Bush reforça tropas no Iraque em meio a escalada de ceticismo
da BBC, em Londres
Como projeto de salvação da guerra do Iraque, o plano anunciado na quarta-feira à noite pelo presidente George W. Bush é dos mais modestos. Mas, como de hábito, as ambições são grandiosas.
Mesmo antes da confirmação de que serão despachados mais 21,5 mil soldados americanos para o Iraque, em larga escala para atuar em Bagdá, houve uma escalada de ceticismo e de resistência ao plano, que prevê o envio dos primeiros novos contingentes já na semana que vem.
Como parte da inglória missão de convencimento, Bush disse que reforçar o contingente agora irá "acelerar o dia em que nossas tropas começarão a voltar para casa".
O presidente advertiu que recuar neste "momento crucial" levará ao colapso do governo iraquiano e mesmo à desintegração do país.
Sobre este precário governo do primeiro-ministro Nouri Maliki, novas cobranças de um melhor desempenho, mas sem a fixação de prazos para isto. A idéia inclusive é de um papel limitado às tropas americanas, mais de suporte às forças iraquianas.
Insurgentes
O sóbrio discurso foi um raro e direto reconhecimento de responsabilidades pelos erros, como subestimar a gravidade do desafio iraquiano e a demora para despachar mais tropas, para justificar a escalada militar de agora.
Esta nova estratégia de contra-insurgência (há 13 meses foi anunciado o Plano para a Vitória, nunca executado) é lançada por um presidente que insiste que a guerra ainda não está perdida, embora o número de insurgentes ao projeto da Casa Branca não pare de crescer.
Eles não estão apenas em Bagdá. Estão em Washington mesmo e são facilmente identificados. Podem ser encontrados no Congresso (inclusive na minoritária bancada republicana) e até entre comandantes militares.
Não está claro, porém, até que ponto a maioria democrata está disposta a ir para alvejar a nova estratégia de Bush (com o corte de fundos, por exemplo).
Há menos de dois meses, o general John Abizaid, que irá deixar o Comando Central em março, disse que o reforço da tropa americana no Iraque não era solução para a guerra.
Mais do que isto, Leon Panetta, integrante da insurgente comissão bipartidária, cujo relatório centrado na recomendação de retirada gradual do grosso das tropas americanas do Iraque até 2008 foi descartado pelo presidente, disse esta semana que muitas autoridades militares e mesmo integrantes da administração Bush nos contatos reservados com a comissão no final do ano passado se mostraram céticos a planos de escalada militar.
"Falcões"
Bush, no entanto, faz esta aposta arriscada e simplesmente vai contra a corrente nacional (americana). Desde a escalada de Richard Nixon no Vietnã, um presidente americano não assumia tanto risco em uma guerra cada vez mais impopular.
Como lembrou na quarta-feira o jornal Washington Post, Bush escolheu uma opção com pouca receptividade além da Casa Branca e um punhado de "falcões" no Congresso e em centros de estudos.
Aliás, uma inspiração para esta escalada está em um plano desenhado pelo general reformado Jack Keane e o historiador militar Frederick Kagan, do conservador American Enterprise Institute.
Mas eles advogavam o envio de pelo menos 30 mil soldados. Bush decidiu avançar com um número mais modesto. O plano decepciona tanto "falcões" como "pombas".
O general David Petraeus, nomeado na semana passada para assumir o comando das tropas americanas no Iraque, é um entusiasta da escalada. Esta é uma das razões de sua promoção, mas o general Petraeus finalizou um manual de contra-insurgência calculando ser necessária uma proporção de 20 soldados por mil civis iraquianos.
Isto implicaria no acréscimo de pelo menos 250 mil soldados à força atual de 140 mil, algo simplesmente inviável em termos logísticos e politicos.
Última cartada
Não há dúvida que a idéia de mandar mais tropas ao Iraque foge ao convencional após a derrota sofrida pelos republicanos nas eleições legislativas de novembro, um claro repúdio à empreitada iraquiana de Bush.
O presidente, no entanto, é um jogador impetuoso (para muitos, leia-se leviano). Ele acredita que ainda exista uma chance de impedir a guerra civil escancarada, de convencer a opinião pública americana a aceitar sacrifícios, de apaziguar um Congresso de maioria democrata ansioso para desafiar a Casa Branca e de arregimentar o precário governo Maliki a realmente engajar suas forças militares nas ingratas missões de combater a insurgência sunita e as milícias xiitas.
A nova estratégia é vista como uma última cartada para um governo americano que carece de um plano B em caso de fracasso.
Leslie Gelb, ex-presidente do prestigiado Council on Foreign Relations, disse que um objetivo essencial do presidente é ganhar tempo. Nas palavras de Gelb, "Bush fará tudo o que estiver ao seu alcance para não perder", ou pelo menos não reconhecer a derrota até a posse do novo presidente em janeiro de 2009.
