Ivan Lessa: E começou a inana...
da BBC, em Londres
2007 aí está, há alguns dias, e quem te viu e quem te vê diria que é a carra escarrada de 2006.
Não cuspamos no prato que nos comeu durante 365 dias. “Carra escarrada” vem de “mármore de Carrara”, coisa fina que, com os tempos, fomos aprendendo a cuspir em cima. Tá bom, vá lá que seja, mas Saddam não está mais entre nós, ou entre eles lá.
As primeiras notícias davam conta de que vestira o cachecol final tremendo de medo e covarde. Ubíquos celulares munidos de vídeo prontamente desmentiram: foi-se possivelmente como chegou, sendo xingado e xingando. Curioso, ninguém se lembrou de perguntar em que caverna de que Ali Babá Saddam escondera o raio das “armas de destruição em massa”.
Que a terra lhe seja leve. Ou pesada. O que for mais duro de aguentar para um brutamontes assassino que sofreu a burrice inominável de ser enforcado, quando era para deixar mofando numa cela qualquer, regando ou não suas plantinhas. Agora, güenta, gente.
Implicância
E por que tanta implicância com o primeiro ministro Tony Blair e sua excelentíssima senhora só porque o casal adora passar uns dias extras de férias no fim do ano hospedados ou por ricos e poderosos ou por pessoas pop insuportáveis? O poder pode se dar a esses luxos.
Esse ano, não fosse uma derrapagem do avião em Miami, Blair e Chérie passariam uma bela temporada no palacete daquele dentuço que sobrou dos Bee Gees, tal de Robin Gibbs, vizinho de Jennnifer Lopez, Matt Damon e Mick Jagger. Poderiam se reunir, finzinho da tarde, e discutir a questão do Oriente Médio, onde agora, com Saddam enterrado ao lado dos filhos, os palestinos mortos por israelenses triplicaram no ano que passou: 660 -- e isso segundo uma agência israelense de direitos humanos.
Dos 660, pelo menos 322 não estavam envolvidos em qualquer tipo de ação de protesto, pacífico ou não. Mais propício à paisagem miamesca, roqueiro e político, mais suas respectivas senhoras, poderiam (deveriam?) erguer seus copos em sentidos brindes de homenagem aos agora mais de 3000 americanos mortos no Iraque.
Resta a questão: mojito ou daiquiri pega bem nesses casos? Entende-se porque Margaret Thatcher nunca tenha tirado férias em seus onze anos no poder.
Satisfação
Talvez por essas e por outras tenha ficado provado por A mais B, incluindo H e Z, que os cidadãos britânicos estão mais satisfeitos de 2006 para cá (e até agora) do que antes. Quer dizer, egoisticamente satisfeitos, sem nada a ver com o país que os cerca.
É dessas pesquisas que eles adoram: sai uma porção de gente com um bloco e uma esferográfica e toca a fazer perguntas para as pessoas esperando o metrô ou o ônibus.A organização responsável pelos dados chama-se YouGov e, além de parecer nome de sítio da Internet, como tudo mais hoje em dia, é tida como merecedora de confiança, também como tudo mais (menos Saddam Hussein, claro).
A Iugóve (abrasileiro logo) chegou a uma porção de conclusões desinteressantes que reproduzo aqui por me encontrar em estado de espírito semelhante (desinteressante, para ser claro): 40% dos entrevistados acharam que 2006 foi pessoalmente para eles um ano bacaninha, ao passo que 55% juram que foi péssimo para as ilhas.
A questão não foi esmiuçada, assim como também não se esmiuça mais hoje em dia o motivo porque se vai morrer ou matar em terras dŽalém-mar. São pessimistas os ilhéus: com a entrada para a Comunidade Européia da Romênia e da Bulgária, entre outras coisas, a situação vai piorar e bastante nos próximos 5 anos, no entender de 53% dos questionados.
O que é pinto perto dos 58% que vêem as coisas pretas para o Reino Unido já a partir de hoje, aqui e agora neste comecinho de janeiro de 2007.
Cruzamento
Esse estado de espírito para baixo foi verificado antes mesmo das tempestades que varreram o norte da ilha e acabaram com a festa (entenda-se queima de fogos de artifício. Falar nisso, nunca entendi a graça) dos escoceses que cantam parcialmente em gaélico a “Valsa da Despedida”, a que nos acostumamos a ouvir na voz do Chico Viola, e comemoram o Ano Novo chamando-o de Hogmanay, além de praticar exotismos num nível de violência que me recuso a explicar ou traduzir.
