Congresso democrata reforça ofensiva contra planos de Bush
da BBC, em Londres
George W. Bush é o comandante-em-chefe na guerra ou na paz, certo ou errado. Nas questões militares, as armas do Congresso americano são a alocação de fundos e inquéritos. O duelo está montado.
Pela primeira em seis anos, um presidente tão cioso de suas prerrogativas e inclinado a uma postura imperial convive com um Congresso controlado pelo Partido Democrata. E esta nova maioria vai à carga quando Bush se prepara para anunciar um plano de escalada no Iraque (centrado no envio de 20 mil soldados adicionais para Bagdá), num esforço talvez final para evitar o fracasso na guerra.
Os democratas não estão completamente unidos sobre o que querem no Iraque, mas assim que assumiram o comando no Congresso, na quinta-feira passada, aconteceu uma escalada da resistência aos planos de Bush. A presidente da Câmara, Nancy Pelosi, e o líder da maioria no Senado, Harry Reid, enviaram carta ao presidente expressando oposição ao reforço da tropa.
No domingo, Pelosi foi mais longe e acenou com a possibilidade de corte de fundos dizendo em entrevista à televisão que qualquer requisição orçamentária da Casa Branca para tropas adicionais será submetida ao "mais rigoroso escrutínio". A presidente da Câmara deixou claro que cortar fundos para o atual contingente está fora de cogitação.
Inconstitucional
Mas os democratas estão divididos sobre o quanto podem influenciar na condução da guerra. O influente senador Joe Biden – postulante às eleições presidenciais em 2008 – é contra a escalada no Iraque, mas advertiu que poderia ser inconstitucional para um Congresso que autorizou a guerra agora estabelecer um teto de tropas ou reduzir fundos militares.
Os planos de Bush receberam endosso de importantes políticos republicanos como o senador John McCcain (outro postulante à presidência), mas muitos congressistas governistas deram apenas um tépido apoio. No geral, os republicanos advertem os democratas contra o perigo do Congresso se envolver na "microadministração da guerra".
Seguramente vem aí o "rigoroso escrutínio". Os democratas inclusive estão alterando planos no Congresso em função da rápida escalada de eventos no Iraque.
A idéia era enfatizar a agenda doméstica nas primeiras semanas de sessão, mas a estratégia agora será confrontar imediatamente de forma agressiva a Casa Branca em uma bateria de inquéritos que foram antecipados para os próximos dias para neutralizar o impacto do anúncio de Bush, previsto para quarta-feira, sobre o reforço de tropas no Iraque.
Cobrança
Na quinta-feira, a secretária de Estado Condoleezza Rice deverá estar diante da Comissão de Assuntos Externos da Câmara para explicar os planos do presidente.
Na Comissão de Serviços Militares, no mesmo dia, a cobrança será em cima do novo secretário de Defesa Robert Gates e do chefe do Estado-maior das Forças Armadas, general Peter Pace. Também nesta semana, estas três autoridades serão submetidas ao escrutínio de comissões do Senado.
Como lembra o jornal Washington Post, algumas alas do Partido Democrata estavam reclamando que a resposta da liderança era muito lenta e cautelosa no debate sobre a guerra. Afinal, de acordo com uma pesquisa da rede de televisão CBS, divulgada na quinta-feira passada, 45% dos eleitores querem que o foco do novo Congresso seja o Iraque, um número que bate de longe as percentagens sobre economia (7%) e imigração (6%).
Resta saber até onde irá a agressividade democrata e como será a dança da multidão de senadores dos dois partidos com ambições presidenciais. Joe Biden disse na semana passada que muitas altas autoridades do governo já consideram a guerra perdida. Seguramente ele estava ecoando o que ouviu privadamente de algumas senadores republicanos.
Inquéritos robustos no Congresso são inevitáveis. Cortar fundos é uma iniciativa mais sinuosa. Se este último alento de Bush no Iraque falhar, poderá acontecer um "replay" do que teve lugar na guerra do Vietnã, quando no estágio final do conflito o Congresso começou a debater abertamente a questão de aprovar verbas militares.
Muitos historiadores inclusive argumentam que o fim da guerra no sudeste asiático foi determinado pela decisão do Congresso de cortar fundos para o regime sul-vietnamita em 1975. Como escreveu Louis Fanning, "não foram os comunistas de Hanói que ganharam a guerra, mas o Congresso americano que a perdeu".
