Pinochet deve seguir causando polêmica por muito tempo, diz jornal
da BBC, em Londres
Com a morte de Augusto Pinochet, “desaparece a principal figura da política chilena de pelo menos as últimas três décadas”, afirma editorial publicado nesta segunda-feira pelo diário chileno La Tercera.
O jornal diz que “sua pessoa e seu regime parecem lamentavelmente destinados a seguir causando polêmica durante um longo período”.
O diário, que publicou uma edição especial de 68 páginas sobre a morte de Pinochet, diz esperar que “a partir de agora comecem a ser deixadas para trás as divisões que marcaram o país desde os anos 70 e que sua figura simboliza como nenhuma outra”.
“Sua morte é a ocasião para superar definitivamente a divisão sofrida pelo país”, diz o texto.
Já o também chileno La Nación adota posição mais crítica em relação a Pinochet, em editorial intitulado “Nunca Mais Pinochet”.
“Nem depois de mortos se pode relativizar com os ditadores. Pinochet foi mais um deles, mas o mais infame de nossa história”, afirma o texto.
Para o jornal, “pela primeira vez desde aquele sombrio 11 de setembro de 1973, na noite de ontem em milhares de lares foram muitos os que dormiram em paz”.
Enigma Pinochet
O New York Times observa em editorial que “o principal enigma sobre o ditador Augusto Pinochet Ugarte é que até recentemente ele mantinha admiradores no Chile e no exterior”. “Ele mascarou sua corrupção e brutalidade ao adequar o nível de repressão à exata medida que ele necessitava para manter o poder e o prestígio”, diz o texto.
Mas o jornal observa que a reputação de Pinochet “se desintegrou vagarosamente” após ele deixar o poder. Segundo o editorial, o fato de governos de esquerda terem mantido a política econômica de Pinochet demonstra que a repressão não era necessária para manter a disciplina econômica.
O editorial lembra ainda a recente descoberta de US$ 28 milhões em mais de cem contas secretas de Pinochet e observa que “no momento de sua morte, ele estava indiciado por seqüestros, tortura e assassinatos, além de acusações de corrupção, evasão fiscal e posse de passaportes falsos”.
“O tempo revelou que o general Pinochet, um dia admirado, foi perfeito apenas na manutenção do poder”, conclui o texto.
Dia Universal dos Direitos Humanos
O jornal espanhol El País observa a morte de Pinochet ocorreu, “significativamente”, no Dia Universal dos Direitos Humanos, mas que ele “morreu sem responder por seus crimes”.
O diário reproduz declarações do juiz espanhol Baltasar Garzón, que iniciou um processo contra Pinochet em 1998 por genocídio, terrorismo e torturas, de que as ações devem continuar “porque as vítimas não foram somente de Pinochet, mas também de outras pessoas, militares ou não militares, que estiveram implicados nos fatos”.
O também espanhol ABC diz em seu editorial que “a inquietante sombra do ex-ditador Pinochet deixou de se projetar sobre o presente do Chile”.
“Com sua morte, a sociedade chilena se desprende, por fim, de uma presença incômoda: a de alguém que traiu em 1973 a democracia à qual tinha o dever constitucional de respeitar, protagonizando até 1990 uma das ditaduras mais depreciáveis da história latino-americana”, afirma o jornal.
Crimes para o túmulo
Na Grã-Bretanha, o diário The Independent dedica quase a totalidade de sua capa à morte de Pinochet, com a manchete “Ele levou seus crimes para o túmulo” ao lado de uma foto sua em uniforme militar, batendo continência.
Na sua reportagem, o jornal observa que “sua morte por parada cardíaca deixa um legado discutido de repressão política brutal, salvação do marxismo e confusão civil”.
O diário The Guardian relata que minutos após a divulgação da notícia da morte de Pinochet, “carros circularam o centro da capital chilena, soando suas buzinas e agitando bandeiras para celebrar a morte do homem cujo golpe militar apoiado pelos Estados Unidos destruiu o primeiro governo marxista democraticamente eleito da América Latina”.
