Ivan Lessa: Entregues aos cachorros

da BBC, em Londres

Logo no início do ano, deu-se em Merseyside, aqui no Reino Unido, um caso pavoroso: uma menina de 5 anos, Elle Lawrenson, foi trucidada por um pit bull, do tipo terrier, pertencente ao tio, Kiel Simpson, que já fora avisado pelas autoridades do perigo que seu cão oferecia, já que Ruben (esse o nome do animal) atacara mais de um vizinho.

A avó da menina, Jackie Simpson, de 46 anos, também sofreu ferimentos graves.

O pit bull (atenção: são duas palavras) foi, assim como diversos refrigerantes gasosos, invenção americana, com dois objetivos expressos: vantagem no ringue da briga de cachorro e a imposição de respeito entre a comunidade.

O pit bull é o equivalente a uma arma branca. Arma cinza ou parda, digamos assim. Ele tem origem britânica, como tanto dispositivo de agressividade.

O pit bull consta ainda de inúmeras lendas urbanas, todas baseadas no fato de que a psicologia do feroz irracional é diferente da dos cães de outras raças.

Há uma facção que defende a tese de que o pit bull não nasce assim, é treinado assim. Por “assim”, entenda-se: morder até matar.

De qualquer forma, há aqui no Reino Unido leis que regem a posse de um ou mais pit bulls. No fim-de-semana passado, 14 pit bulls foram apreendidos pela polícia. 28 já tinham sido detidos para investigações nos primeiros dias de 2007.

Fichados e passados pelo processo da datiloscopia? Não sei. Mas Ruben, que matou a menina de 5 anos, esse foi abatido. De forma humana, garantem os jornais. O que não quer dizer muito. Vide injeção letal no Texas, vida enforcamento de Saddam Hussein

Parece que entre as raças de cães ferozes, criados e mantidos com o objetivo expresso de lutar e impor medo, nós brasileiros damos o nosso “presente” aqui nas ilhas com os bichinhos conhecidos como “fila brasileiro”, que volta e meia eles escrevem “fila braziliero”, para meu rosnar de indignação.

São menos controversos nossos filas. Bonitões, olhar doce, obedientes e – dizem, dizem – mansíssimos.

Au! Au! Arf! Arf!

Seja como for, se é para proibir, que sejam proibidos os pit bulls e deixem nossos filas em paz. Nós, brasileiros do Brasil, não ligamos muito para o que é nosso, fomos e vamos mesmo de pit bulls, que o nome e o bicho pegaram até mesmo para quem mantém distância da cinologia.

No domingo, um amigo me enviou uma entrevista feita semana passada pelo Paulo Henrique Amorim com José Luís Rodrigues, prefeito de Aparecida do Norte (SP) conhecido como “Zé Louquinho” entre o povo e nos meios políticos.

O prefeito teve várias coisas interessantes para dizer. Por exemplo: quer passar lei para acabar com a chuva, raciocinando que, se culpam o prefeito por tudo, por tudo ele é então responsável.

Mas vamos aos cães: “Zé Louquinho” até outro dia via-se às voltas com sucessivos roubos no cemitério da cidade. Substituiu os coveiros por pit bulls. Os roubos pararam.

Do prefeito de Aparecida do Norte a Nilópolis. No sábado dia 6, Dia de Reis, o vira-latas Rint, de 14 anos, salvou um grupo de idosos da sanha assassina de um pit bull mais aborrecido que os outros.

Deu-lhe um pau, baixou-lhe o cacete. Saiu com lesões e rompimento de artérias, mas é pouco perto do que sofreu o pit bull. Parece que é comum pit bull feroz entrar pelo cano diante das garras e dentes de vira-lata.

As conclusões são simples: aos tolos que treinaram pit bulls ou importaram rotweillers para vigiarem suas propriedades pela orla marítima da Zona Sul – Copacabana, Ipanema e Leblon – ao lado de fiéis porteiros de segurança, sugiro substituir imediatamente por vira-latas.

São mais simpáticos e, como a gente mesmo, mais “reliable”, como diriam aqueles que escrevem pit e bull como se fosse uma palavra só.

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