Vacina para mulheres vira mania entre gays britânicos

da BBC, em Londres

Gays na Grã-Bretanha estão procurando uma vacina controvertida destinada a mulheres, para proteção contra doenças sexuais.

Gardasil protege contra a infecção mais comum transmitida sexualmente, a do chamado papilomavírus humano (HPV, em inglês), que causa câncer no colo do útero.

Mas o HPV também causa verrugas genitais e câncer no ânus e no pênis, e os homens alegam que a vacina poderia protegê-los contra esses males.

Muitas clínicas privadas estão oferecendo esta vacina a homens. Uma delas, em Londres disse que imunizou dezenas nas últimas seis semanas.

Controvérsia

Gardasil vem causando controvérsia desde que foi lançada na Grã-Bretanha no ano passado, principalmente porque foi formulada para ser ministrada a crianças antes que elas se tornem sexualmente ativas e possam contrair o HPV.

O governo britânico está analisando se meninas, e possivelmente meninos, com 11 ou 12 anos, deveriam recebê-las rotineiramente em escolas, com o objetivo de reduzir a incidência de câncer no colo do útero.

Gardasil foi aprovado para meninos e meninas de 9 a 15 anos de idade e mulheres de 16 a 26 anos. Mas médicos podem optar por receitar o medicamento para outras pessoas, se desejarem.

Forte demanda

Na clínica Freedom Health, na Rua Harley, tradicional por sua concentração de serviços médicos privados, dezenas de homens receberam a vacina. Simon Cummings, que trabalha na clínica, disse que não teve problemas em recomendar Gardasil a homens adultos, cobrando o equivalente a quase US$ 900 por uma série de três doses.

"Nós temos uma forte demanda por isso. Um homem veio para a vacina nesta manhã. Ele tinha 24 anos. E eu recebi um outro nesta tarde com 67 anos de idade", afirmou.

"A motivação deles é se protegerem e evitar passar HPV para seus parceiros."

Críticos da medida dizem que não há razão para imunizar pessoas que já são sexualmente ativas.

Mais provas

Mas Paul Fox, um especialista em medicina genito-urinária de hospitais de Chelsea, Westminster e Ealing, acredita que pode valer a pena ministrar a vacina.

Ele alega que é pouco provável que uma pessoa tenha tido contato com todas as quatro versões do HPV cobertas por Gardasil, inclusive duas ligadas a cânceres, mesmo que tenham levado uma vida sexual muito promíscua.

"Nós não deveríamos apenas buscar vacinar pré-adolescentes. Outras pessoas também podem ser beneficiadas."

Jo Longstaff, da clínica privada Independent General Practice, em Cardiff, no País de Gales, que também oferece a vacina Gardasil, concorda.

"Nossa primeira consulta sobre o uso de Gardasil foi feita por um homem. Eu acho que ele estava analisando a possibilidade (de usar o medicamento)."

Anne Szarewski, da Pesquisa do Câncer da Grã-Bretanha, envolvida na avaliação de Gardasil, do Laboratório Farmacêutico Merck, e de Cervarix, do Laboratório GSK, disse que pode haver base para a imunização de homens.

"Homens que fazem sexo com homens correm um risco muito mais alto do que a média de desenvolver câncer anal e lesões genitais, especialmente se são soropositivos."

"Claramente seria muito importante se a vacina pudesse dar proteção. O problema é que nós precisamos de prova."

Testes em homens

A Merck está testando no momento a eficácia da vacina em 4 mil homens, inclusive em 500 homens que fazem sexo com homens.

E o Instituto Nacional de Saúde dos Estados Unidos também está realizando testes para ver que benefícios pode trazer a portadores do vírus HIV, causador da Aids.

A Merck afirma que sua prioridade é combater o câncer no colo do útero, mas não descartou a possibilidade de usar a vacina em outros grupos, inclusive em homens que fazem sexo com homens.

Roger Peabody, do Terrence Higgins Trust, disse que os testes foram bem sucedidos, e há razões para vacinar meninos, não apenas para evitar a propagação de HPV, mas também para proteger homens contra doenças ligadas ao HPV.

Szarewski concordou, dizendo: "Já é ruim sugerir às pessoas que a filha de 12 anos pode precisar de uma vacina contra uma infecção sexualmente transmissível."

"Eu acharia interessante ver a resposta ao sugerir aos pais que deveriam vacinar seus filhos aos 12 anos caso eles se tornem gays."

Ela disse a homens gays e mulheres também correm o risco de desenvolver câncer anal.

Cerca de 400 pessoas recebem o diagnóstico de câncer anal a cada ano na Grã-Bretanha. A doença tem uma incidência um pouco maior em mulheres do que em homens.

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