O diário The Daily Telegraph, por sua vez, lembra a proximidade do ex-líder do regime militar chileno com a ex-premiê britânica Margareth Thatcher, dizendo que ela se disse “profundamente entristecida” pelas notícias. “Ela afirmou que o general Pinochet ofereceu ajuda vital à Grã-Bretanha durante a guerra das Falkland (Malvinas) em 1982”, diz o jornal.
A reportagem do Daily Telegraph comenta que Pinochet uma vez declarou que a Grã-Bretanha era seu país favorito, mas lembra que ele foi obrigado a passar 16 meses em prisão domiciliar no país entre 1998 e 2000, enquanto aguardava a análise do pedido de extradição para a Espanha feito pelo juiz Baltasar Garzón para julgá-lo por abusos aos direitos humanos.
Um obituário publicado pelo diário The Times observa que seu período de prisão domiciliar em Londres se tornou um marco. “O legado final de Pinochet foi o de que ele se tornou um caso exemplar para o julgamento de ditadores por abusos aos direitos humanos durante seus períodos no poder.”
Sem honras de Estado
O jornal francês Libération relata que Pinochet terá um funeral com honras militares, mas não com honras de Estado, por ordem da presidente Michelle Bachelet. “Ela mesma foi presa com a mãe durante a ditadura de Pinochet, e seu pai foi torturado até a morte pela polícia política”, diz a reportagem.
O diário alemão Stuttgart Zeitung comenta que Pinochet “representava com perfeição” o modelo dos ditadores latino-americanos dos romances de autores como Gabriel García Marquez, Mario Vargas Llosa, Alejo Carpentier ou Miguel Angel Asturias.
O italiano La Repubblica afirma que Pinochet traiu não somente ao presidente Salvador Allende, que o havia nomeado comandante do Exército, mas também os demais generais conspiradores.
“Ele foi o último general a entrar na conspiração, não antes de muitas hesitações. Na manhã do golpe, ele se uniu aos outros generais com duas horas de atraso: queria ter certeza de que o golpe teria sucesso”, relata o texto, acrescentando que Pinochet traiu novamente os generais que compunham a junta militar, deixando-os de lado e assumindo o poder pessoalmente.
“E continuou a traí-los com sucesso até depois do fim da ditadura, quando tentou deixar a inteira responsabilidade pela repressão sobre seu chefe da polícia”, acrescenta o Repubblica.
O jornal diz que “sua pessoa e seu regime parecem lamentavelmente destinados a seguir causando polêmica durante um longo período”.
O diário, que publicou uma edição especial de 68 páginas sobre a morte de Pinochet, diz esperar que “a partir de agora comecem a ser deixadas para trás as divisões que marcaram o país desde os anos 70 e que sua figura simboliza como nenhuma outra”.
“Sua morte é a ocasião para superar definitivamente a divisão sofrida pelo país”, diz o texto.
Já o também chileno La Nación adota posição mais crítica em relação a Pinochet, em editorial intitulado “Nunca Mais Pinochet”.
“Nem depois de mortos se pode relativizar com os ditadores. Pinochet foi mais um deles, mas o mais infame de nossa história”, afirma o texto.
Para o jornal, “pela primeira vez desde aquele sombrio 11 de setembro de 1973, na noite de ontem em milhares de lares foram muitos os que dormiram em paz”.
Enigma Pinochet
O New York Times observa em editorial que “o principal enigma sobre o ditador Augusto Pinochet Ugarte é que até recentemente ele mantinha admiradores no Chile e no exterior”. “Ele mascarou sua corrupção e brutalidade ao adequar o nível de repressão à exata medida que ele necessitava para manter o poder e o prestígio”, diz o texto.
Mas o jornal observa que a reputação de Pinochet “se desintegrou vagarosamente” após ele deixar o poder. Segundo o editorial, o fato de governos de esquerda terem mantido a política econômica de Pinochet demonstra que a repressão não era necessária para manter a disciplina econômica.
O editorial lembra ainda a recente descoberta de US$ 28 milhões em mais de cem contas secretas de Pinochet e observa que “no momento de sua morte, ele estava indiciado por seqüestros, tortura e assassinatos, além de acusações de corrupção, evasão fiscal e posse de passaportes falsos”.
“O tempo revelou que o general Pinochet, um dia admirado, foi perfeito apenas na manutenção do poder”, conclui o texto.
