Cabelos em chamas

da BBC, em Londres

Chamávamos de “Ferrugem”. Ou então “Russo”. Lembro-me de um “Polaco” e um “Judeu”.

Não foram muitos os meninos ruivos que passaram por minha infância e juventude e eu pela deles. Não havia maldade nos apelidos. Eu diria até que beiravam o carinhoso.

Uma vontade de que enturmassem, ficassem à vontade, topassem pegar no gol na hora da pelada. De que nos chamariam eles, na doce intimidade de seus lares (sempre misteriosos, sempre estrangeiríssimos)? “”Caboclo”, “Mameluco”, “Bola Sete”, “Tição”. Por aí, quero crer. Estariam certos, cobertos de razão.

Uma coisa descobrimos logo: eram poucos os ruivos de nosso conhecimento. Tinha no cinema americano. De estalo, lembro-me de Dennis OŽKeefe e Van Johnson.

Havia algo meio ridículo no fato de um homem adulto ser ruivo e, além do mais, o cinema querer nos enganar ser possível uma mulher se apaixonar pelo “cabeça de cenoura” em questão.

Esther Williams apaixonada por Van Johnson? Ora, não chateie, leão da Metro, vá rugir lá para suas – perdão, era expressão – nêgas. Eleonor Parker, Rhonda Fleming, Jeanne Crain e Arlene Dahl, tudo bem. A ruivez das atrizes citadas, era um poderoso afrodisíaco que nos transportava a um instigante mundo de indagações, eróticas todas.

De repente, nos vemos de calças compridas e estamos conhecendo o mundão. E algumas – novo perdão, leitor – mundanas.

Enfim, uma ruiva autêntica, dizemos um belo dia e vamos comemorar e rememorar no boteco da esquina contando tudo tim tim por tim tim para o companheiro ainda não-iniciado mas em vias, em vias…

Depois, como em todo depois, a vida se normaliza e, como no verso de Drummond, parafraseando, passamos às morenas ou, se for o caso, aos morenos como vocês.

O carnaval não mente. Quem se lembrar de uma marchinha louvando os encantos da ruivinha ganha um doce de abóbora com coco, daqueles bem ruivos.

Loirinha, mulata, morena, estavam todas lá, de odalisca ou pescadora, nos tentando no meio do salão. Ruivinhas? Jamédelavi, para cunhar uma expressão.

Além do mais, havia (mais um) preconceito: ruivo e ruiva vinha invariavelmente com sardas e sardas, sabíamos, nem pensar. A não ser… Mas eu já bati nessa tecla perigosa, deixa pra lá.

O cerne ruivo da questão

Todas essas memórias e pensamentos despropositados ocorrem-me por ter me dado à pachorra de ler um artigo enorme sobre as recentes provas científicas, baseadas em genes geniais, e outras bolações mais diabólicas que o YouTube, com ou sem a Cicarelli, na praia ou ao fogão, provas científicas, dizia eu, que os primeiros bretões da Grã-Bretanha eram ruivos até a raiz de seus cabelos, como é natural (foi há mais de 30 mil anos, ainda não se pintavam os cabelos).

A questão provada por D mais N e mais A não chegou a abalar as instituições das ilhas, que nunca deram muita pelota para esse negócio de ruivez.

Como um preconceito, ou idéia recebida, para ser menos cruel, faz parte do DNA humano, sempre deixaram a coloração essa (também chamada de “ginger”) para os escoceses. Era uma generalização a mais. Melhor que servir de sargento no Iraque ou Afeganistão.

Vocês não estão familiarizados com a “disfunctional” família Simpson, mesmo dublada para “desfuncional”? Lembram do Zelador, o Willy? Mais escocês só o uísque Buchanan's. Assim caminha a humanidade. Agora, quanto aos carecas… (aguardem futura análise e crítica)

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