Pela primeira em seis anos, um presidente tão cioso de suas prerrogativas e inclinado a uma postura imperial convive com um Congresso controlado pelo Partido Democrata. E esta nova maioria vai à carga quando Bush se prepara para anunciar um plano de escalada no Iraque (centrado no envio de 20 mil soldados adicionais para Bagdá), num esforço talvez final para evitar o fracasso na guerra.
Os democratas não estão completamente unidos sobre o que querem no Iraque, mas assim que assumiram o comando no Congresso, na quinta-feira passada, aconteceu uma escalada da resistência aos planos de Bush. A presidente da Câmara, Nancy Pelosi, e o líder da maioria no Senado, Harry Reid, enviaram carta ao presidente expressando oposição ao reforço da tropa.
No domingo, Pelosi foi mais longe e acenou com a possibilidade de corte de fundos dizendo em entrevista à televisão que qualquer requisição orçamentária da Casa Branca para tropas adicionais será submetida ao "mais rigoroso escrutínio". A presidente da Câmara deixou claro que cortar fundos para o atual contingente está fora de cogitação.
Inconstitucional
Mas os democratas estão divididos sobre o quanto podem influenciar na condução da guerra. O influente senador Joe Biden – postulante às eleições presidenciais em 2008 – é contra a escalada no Iraque, mas advertiu que poderia ser inconstitucional para um Congresso que autorizou a guerra agora estabelecer um teto de tropas ou reduzir fundos militares.
Os planos de Bush receberam endosso de importantes políticos republicanos como o senador John McCcain (outro postulante à presidência), mas muitos congressistas governistas deram apenas um tépido apoio. No geral, os republicanos advertem os democratas contra o perigo do Congresso se envolver na "microadministração da guerra".
Seguramente vem aí o "rigoroso escrutínio". Os democratas inclusive estão alterando planos no Congresso em função da rápida escalada de eventos no Iraque.
A idéia era enfatizar a agenda doméstica nas primeiras semanas de sessão, mas a estratégia agora será confrontar imediatamente de forma agressiva a Casa Branca em uma bateria de inquéritos que foram antecipados para os próximos dias para neutralizar o impacto do anúncio de Bush, previsto para quarta-feira, sobre o reforço de tropas no Iraque.
Cobrança
Na quinta-feira, a secretária de Estado Condoleezza Rice deverá estar diante da Comissão de Assuntos Externos da Câmara para explicar os planos do presidente.
Na Comissão de Serviços Militares, no mesmo dia, a cobrança será em cima do novo secretário de Defesa Robert Gates e do chefe do Estado-maior das Forças Armadas, general Peter Pace. Também nesta semana, estas três autoridades serão submetidas ao escrutínio de comissões do Senado.
Como lembra o jornal Washington Post, algumas alas do Partido Democrata estavam reclamando que a resposta da liderança era muito lenta e cautelosa no debate sobre a guerra. Afinal, de acordo com uma pesquisa da rede de televisão CBS, divulgada na quinta-feira passada, 45% dos eleitores querem que o foco do novo Congresso seja o Iraque, um número que bate de longe as percentagens sobre economia (7%) e imigração (6%).
Resta saber até onde irá a agressividade democrata e como será a dança da multidão de senadores dos dois partidos com ambições presidenciais. Joe Biden disse na semana passada que muitas altas autoridades do governo já consideram a guerra perdida. Seguramente ele estava ecoando o que ouviu privadamente de algumas senadores republicanos.
Inquéritos robustos no Congresso são inevitáveis. Cortar fundos é uma iniciativa mais sinuosa. Se este último alento de Bush no Iraque falhar, poderá acontecer um "replay" do que teve lugar na guerra do Vietnã, quando no estágio final do conflito o Congresso começou a debater abertamente a questão de aprovar verbas militares.
Muitos historiadores inclusive argumentam que o fim da guerra no sudeste asiático foi determinado pela decisão do Congresso de cortar fundos para o regime sul-vietnamita em 1975. Como escreveu Louis Fanning, "não foram os comunistas de Hanói que ganharam a guerra, mas o Congresso americano que a perdeu".