Realidade virtual pode ajudar soldados com trauma pós-Iraque

da BBC, em Londres

A realidade virtual está sendo usada para tratar soldados que voltam do Iraque com síndrome do estresse pós-traumático.

O sistema combina cenas realistas de confrontos na rua, sons e odores para permitir que os pacientes revivam eventos traumáticos em um ambiente controlado.

Durante a "terapia de exposição", um clínico determina a intensidade dos eventos que o soldado vivenciará.

O protótipo do sistema está atualmente sendo testado nos Estados Unidos, mas já foi usado com sucesso para tratar quatro voluntários.

"Nós vimos ganhos imediatos após o tratamento", disse Skip Rezzo, da Universidade do Sul da Califórnia e membro da equipe que desenvolveu o sistema.

Pesadelos

A síndrome do estresse pós-traumático é uma condição que atinge muitos dos que tiveram participação ativa em guerras.

O termo é usado para descrever uma série de sintomas psicológicos que podem ocorrer após um evento traumático.

Os sintomas são diferentes em cada pessoa, mas podem incluir a experiência do trauma novamente através de "flashbacks" ou pesadelos, aumento da irritabilidade e isolamento.

"Esses são os sintomas clínicos, mas eles se manifestam na habilidade de sair de casa, de ir ao trabalho e de continuar sendo capaz de ter uma relação com sua esposa ou outras pessoas queridas", disse Rezzo.

Um estudo realizado em 2004 pelo Instituto de Pesquisa do Exército Walter Reed descobriu que quase um em oito soldados que voltam do Iraque ou do Afeganistão apresenta sintomas de estresse pós-traumático.

Cenas realistas

Psicoterapeutas já usam a terapia de exposição para tratar desordens ligadas ao estresse. Geralmente, o terapeuta pede ao paciente que imagine uma série de acontecimentos cada vez mais traumáticos.

Mas trata-se de um tratamento de uso difícil nas pessoas que sofrem de estresse pós-traumático.

"O problema em aplicar essa técnica nos casos de estresse pós-traumático é que um dos sintomas é a rejeição de coisas que tragam lembranças do trauma", disse Rezzo.

"Então, o que fazemos com a realidade virtual é colocar a pessoa em um Iraque virtual, mas inicialmente em um nível em que ele tenha apenas o mínimo de ansiedade."

Para recriar as cenas, o sistema usa um capacete que pode mostrar imagens com a mesma qualidade de videogames. As imagens trazem dois cenários: rua e deserto.

As imagens são controladas por um clínico, que pode acrescentar diferentes elementos aos cenários, de crianças brincando a explosões. A hora do dia e outras condições, como tempestades de areia, também podem ser manipuladas.

Para tornar os eventos mais realistas, o sistema emite odores como o cheiro de pólvora, borracha queimada e suor. Alto-falantes emitem o som, enquanto sensores localizados abaixo da cadeira do paciente recriam movimentos.

Sucesso

O tratamento típico de um soldado que sobreviveu a um ataque a seu veículo no Iraque começaria com a pessoa sentada ao lado de um carro blindado no deserto.

"Aí, você aumenta o nível. Você o coloca em um veículo militar, adiciona o som do motor e pede para que dirijam em uma rua deserta", descreve Rezzo.

A equipe de pesquisadores já tratou quatro pessoas com sucesso e está realizando novos testes com outros soldados que voltam do Iraque.

No entanto, Rezzo afirma que os testes ainda estão no começo. "Eu não quero vender isso como uma panacéia, mas os resultados são encorajadores", avalia.

A pesquisa foi apresentada no encontro anual da Associação Americana para o Avanço da Ciência, em São Francisco.

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