Relatório pede mudança em política externa britânica

da BBC, em Londres

Um relatório de um importante centro de estudos britânico descrevendo a guerra no Iraque como “um erro terrível” e pedindo um “rebalanceamento” da política externa da Grã-Bretanha aumentou o debate sobre a posição do país no mundo após a saída do premiê Tony Blair do poder.

Ele é parte de um quadro que mostra que a Grã-Bretanha ainda não decidiu realmente onde quer estar no cenário mundial.

Aproximando-se demais dos Estados Unidos, corre o risco de ser arrastada pelas políticas dominadas pelos americanos e que podem levar à guerra.

Mas abraçar a União Européia traz o risco oposto de adotar um processo de tomada de decisões conjunto que poderia levar à perda de soberania.

Argumentos

O relatório, do centro de estudos Chatham House, foi escrito pelo seu diretor, Victor Bulmer-Thomas.

Dado o peso que a Chatham House tem sobre as questões internacionais, ele deve fortalecer os argumentos daqueles que acreditam que, no governo de Blair, a Grã-Bretanha tem sido próxima demais dos Estados Unidos.

“O(s) sucessor(es) de Tony Blair não serão capazes de oferecer apoio incondicional para as iniciativas dos Estados Unidos em política internacional, e o rebalanceamento da política externa britânica entre os Estados Unidos e a Europa deverá acontecer”, disse Bulmer-Thomas.

Ele considera os ataques terroristas de 11 de setembro de 2001 como “sem sombra de dúvidas o momento de definição da política externa de Blair – realmente o momento de definição de todo seu governo”.

Isso levou, segundo o relatório, ao “erro terrível” do Iraque.

Ainda assim, apesar de seu apoio ao presidente George W. Bush, diz o relatório, Blair não conseguiu muito em troca.

Relacionamento "especial"

O relacionamento com os Estados Unidos, descrito na Grã-Bretanha como “especial”, nunca é chamado por Washington como mais que “próximo”, alega o documento.

As conclusões do relatório confirmam que, ao menos que haja alguma estabilização no Iraque, a interpretação do legado de Blair parece destinada a ser mediana.

Porém o documento está sendo contestado fortemente pelos aliados de Blair.

A ministra das Relações Exteriores, Margaret Beckett, afirmou em um comunicado: “Este documento é sem substância e simplesmente errado. A Chatham House estabeleceu uma reputação ao longo dos anos, mas este relatório não fará nada para melhorá-la”.

Historicamente, Tony Blair teve um relacionamento com um presidente americano mais próximo que qualquer primeiro-ministro britânico desde a era Thatcher-Reagan e, antes disso, desde que Harold Macmillan persuadiu John Kennedy a dar à Grã-Bretanha o míssil nuclear Polaris.

Sombra

Todo primeiro-ministro enfrenta este problema. Todos vivem sob a sombra da dupla Churchill-Roosevelt. Suas respostas variam bastante, independentemente de suas posições políticas.

O conservador Ted Heath manteve sua distância dos Estados Unidos e levou a Grã-Bretanha à Europa.

O trabalhista Harold Wilson percorreu um caminho mais cuidadoso com Lyndon Johnson sobre a guerra do Vietnã.

Wilson não participou daquela guerra, mas ao mesmo tempo evitou criticar a política americana, numa posição que levou seu ministro das Relações Exteriores, Michael Stewart, a alguns contorcionismos verbais embaraçosos.

Blair mudou para a direção de Washigton não, porém, porque ele pensava que havia algo a ganhar em troca, apesar de que ele esperaria uma ação maior dos Estados Unidos sobre o conflito israelo-palestino.

Qualquer um que tenha visto seu primeiro encontro com George W. Bush, sob a neve de Camp David, logo após a posse do presidente americano em 2001, pode ficar com poucas dúvidas de que houve uma súbita compatibilidade de mentes, de fato quase de almas.

Aventura

Bush não arrastou Blair com ele para qualquer aventura. Blair foi para o Iraque com os olhos abertos.

Ele está agora pagando o preço por isso. Igualmente ele colherá a recompensa se as coisas melhorarem no longo prazo.

O “rebalanceamento” que o relatório da Chatham House pede não é tão simples como pode parecer.

De fato, Bulmer-Thomas reconhece isso quando diz que “o público britânico ainda está pouco confortável no papel de europeu”.

Se muitos britânicos não parecem gostar de adesão a políticas americanas do tipo que vimos nos últimos anos, muitos outros provavelmente não gostariam do seu oposto.

Esta é a razão pela qual qualquer primeiro-ministro no futuro próximo enfrentará o que se tornou um dilema permanente.


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