Para americanos, Beckham pode ir mais longe que Pelé

da BBC, em Londres

A contratação do meio-campo David Beckham por um time californiano, anunciada nesta semana, poderia ser mais importante para a difusão do futebol nos Estados Unidos que a de Pelé, nos anos 70.

Jornalistas ouvidos pela BBC Brasil opinaram que o jogador inglês poderia ajudar a tornar o futebol um dos esportes mais populares num país mais entusiasmado pelo basquete, o beisebol e o futebol americano.

O astro da seleção inglesa foi contratado nesta semana pela Major Soccer League, a federação americana de futebol, por US$ 250 milhões (cerca de R$ 537 milhões) e vai atuar pela equipe do LA Galaxy.

David Hirshey, autor do livro Pelé's New World, diz que o contexto atual é muito mais favorável para Beckham do que o período em que Pelé chegou aos Estados Unidos.

"Graças em parte a Pelé, Beckham chega em um momento em que o futebol tem mais audiência nas TVs e nos estádios e muito mais praticantes", afirmou Hirshey, que começava sua carreira como jornalista esportivo quando Pelé foi contratado para atuar na equipe nova-iorquina do Cosmos, em 1975.

"Hoje em dia, 18 milhões de garotos jogam futebol e já viram comerciais estrelados por Beckham, os seus vários cortes de cabelo, seus estilo de vida hollywoodiano e sua esposa glamourosa."

Dinheiro no bolso

Outro contraste em relação ao período de Pelé é a estabilidade financeira da federação futebolística. A liga que a precedeu, a North American Soccer League, entrou em colapso em 1984 - segundo relatos, por gastos descontrolados e mau gerenciamento.

A sua sucessora, a Major Soccer League, é proibida por seu próprio estatuto de gastar de forma irresponsável, como nos anos 70. A liga é a proprietária de todos os jogadores que atuam no país, e fixa um teto de gastos para cada clube.

Neste ano, pela primeira vez em seus 12 anos de existência, ela permitiu que clubes investissem à vontade em uma única contração mas, ainda assim, as equipes tinham de consultar a federação para ver se a contratação seria do interesse geral. Foi assim que Beckham pôde ser contratado.

De acordo com o jornalista John Haydon, que cobre futebol para o jornal Washington Times, a maior estabilidade da liga futebolística pode servir como um imã para a vinda de craques internacionais para os Estados Unidos, como ocorreu na época de Pelé, quando nomes como Beckenbauer, Carlos Alberto, Johan Cruyff e George Best atuaram no país.

"Em breve, poderemos ver a chegada de nomes como Ronaldo, jogadores que ainda têm algum tempo de atuação pela frente. A liga é estável financeiramente e atraente para jogadores como ele, porque há bilionários por trás dela, investidores que querem trazer novos jogadores", afirma Haydon.

Glamour

Outro elemento que deverá ser revivido com a vinda de Beckham é o estilo de vida glamouroso, que também vingou na época de Pelé, quando celebridades como Mick Jagger, Robert Redford e Barbara Streisand prestigiavam jogos do Cosmos e esbarravam com astros da equipe em casas noturnas da moda.

O craque chegou até mesmo a Hollywood, onde atuou ao lado de Sylvester Stallone e Michael Caine e sob a direção do mestre John Houston, em Fuga para a Vitória.

David Beckham também é célebre por suas conexões hollywoodianas e na música pop.

"Beckham definitivamente quer conquistar a América e ele está indo para Los Angeles, a terra dos astros de cinema. Certamente ele irá levar amigos seus, como Tom Cruise e Katie Holmes, para as suas partidas. A partir de agora, haverá mais esplendor cercando o LA Galaxy", diz Haydon.

O jornalista acredita que o ex-capitão da seleção inglesa tem o dom de fazer com que o esporte chegue a um número de pessoas bem mais amplo nos Estados Unidos.

"Na época de Pelé, a maior parte do público vinha de minorias étnicas. Não havia o americano médio. A partir de agora, você passará a vê-los. Porque as pessoas sabem quem é Beckham. Ele também é capaz de atrair novos fãs, como aqueles que acompanham jogos internacionais, mas desprezam a liga de futebol americana", afirma Haydon.

David Hirshey, que acompanhou de perto as partidas do Cosmos, diz que há uma distância abissal entre a qualidade técnica de Beckham e Pelé, que, ainda hoje, é o maior jogador da história do futebol. Mas comenta que, fora das quadras, há muito em comum entre os dois.

"Ambos são incrivelmente educados, afáveis e amam crianças. Quando David Beckham diz que não está vindo aos Estados Unidos pelo dinheiro, não há como não rir, mas quando ele diz que está fazendo isso pelas crianças americanas, eu acredito."

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