Insurgência vai resistir até mesmo à morte de Saddam
da BBC, em Londres
A morte de Saddam Hussein não deve trazer os benefícios que se espera de uma medida tão drástica.
Foi o final de um processo inevitável, que começou quando Saddam Hussein foi preso, encontrado em um esconderijo. Contudo, sua capacidade de frustrar os planos de seus oponentes continuará tão grande em sua morte como era quando ele estava vivo.
Saddam sabia que não poderia vencer uma coalizão liderada pelos Estados Unidos em um campo de batalha. Assim, antes de ser tirado do poder, deixou instruções específicas para seus seguidores destruírem a infra-estrutura civil e se aliar a rebeldes islâmicos.
Tais táticas continuam a evitar que o Iraque se estabilize e a insurgência passou a existir por si só, determinada a sobreviver à morte de Saddam Hussein.
“Justiça dos vencedores”
Se vai alterar alguma coisa, sua morte só aumentará a determinação dos insurgentes sunitas que recrutam novos soldados para a causa. Eles se perguntam: “o que temos a perder?”, enquanto vêem seus rivais xiitas assumindo o controle das forças armadas e da polícia.
Para esses radicais, a morte de Saddam é “justiça dos vencedores”, levada a a cabo nas instalações super-protegidas da impenetrável “zona verde” (região de Bagdá onde estão instaladas as autoridades americanas e iraquianas).
A transparência do julgamento, que teve todos os seus estágios transmitidos pela TV, não foi suficiente para mudar essa percepção. O novo sectarismo, despertado pelos ataques ao templo de Samarra, em fevereiro deste ano, está alterando a geografia da capital iraquiana com as milícias demarcando seus territórios.
Celebrações pela morte de Saddam nas áreas xiitas só devem piorar as divisões. Tais comemorações certamente são genuínas e é difícil negar o prazer sentido por aqueles que sofreram sob o regime de Saddam Hussein.
Em particular, isso é verdade entre os iraquianos do sul do país, que tiveram sua vida destruída pelo genocídio que se seguiu à tentativa de levante em 1991 e os curdos, que sempre foram perseguidos pelo ex-líder.
Julgamento justo?
E mesmo aqui no Iraque, a lisura do julgamento é questionada. A Ong Human Rights Watch, que acompanhou o processo diariamente, foi bastante crítica em relação à qualidade da justiça no caso.
A conclusão da entidade é de que não foi um julgamento justo e que a sentença é questionável. Neste caso, eles dizem que “a imposição da pena de morte – uma punição naturalmente cruel e desumana – é indefensável em um julgamento injusto”.
Eles criticaram a condução do julgamento, a proteção às testemunhas, a falta de acesso da defesa às provas e os comentários preconceituosos feitos por diversos políticos iraquianos, que teriam usado a corte como palanque político.
Também há dúvidas em relação ao longo e detalhado exame de provas no caso de Dujail – cuja condenação causou a morte de Saddam – enquanto as mortes ocorridas em regiões curdas foram analisadas às pressas.
Considerando que este foi o maior julgamento do tipo desde os julgamentos em Nuremberg, no finam da Segunda Guerra Mundial, foi grande o desapontamento de observadores legais em relação aos padrões de conduta.
Mas no Iraque, nada saiu exatamente como o planejado.
Foi o final de um processo inevitável, que começou quando Saddam Hussein foi preso, encontrado em um esconderijo. Contudo, sua capacidade de frustrar os planos de seus oponentes continuará tão grande em sua morte como era quando ele estava vivo.
Saddam sabia que não poderia vencer uma coalizão liderada pelos Estados Unidos em um campo de batalha. Assim, antes de ser tirado do poder, deixou instruções específicas para seus seguidores destruírem a infra-estrutura civil e se aliar a rebeldes islâmicos.
Tais táticas continuam a evitar que o Iraque se estabilize e a insurgência passou a existir por si só, determinada a sobreviver à morte de Saddam Hussein.
“Justiça dos vencedores”
Se vai alterar alguma coisa, sua morte só aumentará a determinação dos insurgentes sunitas que recrutam novos soldados para a causa. Eles se perguntam: “o que temos a perder?”, enquanto vêem seus rivais xiitas assumindo o controle das forças armadas e da polícia.
Para esses radicais, a morte de Saddam é “justiça dos vencedores”, levada a a cabo nas instalações super-protegidas da impenetrável “zona verde” (região de Bagdá onde estão instaladas as autoridades americanas e iraquianas).
A transparência do julgamento, que teve todos os seus estágios transmitidos pela TV, não foi suficiente para mudar essa percepção. O novo sectarismo, despertado pelos ataques ao templo de Samarra, em fevereiro deste ano, está alterando a geografia da capital iraquiana com as milícias demarcando seus territórios.
Celebrações pela morte de Saddam nas áreas xiitas só devem piorar as divisões. Tais comemorações certamente são genuínas e é difícil negar o prazer sentido por aqueles que sofreram sob o regime de Saddam Hussein.
Em particular, isso é verdade entre os iraquianos do sul do país, que tiveram sua vida destruída pelo genocídio que se seguiu à tentativa de levante em 1991 e os curdos, que sempre foram perseguidos pelo ex-líder.
Julgamento justo?
E mesmo aqui no Iraque, a lisura do julgamento é questionada. A Ong Human Rights Watch, que acompanhou o processo diariamente, foi bastante crítica em relação à qualidade da justiça no caso.
A conclusão da entidade é de que não foi um julgamento justo e que a sentença é questionável. Neste caso, eles dizem que “a imposição da pena de morte – uma punição naturalmente cruel e desumana – é indefensável em um julgamento injusto”.
Eles criticaram a condução do julgamento, a proteção às testemunhas, a falta de acesso da defesa às provas e os comentários preconceituosos feitos por diversos políticos iraquianos, que teriam usado a corte como palanque político.
Também há dúvidas em relação ao longo e detalhado exame de provas no caso de Dujail – cuja condenação causou a morte de Saddam – enquanto as mortes ocorridas em regiões curdas foram analisadas às pressas.
Considerando que este foi o maior julgamento do tipo desde os julgamentos em Nuremberg, no finam da Segunda Guerra Mundial, foi grande o desapontamento de observadores legais em relação aos padrões de conduta.
Mas no Iraque, nada saiu exatamente como o planejado.