Ivan Lessa: Resoluções de ano novo
da BBC, em Londres
Se todo mundo, aproveitando o embalo do Natal e da passagem do ano, tem por hábito (ao menos até os 18 anos e depois dos 70) fazer resoluções de Ano Novo, também faço as minhas, depois de prestar muita atenção naquelas enumeradas em suplementos dos jornais sem assunto neste período de “festas”, pois assim chamam esta época na falta de pejorativos mais agressivos e sem querer alienar os leitores, que, aliás, abandonam em massa a leitura de folhas – só dá Internet, Internet, Internet.
A primeira resolução é deixar de comprar jornal. Não de deixar de ler jornal. Apenas parar de comprar. O cidadão entra no ônibus ou no metrô aqui e logo vem um companheiro com um jornal estalando de novo na mão para distribuir gratuitamente. São jornais relativos, em nada alternativos, especificamente sobre e para Londres e até que bem feitinhos.
Lendo-os, nada se saberá sobre o aumento da violência na favela do Vidigal ou quantos cubanos chegaram a Miami nos últimos 15 dias, mas lá estarão dados e opiniões sobre os bairros pobres onde os assaltos às lojinhas da esquina são mais prováveis e que há um mundo de sugestões para se combater a poluição e o lixo no centro da cidade. Saddam foi enforcado? É o tipo da notícia internacional que pega o jornal grátis. Por aí.
Leituras
A segunda resolução também diz respeito a leituras. Passar a ler o mínimo possível de livros. Os livros estão cada vez maiores, cada vez mais parecidos uns com os outros e cada vez mais chatos. Ler apenas, no máximo, dois livros por ano, e se forem escritos por amigo do peito ou parente. De resto, apenas reler. Quem? A turma de sempre: Machado, Euclides e Lima Barreto, para ficar apenas entre os brasileiros. Se der tempo, um Eça de Queiroz não pegaria mal. Qualquer um, tanto faz.
A terceira resolução continua no campo de Johannes Gutenberg. Não publicar livro de jeito nenhum. Se você for muito moço, ou muito mocinha, e se derreter todo diante dos poemas de pé quebrado que cometeu (conforme se dizia) ao papel, vá imediatamente para o computador e faça como todo mundo: blogue-os.
Alguém fatalmente os lerá, pois a Net é 95% feita por tolos para 98% de bobalhões. Não vá na conversa desse amigo que jura que conhece um cara numa editora e que ele garante publicação, contanto que você pague – uma ninharia – pela edição de 1000 exemplares, claro.
As outras resoluções, confesso que estou na dúvida. Não sei se deixar de me sentir mal conta como resolução. Independe de mim. Alguém, em algum lugar, tem que fazer uma reza dessas bem poderosas para os demônios das mazelas físicas me deixarem em paz e pararem de me derrubar da escada, tal como fizeram agora mesmo no Natal.
Também não sei se vale resolução já resolvida mas que muita gente boa não consegue manter: parar de fumar, parar de beber, parar de me drogar, parar de roubar, parar de dar em cima da mulher dos outros e por aí afora. Estou disposto a ceder parte das resoluções por mim tomadas em outros anos (ou por circunstâncias tendo sido forçado a tomar) e compartilhá-las com quem delas estiver necessitado, precisando apenas de um pequeno empurrão no pedregoso terreno da auto-ajuda. Estamos aqui para servi-lo, distinto. Em que posso ser útil?
Adotarei, em 2007, a atitude e os modos de um balconista de armarinho. Esta a última resolução que me ocorre no momento. Compartilhar minhas poucas e humildes conquistas de experiência de vida no setor humanista com os menos privilegiados e os destituídos.
Curioso, mas continuo estranhando esta luz que jorra dos céus banhando meus caminhos por Londres.
A primeira resolução é deixar de comprar jornal. Não de deixar de ler jornal. Apenas parar de comprar. O cidadão entra no ônibus ou no metrô aqui e logo vem um companheiro com um jornal estalando de novo na mão para distribuir gratuitamente. São jornais relativos, em nada alternativos, especificamente sobre e para Londres e até que bem feitinhos.
Lendo-os, nada se saberá sobre o aumento da violência na favela do Vidigal ou quantos cubanos chegaram a Miami nos últimos 15 dias, mas lá estarão dados e opiniões sobre os bairros pobres onde os assaltos às lojinhas da esquina são mais prováveis e que há um mundo de sugestões para se combater a poluição e o lixo no centro da cidade. Saddam foi enforcado? É o tipo da notícia internacional que pega o jornal grátis. Por aí.
Leituras
A segunda resolução também diz respeito a leituras. Passar a ler o mínimo possível de livros. Os livros estão cada vez maiores, cada vez mais parecidos uns com os outros e cada vez mais chatos. Ler apenas, no máximo, dois livros por ano, e se forem escritos por amigo do peito ou parente. De resto, apenas reler. Quem? A turma de sempre: Machado, Euclides e Lima Barreto, para ficar apenas entre os brasileiros. Se der tempo, um Eça de Queiroz não pegaria mal. Qualquer um, tanto faz.
A terceira resolução continua no campo de Johannes Gutenberg. Não publicar livro de jeito nenhum. Se você for muito moço, ou muito mocinha, e se derreter todo diante dos poemas de pé quebrado que cometeu (conforme se dizia) ao papel, vá imediatamente para o computador e faça como todo mundo: blogue-os.
Alguém fatalmente os lerá, pois a Net é 95% feita por tolos para 98% de bobalhões. Não vá na conversa desse amigo que jura que conhece um cara numa editora e que ele garante publicação, contanto que você pague – uma ninharia – pela edição de 1000 exemplares, claro.
As outras resoluções, confesso que estou na dúvida. Não sei se deixar de me sentir mal conta como resolução. Independe de mim. Alguém, em algum lugar, tem que fazer uma reza dessas bem poderosas para os demônios das mazelas físicas me deixarem em paz e pararem de me derrubar da escada, tal como fizeram agora mesmo no Natal.
Também não sei se vale resolução já resolvida mas que muita gente boa não consegue manter: parar de fumar, parar de beber, parar de me drogar, parar de roubar, parar de dar em cima da mulher dos outros e por aí afora. Estou disposto a ceder parte das resoluções por mim tomadas em outros anos (ou por circunstâncias tendo sido forçado a tomar) e compartilhá-las com quem delas estiver necessitado, precisando apenas de um pequeno empurrão no pedregoso terreno da auto-ajuda. Estamos aqui para servi-lo, distinto. Em que posso ser útil?
Adotarei, em 2007, a atitude e os modos de um balconista de armarinho. Esta a última resolução que me ocorre no momento. Compartilhar minhas poucas e humildes conquistas de experiência de vida no setor humanista com os menos privilegiados e os destituídos.
Curioso, mas continuo estranhando esta luz que jorra dos céus banhando meus caminhos por Londres.