Digamos que lembra um cruzamento da linha amarela com a linha vermelha no Rio. Por aí.
Não cuspamos no prato que nos comeu durante 365 dias. “Carra escarrada” vem de “mármore de Carrara”, coisa fina que, com os tempos, fomos aprendendo a cuspir em cima. Tá bom, vá lá que seja, mas Saddam não está mais entre nós, ou entre eles lá.
As primeiras notícias davam conta de que vestira o cachecol final tremendo de medo e covarde. Ubíquos celulares munidos de vídeo prontamente desmentiram: foi-se possivelmente como chegou, sendo xingado e xingando. Curioso, ninguém se lembrou de perguntar em que caverna de que Ali Babá Saddam escondera o raio das “armas de destruição em massa”.
Que a terra lhe seja leve. Ou pesada. O que for mais duro de aguentar para um brutamontes assassino que sofreu a burrice inominável de ser enforcado, quando era para deixar mofando numa cela qualquer, regando ou não suas plantinhas. Agora, güenta, gente.
Implicância
E por que tanta implicância com o primeiro ministro Tony Blair e sua excelentíssima senhora só porque o casal adora passar uns dias extras de férias no fim do ano hospedados ou por ricos e poderosos ou por pessoas pop insuportáveis? O poder pode se dar a esses luxos.
Esse ano, não fosse uma derrapagem do avião em Miami, Blair e Chérie passariam uma bela temporada no palacete daquele dentuço que sobrou dos Bee Gees, tal de Robin Gibbs, vizinho de Jennnifer Lopez, Matt Damon e Mick Jagger. Poderiam se reunir, finzinho da tarde, e discutir a questão do Oriente Médio, onde agora, com Saddam enterrado ao lado dos filhos, os palestinos mortos por israelenses triplicaram no ano que passou: 660 -- e isso segundo uma agência israelense de direitos humanos.
Dos 660, pelo menos 322 não estavam envolvidos em qualquer tipo de ação de protesto, pacífico ou não. Mais propício à paisagem miamesca, roqueiro e político, mais suas respectivas senhoras, poderiam (deveriam?) erguer seus copos em sentidos brindes de homenagem aos agora mais de 3000 americanos mortos no Iraque.
Resta a questão: mojito ou daiquiri pega bem nesses casos? Entende-se porque Margaret Thatcher nunca tenha tirado férias em seus onze anos no poder.
Satisfação
Talvez por essas e por outras tenha ficado provado por A mais B, incluindo H e Z, que os cidadãos britânicos estão mais satisfeitos de 2006 para cá (e até agora) do que antes. Quer dizer, egoisticamente satisfeitos, sem nada a ver com o país que os cerca.
É dessas pesquisas que eles adoram: sai uma porção de gente com um bloco e uma esferográfica e toca a fazer perguntas para as pessoas esperando o metrô ou o ônibus.A organização responsável pelos dados chama-se YouGov e, além de parecer nome de sítio da Internet, como tudo mais hoje em dia, é tida como merecedora de confiança, também como tudo mais (menos Saddam Hussein, claro).
A Iugóve (abrasileiro logo) chegou a uma porção de conclusões desinteressantes que reproduzo aqui por me encontrar em estado de espírito semelhante (desinteressante, para ser claro): 40% dos entrevistados acharam que 2006 foi pessoalmente para eles um ano bacaninha, ao passo que 55% juram que foi péssimo para as ilhas.
A questão não foi esmiuçada, assim como também não se esmiuça mais hoje em dia o motivo porque se vai morrer ou matar em terras dŽalém-mar. São pessimistas os ilhéus: com a entrada para a Comunidade Européia da Romênia e da Bulgária, entre outras coisas, a situação vai piorar e bastante nos próximos 5 anos, no entender de 53% dos questionados.
O que é pinto perto dos 58% que vêem as coisas pretas para o Reino Unido já a partir de hoje, aqui e agora neste comecinho de janeiro de 2007.
Cruzamento
Esse estado de espírito para baixo foi verificado antes mesmo das tempestades que varreram o norte da ilha e acabaram com a festa (entenda-se queima de fogos de artifício. Falar nisso, nunca entendi a graça) dos escoceses que cantam parcialmente em gaélico a “Valsa da Despedida”, a que nos acostumamos a ouvir na voz do Chico Viola, e comemoram o Ano Novo chamando-o de Hogmanay, além de praticar exotismos num nível de violência que me recuso a explicar ou traduzir.
Digamos que lembra um cruzamento da linha amarela com a linha vermelha no Rio. Por aí.