Dia das Caixas

da BBC, em Londres

Terça-feira, 26 de dezembro, também feriado aqui: o Dia das Caixas, ou Boxing Day no original.

As maiúsculas devem ser preservadas em sinal de respeito à tradição que ainda perdura por grande parte do que muitos chamam, sem ironia, de Comunidade Britânica de Nações, ou, em itálico, que impõe aos tolos um respeito ainda maior, a Commonwealth. Quer dizer, o “feriadão” não é invenção nossa.

Eles já tinham descoberto esse caminho por terra para a Índia há séculos. O segredo do negócio, seu jogo de cintura, está todo na nomenclatura da jogada. É para ela inventar uma boa e bela origem. Daí é só ficar em casa cuidando da ressaca e da indigestão.



Muitas são as versões sobre a possível origem do Dia das Caixas. O cidadão vai e pega aquela que mais lhe agradar, como se estivesse diante dos presentes distribuídos em torno da árvore de Natal. Basta consultar o Google e, agora, até mesmo o YouYube (tem que ter videozinho) para tomar conhecimento. Passemos os olhos nas origens com maiores possibilidades ou charme.

Raízes e origens

Diz a lenda que o druida Leocaprio apaixonado pela também druida Britneida quis presenteá-la com a mais bela e brilhante estrela a cintilar nos céus. Cego como uma toupeira, e ainda por cima desajeitado, Leocaprio empilhou várias pedras e tentou por essa improvisada escada alcançar o astro que o fascinava e por certo tornaria sua a bela Britneida. Leocaprio caiu (e caiu feio), a pedraria rolou por cima dele, uma pedra maior atingiu sua fronte e o druida apaixonado teve morte instantânea.

Foi enterrado numa caixa já que os druidas sabiam ser misteriosos, mas não entendiam nada de caixão, só de caixa. Desde então – é o que certas facções dizem – o trágico sonho inatingível de Leocaprio é comemorado com um feriado extra logo depois do Natal, já que de Natal, apesar de todos os esoterismos celtas, os druidas manjavam. É pouco plausível a origem do Dia das Caixas remontar aos druidas, mas nunca discuta a questão com um druida. Eles são terríveis.

Outra lenda diz que tudo começou com a rainha Vitória, que, depois de se fartar comendo, bebendo e abrindo presentes, tacava os restos todos nas caixas que estivessem dando sopa pelo castelo em que, na festiva ocasião, residisse Sua Majestade comemorando a data magna do Cristianismo. A rainha Vitória, caindo pelas tabelas de tanto licor de ovo, saía então pelas ruas da cidade distribuindo caixas para os pobres. Pobres pobres!

Muitos quase morriam de alegria quando pegavam no ar a caixa jogada pelo cocheiro da Rainha e viam que, do lado de fora, estava escrito o nome do mais recente videogame ou a grife de um estilista em voga, para no interior encontrarem apenas uma coxinha magra de galinha, uma coroa de papel crepom e um apito quebrado de matéria plástica. Era um desaforo, sem dúvida, e se não é bem essa a origem da data, podemos quase que garantir que data dessa época a descoberta pelos povos destas ilhas do socialismo e outras ideologias exóticas.

A pura verdade

Como tudo mais, a verdade é mais simples. Das duas, uma: ou eram as caixas nas igrejas onde os ricos amansavam (não que elas rugissem) suas consciências dando uns trocados para os destituídos, ou então eram as caixas de presentes que os empregados, atarefadíssimos nos dias 24 e 25, só iam encontrar tempo para abrir no dia 26, nelas (as caixas) encontrando coxinha magra de galinha, coroa de papel crepom e apito quebrado de matéria plástica.

A verdade acima de tudo

O importante é que 26 de dezembro é feriado, mas não para o comércio que vende tudo que puder por preços de abafar além de deixarem Papai Noel maluco, conforme se dizia. É liquidação, liquidação e liquidação. Os descontos chegam a atingir os 70% e 80% dos cidadãos londrinos dão uma chegada a Oxford Street para comprarem um sofá. Esse é o único verdadeiro mistério da história toda: por que compram tantos sofás, os ingleses? Não sei e ninguém sabe, nunca tentaram uma explicação. Só tem uma coisa: mudem logo o nome do dia para Dia do So


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