Aos 65 anos, líder norte-coreano festeja 'vitória' em acordo nuclear

da BBC, em Londres

A Coréia do Norte foi palco nesta sexta-feira de uma grande festa em homenagem ao líder Kim Jong-il, que completou 65 anos.

As imagens exibidas pela TV estatal deixam claro que o culto da personalidade de Kim continua forte como nunca no isolado país comunista.

Mulheres do Exército popular foram mostradas à beira de um ataque histérico durante a visita do “grande General” à sua unidade de artilharia; cidadãos bem treinados fizeram uma exibição de dança folclórica na principal praça de Pyongyang, e líderes do Partido Comunista cantaram em homenagem a uma casa de madeira coberta de neve – o mítico local de nascimento do líder norte-coreano.



Mas este ano, as comemorações tiveram um elemento a mais. No país, Kim Jong-il recebeu o crédito por uma grande vitória diplomática sobre os Estados Unidos, depois do acordo firmado nesta semana prevendo mais ajuda à Coréia do Norte em troca da paralisação do seu programa nuclear.

Estratégia vitoriosa

O povo norte-coreano ouviu do governo que haverá apenas uma suspensão temporária das atividades no reator nuclear de Yongbyon. Trata-se de algo muito diferente do que exigiam os Estados Unidos, o abandono completo do programa nuclear norte-coreano.

“Kim Jong-il é muito esperto e muito autoconfiante”, disse Wendy Sherman, ex-enviado americano à Coréia do Norte, que passou doze horas com ele durante uma visita a Pyongyang no final da administração Clinton na Casa Branca.

“Ele pode até viver uma existência isolada, mas ele sabe o que está acontecendo no resto do mundo.”

Muitos analistas concordam com a visão de que a Coréia do Norte ganhou uma importante briga no seu embate com os Estados Unidos.

O país teve sucesso em garantir ajuda e diminuir a pressão diplomática que vinha sofrendo sem ter concordado em destruir seu arsenal nuclear – estimado em aproximadamente oito bombas atómicas.

“Ele misturou uma postura ameaçadora com comportamento de bom menino e foi muito eficiente ao lidar com o mundo exterior”, disse Han Sung-joo, ex-ministro do Exterior da Coréia do Norte.

“Ele explorou com desenvoltura divisões internas em outros países e ganhou muito não dando tanto em troca.”

Sobrevivência

Apesar das aparências, o regime norte-coreano está lutando por sua sobrevivência.

A sacada de gênio de Kim Jong-il tem sido projetar uma imagem de força e aproveitar ao máximo a hesitação de outros países no trato com o seu regime.

No final, a persistência da Coréia do Norte cansou o governo Bush, que a princípio vinha se negando a negociar e prometia “não recompensar mau comportamento”.

Depois de testar um artefato nuclear no ano passado, Kim Jong-il está agora contemplando formas de conseguir mais tributos de seus apreensivos vizinhos e dos incomodados Estados Unidos.

Uma negociação frenética pode ser esperada a cada etapa de negociação que está por vir.

A Coréia do Sul quer prosseguir com sua política de reconciliação e deve começar a enviar ao vizinho grandes carregamentos de comida e fertilizantes – algo que fora suspenso no auge da crise nuclear, no ano passado.

Isso pode sabotar as tentativas americanas de continuar condicionando a ajuda à Coréia do Norte ao seu progressivo desarmamento nuclear.

Os norte-coreanos podem sentir que há poucos estímulos para se livrar de seu programa nuclear, que representa uma segurança para o regime em meio a um mundo hostil.


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