a Igreja Católica pediram “calma” ao país.
O corpo do ex-ditador foi transferido durante a madrugada para a Escola Militar de Santiago, onde será velado até a manhã de terça-feira.
Segundo a imprensa chilena, o corpo será cremado a pedido da família.
País dividido
As reações – contra e a favor - mostraram, uma vez mais, como o Chile continua um país dividido.
De um lado estão os simpatizantes, do outro, os avessos ao ex-comandante do Exército que chegou ao poder após liderar um sangrento golpe, no dia 11 de setembro de 1973, contra o então presidente socialista Salvador Allende.
Pinochet foi internado no domingo retrasado, com problemas cardíacos.
Diferentes pesquisas de opinião divulgadas na última semana, logo após a internação, confirmaram a divisão chilena: entre 51% e 55% rejeitavam que o Estado realizasse um enterro com honras militares para o ex-ditador.
Pouco após a morte, a Fundação Presidente Augusto Pinochet divulgou uma nota afirmando que o Chile perdia “um de seus filhos mais notáveis”, um homem que “salvou o país da ruína” e foi o “arquiteto do novo Chile”.
Na mesma linha, o partido União Democrática Independente (UDI, que apóia o ex-general) criticava, também num comunicado, que o governo da presidente socialista Michelle Bachelet não tenha decidido render homenagens oficiais.
Morte sem condenação
Longe dali, a deputada Isabel Allende, filha do ex-presidente Salvador Allende, lamentava que o ex-ditador morreu sem ter sido condenado.
Quando perguntada por jornalistas da TV Chile sobre o que muda no país depois da morte do homem que passou 16 anos no poder, ela respondeu: “Não muda nada com a morte de Pinochet. Desde antes dela, já tínhamos a consciência de que não queremos mais golpes de Estado e mais injustiças”.
A presidente da Agrupação de Familiares de Presos e Desaparecidos, Lorena Pizarro, lembrou que a data da morte – 10 de dezembro – coincide com o Dia Internacional dos Direitos Humanos.
“Parece que a humanidade está dizendo basta ao ex-ditador”, disse.
O ex-ministro do Interior, o ex-senador Andrés Zaldívar, do partido Democracia Cristiana (DC), também se mostrou decepcionado com a morte de Pinochet, antes de ser julgado pelos crimes de que foi acusado.
Acusações
Entre as acusações que pesavam contra o ex-ditador estavam crimes contra direitos humanos e financeiros, como depósitos no exterior.
“Foram muitas mortes, tortura, dor, exílio, medo. São péssimas lembranças para Chile”, disse o ex-senador.
Zaldívar e o ex-presidente Ricardo Lagos entraram para a história do país ao defenderem a saída do Pinochet, nos anos 80.
Para ele, a transição chilena ainda não terminou, apesar dos quase 20 anos de democracia.
“A transição só terminará quando houver justiça para todos os que foram vítimas de Pinochet”.
Seu partido, DC, forma a chamada “Concertación” – base governista que une a legenda ao Partido Socialista, de Allende, do ex-presidente Lagos e da atual presidente, Bachelet.
A atual presidente foi uma das vítimas da era Pinochet. Ela foi presa com a mãe e, depois da morte do pai, na prisão, Bachelet deixou o país.
“Acho a morte provocou comoção nacional, mas ela vai desaparecer logo e o Chile será um país normal”, disse um analista no programa de TV Estado Nacional, na madrugada de domingo.
“Acho que ainda faltam muitas coisas a serem descobertas. A história não termina com a morte de Pinochet. As investigações ainda vão revelar muita coisa”, completava a analista Maria de Los Angeles Fernández, no mesmo programa.
O secretário geral da OEA (Organização dos Estados Americanos), o chileno José Miguel Insulza, que foi ministro de Lagos, disse que espera que, depois dessa morte, partidários e opositores de Augusto Pinochet possam “viver olhando para o futuro”.
Familiares das vítimas do regime Pinochet (1973-1990) e integrantes do Partido Comunista acenderam fogueiras, tomaram champanhe nas ruas, banharam-se com a bebida e improvisaram um carnaval, erguendo faixas e bandeiras.
Em diferentes pontos da capital, entretanto, houve distúrbios e choques com a polícia, que usou canhões de água e bombas de gás lacrimogênio para dispersar a multidão.
Segundo a polícia, várias pessoas foram presas, em Santiago e no interior do Chile.
