A persistência do vinil
da BBC, em Londres
Há um cantinho do Reino Unido onde o vinil ainda resiste.
Aos trancos e barrancos dos fregueses, aos chiados e estalos dos discos, que vêm não só em 78, 45 e 33 rotações por minuto, mas também em cilindros de cera, se o distinto estiver disposto a gastar uma nota.
Este cantinho, como tudo que tem história, pai, mãe e avós, está ameaçado.
Por quem? Pelo progresso, que muitos insistem que nada deve ficar em seu caminho: nem pedra sobre pedra nem vinil sobre vinil.
O progresso é uma espécie de Átila, o Bárbaro, só que digitalizado.
Spillers
O que há é que corre o perigo de deixar de ser a mais antiga loja de discos do mundo. Seu nome é Spiller Records, fica em Cardiff, no País de Gales, e foi fundada em 1894 por Henry Spiller, que numa arcada, a Queen's Arcade, inaugurou o estabelecimento, à época especializado na venda de fonógrafos, cilindros fonográficos e discos de goma laca.
No início dos anos 20, o filho de Spiller, Edward, tomou conta do negócio e, com o auxílio de um acordeonista e líder de orquestra popular, Joe Gregory, passou a vender também instrumentos musicais, além das então populares partituras e, claro, músicas pré-gravadas.
Em fins da década de 40, a loja mudou-se para um espaço bem maior, logo na esquina da arcada, e lá ficou até hoje. A Spillers, com esse passado todo, adaptou-se, e muito bem, ao presente, como o fará ao futuro, se assim deixarem.
Lá vendem conjuntos que nem eu e nem o distinto aí, que se julga tão por dentro das bandas modernas, ouvimos falar, ou, a bem da verdade, cantar e tocar.
Por exemplo, o Evils, que vem em formato de EP, um conjunto elétrico galês que ainda recentemente se apresentou na loja. Para quem sabe das coisas, e está por dentro do som produzido pelo Manic Street Preachers, tome ciência de que lá, na Spillers, é que a rapaziada começou a tocar: mandando brasa na rua mesmo, em frente à loja, para grande alegria e apreciação do dono e da freguesia presente ou passante.
Não pára aí o desfile de celebridades que passou pela Spillers. Saiba que Cerys Matthews, do Catatonia, costumava passar horas mexendo nas pilhas de discos indies, possivelmente em busca de inspiração.
Carecem de fundamento os boatos de que Johnny Mathis, a cada excursão a estas ilhas, insiste em dar uma chegada à Spillers, para ver o que há de novo, ou, a bem dizer, o que há de velho.
E tem mais: colecionadores fanáticos sabem muito bem que, se não conseguirem em nenhuma das dezenas de lojas Virgin, uma cópia de um single raríssimo do Stone Roses, distribuído em vinil dourado, tanto nestas ilhas como na ilha de Manhattan, onde os vendedores nem sequer ouviram falar na preciosidade, basta aparecer na Spillers de Cardiff, onde inclusive, numa concessão século XXI, aceitam cartões de crédito, contanto que sejam em vinil, é claro.
Escavadeiras, volver
Mas há a ameaça concretíssima de derrubarem a Spillers para em seu lugar construírem… qualquer coisa, ora! A ameaça, insisto e insistem, criou pânico nas hostes vinileiras ou simplesmente conservadoras.
Mais de 2 mil pessoas já assinaram uma petição pedindo para que poupem essa catedral do vinil. Metade dos membros da assembléia galesa assinaram uma declaração em separado exigindo, como é do feitio das assembléias, que deixem a Spillers em paz no lugar em que está.
Não bastasse, até a companhia de discos Columbia, que gosta de se dizer o mais velho rótulo, ou selo fonográfico do mundo, incentivou seus contratados britânicos (vocês manjam: os Zutons, o Coral, essa turma) a assinarem a tal da petição.
Rouco, chiando, estalando, sem entender nada de Zutons e Coral, mais para Dean Martin do que para Manic Street Preachers, de meu canto na Inglaterra peço para que não mexam com o vinil. Eu mexi um dia e até hoje, dando banhinho de detergente nos meus LPs, me arrependo.
