Lucas Mendes: Sonhos Pequenos
da BBC, em Londres
“Vai dar errado" garante nosso prefeito em Nova York. Homem de visão a longo prazo, ele tem planos bilionários para a Nova York 2030 "porque vai faltar energia, transporte, moradia e serviços em geral".
A estrutura de abastecimento de água, que foi planejada há mais de 50 anos, vai sobrar mesmo se a previsão do aumento da população para 9 milhões e 200 mil estiver certa. Hoje estamos com 8 milhões e uns trocados, sem contar os ilegais.
O prefeito é querido, está lá em cima nas pesquisas, mas a turma não está a fim de investir no futuro.
Pena. A história desta cidade foi feita por visionários como o governador Clinton que abriu um canal dos Grandes Lagos ate o Hudson e multiplicou por mil o comercio do porto de Nova York.
La Guardia
O projeto tinha sido rejeitado pelo governo como uma miragem impagável, mas a população bancou e Nova York em poucos anos superou todas outras cidades americanas.
A outra grande mudança aconteceu no século 20, durante a recessão, na década de 30, com Fiorello La Guardia, um prefeito italiano republicano que conseguiu tirar mais dinheiro do presidente Roosevelt do que qualquer democrata.
O homem fera do prefeito era o planejador Robert Moses que, contrariando as leis da época, chegou a ter doze cargos públicos. Milionário, o negócio dele não era dinheiro nem trabalhava por salário. Era visão e poder. Certa época teve 80 mil homens destruindo e construindo para ele.
Não podia ver área pobre ou congestionada que mandava derrubar para construir estradas ou parques. O Harlem escapou por pouco. Grande parte do Village também. No Rio não teria sobrado uma favela.
Triboro
Mesmo com a generosidade federal, o problema maior era verba para os projetos. Fiorello vivia fugindo de Moses que era um carrapato agressivo quando queria alguma coisa.
Com Moses cansado de pedir e o prefeito cansado de negar e acabar cedendo, Fiorello autorizou a construção da ponte Triboro que uniria três bairros, Manhattan, o Bronx e Queens e concordou que Moses administraria o dinheiro do pedágio desde que nunca mais enchesse o saco por dinheiro.
A ponte mais famosa de Nova York é a de Brooklyn, mas a que pagou pelos projetos gigantescos de Moses e reconstruiu boa parte de Nova York foi a Triboro que, em si, foi uma obra faraônica.
As bases da ponte são maiores que as da maior pirâmide do Egito e a sua construção custou mais do que a estrada imperial dos romanos.
Na época Moses garantiu que o projeto eventualmente se pagaria com um pedágio de 10 centavos. Pagou não só pela própria construção como vários outros projetos e, durante anos, o pedágio ajudou a corromper políticos.
Hoje são outros quinhentos. Os planos para salvar Times Square, por exemplo, foram engavetados por quase 3 décadas. Quem acabou bancando a reconstrução foi a iniciativa privada.
Se a utopia do prefeito depender dos moradores de hoje vai mesmo fracassar porque a cidade que nunca dorme prefere sonhar pequeno. Conta grande dá pesadelo
A estrutura de abastecimento de água, que foi planejada há mais de 50 anos, vai sobrar mesmo se a previsão do aumento da população para 9 milhões e 200 mil estiver certa. Hoje estamos com 8 milhões e uns trocados, sem contar os ilegais.
O prefeito é querido, está lá em cima nas pesquisas, mas a turma não está a fim de investir no futuro.
Pena. A história desta cidade foi feita por visionários como o governador Clinton que abriu um canal dos Grandes Lagos ate o Hudson e multiplicou por mil o comercio do porto de Nova York.
La Guardia
O projeto tinha sido rejeitado pelo governo como uma miragem impagável, mas a população bancou e Nova York em poucos anos superou todas outras cidades americanas.
A outra grande mudança aconteceu no século 20, durante a recessão, na década de 30, com Fiorello La Guardia, um prefeito italiano republicano que conseguiu tirar mais dinheiro do presidente Roosevelt do que qualquer democrata.
O homem fera do prefeito era o planejador Robert Moses que, contrariando as leis da época, chegou a ter doze cargos públicos. Milionário, o negócio dele não era dinheiro nem trabalhava por salário. Era visão e poder. Certa época teve 80 mil homens destruindo e construindo para ele.
Não podia ver área pobre ou congestionada que mandava derrubar para construir estradas ou parques. O Harlem escapou por pouco. Grande parte do Village também. No Rio não teria sobrado uma favela.
Triboro
Mesmo com a generosidade federal, o problema maior era verba para os projetos. Fiorello vivia fugindo de Moses que era um carrapato agressivo quando queria alguma coisa.
Com Moses cansado de pedir e o prefeito cansado de negar e acabar cedendo, Fiorello autorizou a construção da ponte Triboro que uniria três bairros, Manhattan, o Bronx e Queens e concordou que Moses administraria o dinheiro do pedágio desde que nunca mais enchesse o saco por dinheiro.
A ponte mais famosa de Nova York é a de Brooklyn, mas a que pagou pelos projetos gigantescos de Moses e reconstruiu boa parte de Nova York foi a Triboro que, em si, foi uma obra faraônica.
As bases da ponte são maiores que as da maior pirâmide do Egito e a sua construção custou mais do que a estrada imperial dos romanos.
Na época Moses garantiu que o projeto eventualmente se pagaria com um pedágio de 10 centavos. Pagou não só pela própria construção como vários outros projetos e, durante anos, o pedágio ajudou a corromper políticos.
Hoje são outros quinhentos. Os planos para salvar Times Square, por exemplo, foram engavetados por quase 3 décadas. Quem acabou bancando a reconstrução foi a iniciativa privada.
Se a utopia do prefeito depender dos moradores de hoje vai mesmo fracassar porque a cidade que nunca dorme prefere sonhar pequeno. Conta grande dá pesadelo