Lucas Mendes: Corpo Fora
da BBC, em Londres
Joshua Key não é o primeiro desertor americano desta invasão do Iraque, mas é o primeiro a publicar um livro.
A história dele pega pelo brutal conteúdo e pela simplicidade da forma.
Joshua, de Oklahoma, jovem, casado e pouco educado, estava levando uma vida apertada com a mulher e o bebê recém-nascido.
Alistou-se no Exército não para ser soldado, mas soldador. Queria uma profissão.
Naquela época, 2002, ele tinha absoluta certeza de que os Estados Unidos não entrariam numa nova guerra, mas não protestou quando, no ano seguinte, foi despachado para Ramadi, no Iraque, parte da 43ª Companhia de Engenharia de Combate.
Johsua não soldou nem viu engenharia. Saía em patrulhas com outros soldados americanos em casas suspeitas de abrigar terroristas.
Numa delas, entraram derrubando portas e encontraram sete mulheres, nenhum homem, nem armas.
Frustrados, os soldados passaram a quebrar a casa e depois arrebentaram o chão com picaretas. Nada.
Uma mulher protestou, levou uma coronhada no rosto e caiu sangrando. Logo chegaram quatro superiores que entraram na casa e deram ordens a Joshua e os outros soldados para ficarem do lado de fora.
Ele não sabe o que fizeram com as mulheres, mas elas não pararam de gritar. Depois receberam instruções de sumir dali.
Joshua conta como viu jovens e iraquianos de meia-idade espancados e mortos por soldados americanos sem nenhum motivo. Os abusos eram rotineiros.
Numa licença, depois de sete meses no Iraque, Joshua resolveu desertar e, com a mulher e o filho, pediu asilo no Canadá. O caso está na Justiça.
O caso do tenente Ehren Watada também é pioneiro. Ele foi o primeiro oficial americano a se recusar a servir no Iraque.
Argumenta que a "guerra é ilegal" e isto contraria o juramento militar dele.
Watada foi levado a julgamento, mas, no terceiro dia, o juiz decidiu que o próprio tribunal não tinha autoridade para declarar a legalidade ou ilegalidade da guerra.
A pedido da própria promotoria, perplexa com a conclusão dele, declarou cancelado o julgamento.
O caso não vai ter uma conclusão antes de um ano. A intenção original dos militares era fazer de Watada uma punição exemplar, mas pode sair pela culatra.
Um dos problemas com o plano do presidente de aumentar o número de tropas no Iraque é a falta de soldados.
Mesmo com os incentivos financeiros, o número está abaixo da necessidade, embora o Pentágono esteja reduzindo cada vez mais todos padrões de recrutamento.
Existe oferta de "perdão" a presos que se alistem.
Há 2 anos, a oferta se limitava a presos por crimes menores. Agora assaltantes a mão armada, e presos por crimes sérios como abuso sexual ou quem matou por atropelamento estão recebendo o perdão moral ( "moral waiver" ) para servir na guerra.
Os militares não são os únicos carentes no Iraque e Afeganistão.
O governo não consegue preencher os cargos civis, inclusive diplomatas, apesar de bônus e outros incentivos de carreira.
Com corações e mentes cada vez mais perdidos, os corpos também pulam fora desta guerra de Bush.
A história dele pega pelo brutal conteúdo e pela simplicidade da forma.
Joshua, de Oklahoma, jovem, casado e pouco educado, estava levando uma vida apertada com a mulher e o bebê recém-nascido.
Alistou-se no Exército não para ser soldado, mas soldador. Queria uma profissão.
Naquela época, 2002, ele tinha absoluta certeza de que os Estados Unidos não entrariam numa nova guerra, mas não protestou quando, no ano seguinte, foi despachado para Ramadi, no Iraque, parte da 43ª Companhia de Engenharia de Combate.
Johsua não soldou nem viu engenharia. Saía em patrulhas com outros soldados americanos em casas suspeitas de abrigar terroristas.
Numa delas, entraram derrubando portas e encontraram sete mulheres, nenhum homem, nem armas.
Frustrados, os soldados passaram a quebrar a casa e depois arrebentaram o chão com picaretas. Nada.
Uma mulher protestou, levou uma coronhada no rosto e caiu sangrando. Logo chegaram quatro superiores que entraram na casa e deram ordens a Joshua e os outros soldados para ficarem do lado de fora.
Ele não sabe o que fizeram com as mulheres, mas elas não pararam de gritar. Depois receberam instruções de sumir dali.
Joshua conta como viu jovens e iraquianos de meia-idade espancados e mortos por soldados americanos sem nenhum motivo. Os abusos eram rotineiros.
Numa licença, depois de sete meses no Iraque, Joshua resolveu desertar e, com a mulher e o filho, pediu asilo no Canadá. O caso está na Justiça.
O caso do tenente Ehren Watada também é pioneiro. Ele foi o primeiro oficial americano a se recusar a servir no Iraque.
Argumenta que a "guerra é ilegal" e isto contraria o juramento militar dele.
Watada foi levado a julgamento, mas, no terceiro dia, o juiz decidiu que o próprio tribunal não tinha autoridade para declarar a legalidade ou ilegalidade da guerra.
A pedido da própria promotoria, perplexa com a conclusão dele, declarou cancelado o julgamento.
O caso não vai ter uma conclusão antes de um ano. A intenção original dos militares era fazer de Watada uma punição exemplar, mas pode sair pela culatra.
Um dos problemas com o plano do presidente de aumentar o número de tropas no Iraque é a falta de soldados.
Mesmo com os incentivos financeiros, o número está abaixo da necessidade, embora o Pentágono esteja reduzindo cada vez mais todos padrões de recrutamento.
Existe oferta de "perdão" a presos que se alistem.
Há 2 anos, a oferta se limitava a presos por crimes menores. Agora assaltantes a mão armada, e presos por crimes sérios como abuso sexual ou quem matou por atropelamento estão recebendo o perdão moral ( "moral waiver" ) para servir na guerra.
Os militares não são os únicos carentes no Iraque e Afeganistão.
O governo não consegue preencher os cargos civis, inclusive diplomatas, apesar de bônus e outros incentivos de carreira.
Com corações e mentes cada vez mais perdidos, os corpos também pulam fora desta guerra de Bush.