Aos trancos e barrancos dos fregueses, aos chiados e estalos dos discos, que vêm não só em 78, 45 e 33 rotações por minuto, mas também em cilindros de cera, se o distinto estiver disposto a gastar uma nota.
Este cantinho, como tudo que tem história, pai, mãe e avós, está ameaçado.
Por quem? Pelo progresso, que muitos insistem que nada deve ficar em seu caminho: nem pedra sobre pedra nem vinil sobre vinil.
O progresso é uma espécie de Átila, o Bárbaro, só que digitalizado.
Spillers
O que há é que corre o perigo de deixar de ser a mais antiga loja de discos do mundo. Seu nome é Spiller Records, fica em Cardiff, no País de Gales, e foi fundada em 1894 por Henry Spiller, que numa arcada, a Queen's Arcade, inaugurou o estabelecimento, à época especializado na venda de fonógrafos, cilindros fonográficos e discos de goma laca.
No início dos anos 20, o filho de Spiller, Edward, tomou conta do negócio e, com o auxílio de um acordeonista e líder de orquestra popular, Joe Gregory, passou a vender também instrumentos musicais, além das então populares partituras e, claro, músicas pré-gravadas.
Em fins da década de 40, a loja mudou-se para um espaço bem maior, logo na esquina da arcada, e lá ficou até hoje. A Spillers, com esse passado todo, adaptou-se, e muito bem, ao presente, como o fará ao futuro, se assim deixarem.
Lá vendem conjuntos que nem eu e nem o distinto aí, que se julga tão por dentro das bandas modernas, ouvimos falar, ou, a bem da verdade, cantar e tocar.
Por exemplo, o Evils, que vem em formato de EP, um conjunto elétrico galês que ainda recentemente se apresentou na loja. Para quem sabe das coisas, e está por dentro do som produzido pelo Manic Street Preachers, tome ciência de que lá, na Spillers, é que a rapaziada começou a tocar: mandando brasa na rua mesmo, em frente à loja, para grande alegria e apreciação do dono e da freguesia presente ou passante.
Não pára aí o desfile de celebridades que passou pela Spillers. Saiba que Cerys Matthews, do Catatonia, costumava passar horas mexendo nas pilhas de discos indies, possivelmente em busca de inspiração.
Carecem de fundamento os boatos de que Johnny Mathis, a cada excursão a estas ilhas, insiste em dar uma chegada à Spillers, para ver o que há de novo, ou, a bem dizer, o que há de velho.
E tem mais: colecionadores fanáticos sabem muito bem que, se não conseguirem em nenhuma das dezenas de lojas Virgin, uma cópia de um single raríssimo do Stone Roses, distribuído em vinil dourado, tanto nestas ilhas como na ilha de Manhattan, onde os vendedores nem sequer ouviram falar na preciosidade, basta aparecer na Spillers de Cardiff, onde inclusive, numa concessão século XXI, aceitam cartões de crédito, contanto que sejam em vinil, é claro.
Escavadeiras, volver
Mas há a ameaça concretíssima de derrubarem a Spillers para em seu lugar construírem… qualquer coisa, ora! A ameaça, insisto e insistem, criou pânico nas hostes vinileiras ou simplesmente conservadoras.
Mais de 2 mil pessoas já assinaram uma petição pedindo para que poupem essa catedral do vinil. Metade dos membros da assembléia galesa assinaram uma declaração em separado exigindo, como é do feitio das assembléias, que deixem a Spillers em paz no lugar em que está.
Não bastasse, até a companhia de discos Columbia, que gosta de se dizer o mais velho rótulo, ou selo fonográfico do mundo, incentivou seus contratados britânicos (vocês manjam: os Zutons, o Coral, essa turma) a assinarem a tal da petição.
Rouco, chiando, estalando, sem entender nada de Zutons e Coral, mais para Dean Martin do que para Manic Street Preachers, de meu canto na Inglaterra peço para que não mexam com o vinil. Eu mexi um dia e até hoje, dando banhinho de detergente nos meus LPs, me arrependo.