Dia Universal dos Direitos Humanos
O jornal espanhol El País observa a morte de Pinochet ocorreu, “significativamente”, no Dia Universal dos Direitos Humanos, mas que ele “morreu sem responder por seus crimes”.
O diário reproduz declarações do juiz espanhol Baltasar Garzón, que iniciou um processo contra Pinochet em 1998 por genocídio, terrorismo e torturas, de que as ações devem continuar “porque as vítimas não foram somente de Pinochet, mas também de outras pessoas, militares ou não militares, que estiveram implicados nos fatos”.
O também espanhol ABC diz em seu editorial que “a inquietante sombra do ex-ditador Pinochet deixou de se projetar sobre o presente do Chile”.
“Com sua morte, a sociedade chilena se desprende, por fim, de uma presença incômoda: a de alguém que traiu em 1973 a democracia à qual tinha o dever constitucional de respeitar, protagonizando até 1990 uma das ditaduras mais depreciáveis da história latino-americana”, afirma o jornal.
Crimes para o túmulo
Na Grã-Bretanha, o diário The Independent dedica quase a totalidade de sua capa à morte de Pinochet, com a manchete “Ele levou seus crimes para o túmulo” ao lado de uma foto sua em uniforme militar, batendo continência.
Na sua reportagem, o jornal observa que “sua morte por parada cardíaca deixa um legado discutido de repressão política brutal, salvação do marxismo e confusão civil”.
O diário The Guardian relata que minutos após a divulgação da notícia da morte de Pinochet, “carros circularam o centro da capital chilena, soando suas buzinas e agitando bandeiras para celebrar a morte do homem cujo golpe militar apoiado pelos Estados Unidos destruiu o primeiro governo marxista democraticamente eleito da América Latina”.
O diário The Daily Telegraph, por sua vez, lembra a proximidade do ex-líder do regime militar chileno com a ex-premiê britânica Margareth Thatcher, dizendo que ela se disse “profundamente entristecida” pelas notícias. “Ela afirmou que o general Pinochet ofereceu ajuda vital à Grã-Bretanha durante a guerra das Falkland (Malvinas) em 1982”, diz o jornal.
A reportagem do Daily Telegraph comenta que Pinochet uma vez declarou que a Grã-Bretanha era seu país favorito, mas lembra que ele foi obrigado a passar 16 meses em prisão domiciliar no país entre 1998 e 2000, enquanto aguardava a análise do pedido de extradição para a Espanha feito pelo juiz Baltasar Garzón para julgá-lo por abusos aos direitos humanos.
Um obituário publicado pelo diário The Times observa que seu período de prisão domiciliar em Londres se tornou um marco. “O legado final de Pinochet foi o de que ele se tornou um caso exemplar para o julgamento de ditadores por abusos aos direitos humanos durante seus períodos no poder.”
Sem honras de Estado
O jornal francês Libération relata que Pinochet terá um funeral com honras militares, mas não com honras de Estado, por ordem da presidente Michelle Bachelet. “Ela mesma foi presa com a mãe durante a ditadura de Pinochet, e seu pai foi torturado até a morte pela polícia política”, diz a reportagem.
O diário alemão Stuttgart Zeitung comenta que Pinochet “representava com perfeição” o modelo dos ditadores latino-americanos dos romances de autores como Gabriel García Marquez, Mario Vargas Llosa, Alejo Carpentier ou Miguel Angel Asturias.
O italiano La Repubblica afirma que Pinochet traiu não somente ao presidente Salvador Allende, que o havia nomeado comandante do Exército, mas também os demais generais conspiradores.
“Ele foi o último general a entrar na conspiração, não antes de muitas hesitações. Na manhã do golpe, ele se uniu aos outros generais com duas horas de atraso: queria ter certeza de que o golpe teria sucesso”, relata o texto, acrescentando que Pinochet traiu novamente os generais que compunham a junta militar, deixando-os de lado e assumindo o poder pessoalmente.
“E continuou a traí-los com sucesso até depois do fim da ditadura, quando tentou deixar a inteira responsabilidade pela repressão sobre seu chefe da polícia”, acrescenta o Repubblica.