'Repressor'
“Estou feliz, feliz da vida porque morreu o homem que tanto mal fez ao nosso país”, dizia uma manifestante às câmeras de TV chilenas, perto do palácio presidencial de La Moneda.
Os manifestantes gritavam “Repressor, repressor”.
Em outros pontos da cidade, entre eles em frente ao hospital Militar, onde Pinochet morreu na tarde de domingo, seus seguidores estavam aos prantos.
Lá, os gritos eram de “Pinochet, Pinochet”. Cartazes mostravam o rosto do ex-general, mais jovem, e frases como “herói nacional”.
Diante da polarização nas ruas, o governo e a Igreja Católica pediram “calma” ao país.
O corpo do ex-ditador foi transferido durante a madrugada para a Escola Militar de Santiago, onde será velado até a manhã de terça-feira.
Segundo a imprensa chilena, o corpo será cremado a pedido da família.
País dividido
As reações – contra e a favor - mostraram, uma vez mais, como o Chile continua um país dividido.
De um lado estão os simpatizantes, do outro, os avessos ao ex-comandante do Exército que chegou ao poder após liderar um sangrento golpe, no dia 11 de setembro de 1973, contra o então presidente socialista Salvador Allende.
Pinochet foi internado no domingo retrasado, com problemas cardíacos.
Diferentes pesquisas de opinião divulgadas na última semana, logo após a internação, confirmaram a divisão chilena: entre 51% e 55% rejeitavam que o Estado realizasse um enterro com honras militares para o ex-ditador.
Pouco após a morte, a Fundação Presidente Augusto Pinochet divulgou uma nota afirmando que o Chile perdia “um de seus filhos mais notáveis”, um homem que “salvou o país da ruína” e foi o “arquiteto do novo Chile”.
Na mesma linha, o partido União Democrática Independente (UDI, que apóia o ex-general) criticava, também num comunicado, que o governo da presidente socialista Michelle Bachelet não tenha decidido render homenagens oficiais.
Morte sem condenação
Longe dali, a deputada Isabel Allende, filha do ex-presidente Salvador Allende, lamentava que o ex-ditador morreu sem ter sido condenado.
Quando perguntada por jornalistas da TV Chile sobre o que muda no país depois da morte do homem que passou 16 anos no poder, ela respondeu: “Não muda nada com a morte de Pinochet. Desde antes dela, já tínhamos a consciência de que não queremos mais golpes de Estado e mais injustiças”.
A presidente da Agrupação de Familiares de Presos e Desaparecidos, Lorena Pizarro, lembrou que a data da morte – 10 de dezembro – coincide com o Dia Internacional dos Direitos Humanos.
“Parece que a humanidade está dizendo basta ao ex-ditador”, disse.
O ex-ministro do Interior, o ex-senador Andrés Zaldívar, do partido Democracia Cristiana (DC), também se mostrou decepcionado com a morte de Pinochet, antes de ser julgado pelos crimes de que foi acusado.
Acusações
Entre as acusações que pesavam contra o ex-ditador estavam crimes contra direitos humanos e financeiros, como depósitos no exterior.
“Foram muitas mortes, tortura, dor, exílio, medo. São péssimas lembranças para Chile”, disse o ex-senador.
Zaldívar e o ex-presidente Ricardo Lagos entraram para a história do país ao defenderem a saída do Pinochet, nos anos 80.
Para ele, a transição chilena ainda não terminou, apesar dos quase 20 anos de democracia.
“A transição só terminará quando houver justiça para todos os que foram vítimas de Pinochet”.
Seu partido, DC, forma a chamada “Concertación” – base governista que une a legenda ao Partido Socialista, de Allende, do ex-presidente Lagos e da atual presidente, Bachelet.
A atual presidente foi uma das vítimas da era Pinochet. Ela foi presa com a mãe e, depois da morte do pai, na prisão, Bachelet deixou o país.
“Acho a morte provocou comoção nacional, mas ela vai desaparecer logo e o Chile será um país normal”, disse um analista no programa de TV Estado Nacional, na madrugada de domingo.
“Acho que ainda faltam muitas coisas a serem descobertas. A história não termina com a morte de Pinochet. As investigações ainda vão revelar muita coisa”, completava a analista Maria de Los Angeles Fernández, no mesmo programa.
O secretário geral da OEA (Organização dos Estados Americanos), o chileno José Miguel Insulza, que foi ministro de Lagos, disse que espera que, depois dessa morte, partidários e opositores de Augusto Pinochet possam “viver olhando para o futuro”.