Os novos planos para vencer a guerra são modestos, os efeitos podem ser desastrosos.
Mesmo antes da confirmação de que serão despachados mais 21,5 mil soldados americanos para o Iraque, em larga escala para atuar em Bagdá, houve uma escalada de ceticismo e de resistência ao plano, que prevê o envio dos primeiros novos contingentes já na semana que vem.
Como parte da inglória missão de convencimento, Bush disse que reforçar o contingente agora irá "acelerar o dia em que nossas tropas começarão a voltar para casa".
O presidente advertiu que recuar neste "momento crucial" levará ao colapso do governo iraquiano e mesmo à desintegração do país.
Sobre este precário governo do primeiro-ministro Nouri Maliki, novas cobranças de um melhor desempenho, mas sem a fixação de prazos para isto. A idéia inclusive é de um papel limitado às tropas americanas, mais de suporte às forças iraquianas.
Insurgentes
O sóbrio discurso foi um raro e direto reconhecimento de responsabilidades pelos erros, como subestimar a gravidade do desafio iraquiano e a demora para despachar mais tropas, para justificar a escalada militar de agora.
Esta nova estratégia de contra-insurgência (há 13 meses foi anunciado o Plano para a Vitória, nunca executado) é lançada por um presidente que insiste que a guerra ainda não está perdida, embora o número de insurgentes ao projeto da Casa Branca não pare de crescer.
Eles não estão apenas em Bagdá. Estão em Washington mesmo e são facilmente identificados. Podem ser encontrados no Congresso (inclusive na minoritária bancada republicana) e até entre comandantes militares.
Não está claro, porém, até que ponto a maioria democrata está disposta a ir para alvejar a nova estratégia de Bush (com o corte de fundos, por exemplo).
Há menos de dois meses, o general John Abizaid, que irá deixar o Comando Central em março, disse que o reforço da tropa americana no Iraque não era solução para a guerra.
Mais do que isto, Leon Panetta, integrante da insurgente comissão bipartidária, cujo relatório centrado na recomendação de retirada gradual do grosso das tropas americanas do Iraque até 2008 foi descartado pelo presidente, disse esta semana que muitas autoridades militares e mesmo integrantes da administração Bush nos contatos reservados com a comissão no final do ano passado se mostraram céticos a planos de escalada militar.
"Falcões"
Bush, no entanto, faz esta aposta arriscada e simplesmente vai contra a corrente nacional (americana). Desde a escalada de Richard Nixon no Vietnã, um presidente americano não assumia tanto risco em uma guerra cada vez mais impopular.
Como lembrou na quarta-feira o jornal Washington Post, Bush escolheu uma opção com pouca receptividade além da Casa Branca e um punhado de "falcões" no Congresso e em centros de estudos.
Aliás, uma inspiração para esta escalada está em um plano desenhado pelo general reformado Jack Keane e o historiador militar Frederick Kagan, do conservador American Enterprise Institute.
Mas eles advogavam o envio de pelo menos 30 mil soldados. Bush decidiu avançar com um número mais modesto. O plano decepciona tanto "falcões" como "pombas".
O general David Petraeus, nomeado na semana passada para assumir o comando das tropas americanas no Iraque, é um entusiasta da escalada. Esta é uma das razões de sua promoção, mas o general Petraeus finalizou um manual de contra-insurgência calculando ser necessária uma proporção de 20 soldados por mil civis iraquianos.
Isto implicaria no acréscimo de pelo menos 250 mil soldados à força atual de 140 mil, algo simplesmente inviável em termos logísticos e politicos.
Última cartada
Não há dúvida que a idéia de mandar mais tropas ao Iraque foge ao convencional após a derrota sofrida pelos republicanos nas eleições legislativas de novembro, um claro repúdio à empreitada iraquiana de Bush.
O presidente, no entanto, é um jogador impetuoso (para muitos, leia-se leviano). Ele acredita que ainda exista uma chance de impedir a guerra civil escancarada, de convencer a opinião pública americana a aceitar sacrifícios, de apaziguar um Congresso de maioria democrata ansioso para desafiar a Casa Branca e de arregimentar o precário governo Maliki a realmente engajar suas forças militares nas ingratas missões de combater a insurgência sunita e as milícias xiitas.
A nova estratégia é vista como uma última cartada para um governo americano que carece de um plano B em caso de fracasso.
Leslie Gelb, ex-presidente do prestigiado Council on Foreign Relations, disse que um objetivo essencial do presidente é ganhar tempo. Nas palavras de Gelb, "Bush fará tudo o que estiver ao seu alcance para não perder", ou pelo menos não reconhecer a derrota até a posse do novo presidente em janeiro de 2009.
Os novos planos para vencer a guerra são modestos, os efeitos podem ser desastrosos.