Carnaval no Haiti satiriza tropas lideradas pelo Brasil
da BBC, em Londres
A folia carnavalesa deste ano no Haiti foi marcada por canções que satirizam as forças de paz da ONU no país, que são comandadas por soldados do Brasil.
O carnaval haitiano, que termina nesta terça-feira, apresentou diversos merengues satirizando ou mesmo criticando de forma bem direta a presença da Minustah (a sigla em francês como a força de paz é conhecida).
São músicas como a do célebre grupo local T-Vice, cuja letra diz ''Minustah, você invadiu nosso país, você precisa melhorar as coisas''. Outra canção, assinada pelo grupo Show Off, é ainda mais direta. A música, intitulada ''Ingratos Esquecíveis'', pede que as tropas de paz ''saiam de nosso país''.
A Minustah diz não se sentir ofendida pelas canções satíricas. ''Em todo o mundo, o Carnaval é uma época para se satirizar autoridades. É assim no Brasil ou em Portugal. Faz parte do Carnaval, é um período especial do ano'', disse David Wimhurst, diretor de comunicação da Minustah, à BBC Brasil.
De acordo com Wimhurst, apesar de algumas letras terem um conteúdo explicitamente contrário à presença das forças de paz no país, isso representa a opinião de uma minoria, que ''se não estivesse se expressando pela música, estaria fazendo isso de outra forma''.
''Estamos aqui para apoiar o governo e a ajudar na estabilização do país, mas existem alguns no Haiti que não querem que o país seja estável, que se beneficiam com a instabilidade'', comentou Wimhurst.
Prática antiga
A prática de realizar canções satíricas está longe de ser algo inédito no Haiti, de acordo com Robert Maguire, diretor de Temas Internacionais e do programa do Haiti do Trinity College, em Washington.
''É uma tradição antiga, que remete aos tempos da ditadura da família Duavalier, em uma época em que era muito perigoso fazer algo assim. Na época de Jean Claude Duvalier, vi um desfile em que uma banda carnavalesca satirizava a mulher dele e o seu estilo de vida luxuoso'', lembra Maguire.
O regime dos Duvalier teve início em 1957, quando François Duvalier foi eleito presidente. Mais tarde, ele deu um golpe, eliminou a oposição, se autodenominou presidente vitalício e implantou a temida milícia conhecida como Tonton Macoutes. Seu filho, Jean Claude Duvalier, o sucedeu no poder e implantou um regime semelhante ao de seu pai.
Com a abertura política no país, a sátira carnavalesca se tornou mais aberta. O segundo presidente eleito democraticamente na história do Haiti, Jean Bertrand Aristide, não escapou do humor carnavalesco quando governou o país entre 2001 e 2004.
''Sweet Mickey, um popular cantor haitiano, apresentou uma canção chamada Rice (Arroz), que fazia menção indireta a um escândalo da administração Aristide, relativo à distribuição de arroz e de comida. A música se tornou muito popular'', conta Maguire.
As músicas de sátira e de protesto do Haiti já chegaram até mesmo ao exterior. ''Harry Belafonte chegou a gravar uma versão em inglês de uma canção carnavalesca da década de 1920 que criticava a ocupação americana do Haiti, fazendo uso de duplo sentido", diz o especialista.
O duplo sentido parece ser um artigo ausente das canções deste ano. Para Maguire, esse é um efeito natural.
''Não ouvi as canções deste ano, mas parece que neste Carnaval a mensagem não está sendo disfarçada. Desconfio que a grande diferença, se comparado com carnavais passados, é que este é o primeiro nos últimos três anos que acontece sob um regime eleito democraticametne, onde existe menos repressão e as pessoas podem se expressar.''
O carnaval haitiano, que termina nesta terça-feira, apresentou diversos merengues satirizando ou mesmo criticando de forma bem direta a presença da Minustah (a sigla em francês como a força de paz é conhecida).
São músicas como a do célebre grupo local T-Vice, cuja letra diz ''Minustah, você invadiu nosso país, você precisa melhorar as coisas''. Outra canção, assinada pelo grupo Show Off, é ainda mais direta. A música, intitulada ''Ingratos Esquecíveis'', pede que as tropas de paz ''saiam de nosso país''.
A Minustah diz não se sentir ofendida pelas canções satíricas. ''Em todo o mundo, o Carnaval é uma época para se satirizar autoridades. É assim no Brasil ou em Portugal. Faz parte do Carnaval, é um período especial do ano'', disse David Wimhurst, diretor de comunicação da Minustah, à BBC Brasil.
De acordo com Wimhurst, apesar de algumas letras terem um conteúdo explicitamente contrário à presença das forças de paz no país, isso representa a opinião de uma minoria, que ''se não estivesse se expressando pela música, estaria fazendo isso de outra forma''.
''Estamos aqui para apoiar o governo e a ajudar na estabilização do país, mas existem alguns no Haiti que não querem que o país seja estável, que se beneficiam com a instabilidade'', comentou Wimhurst.
Prática antiga
A prática de realizar canções satíricas está longe de ser algo inédito no Haiti, de acordo com Robert Maguire, diretor de Temas Internacionais e do programa do Haiti do Trinity College, em Washington.
''É uma tradição antiga, que remete aos tempos da ditadura da família Duavalier, em uma época em que era muito perigoso fazer algo assim. Na época de Jean Claude Duvalier, vi um desfile em que uma banda carnavalesca satirizava a mulher dele e o seu estilo de vida luxuoso'', lembra Maguire.
O regime dos Duvalier teve início em 1957, quando François Duvalier foi eleito presidente. Mais tarde, ele deu um golpe, eliminou a oposição, se autodenominou presidente vitalício e implantou a temida milícia conhecida como Tonton Macoutes. Seu filho, Jean Claude Duvalier, o sucedeu no poder e implantou um regime semelhante ao de seu pai.
Com a abertura política no país, a sátira carnavalesca se tornou mais aberta. O segundo presidente eleito democraticamente na história do Haiti, Jean Bertrand Aristide, não escapou do humor carnavalesco quando governou o país entre 2001 e 2004.
''Sweet Mickey, um popular cantor haitiano, apresentou uma canção chamada Rice (Arroz), que fazia menção indireta a um escândalo da administração Aristide, relativo à distribuição de arroz e de comida. A música se tornou muito popular'', conta Maguire.
As músicas de sátira e de protesto do Haiti já chegaram até mesmo ao exterior. ''Harry Belafonte chegou a gravar uma versão em inglês de uma canção carnavalesca da década de 1920 que criticava a ocupação americana do Haiti, fazendo uso de duplo sentido", diz o especialista.
O duplo sentido parece ser um artigo ausente das canções deste ano. Para Maguire, esse é um efeito natural.
''Não ouvi as canções deste ano, mas parece que neste Carnaval a mensagem não está sendo disfarçada. Desconfio que a grande diferença, se comparado com carnavais passados, é que este é o primeiro nos últimos três anos que acontece sob um regime eleito democraticametne, onde existe menos repressão e as pessoas podem se expressar.''