Verdes que nos querem verdes
da BBC, em Londres
O poema de García Lorca pedindo, em 1924, um mundo e uma gente mais verde ganhou relevância ao ponto de virar lugar-comum na imprensa, no bar, saraus literários e salas de visitas de Botucatu.
Lorca, na verdade, nem sonhava com seu país, a Espanha, quanto mais um mundo, despoluído, responsável, com a humanidade, ou os espanhóis do Real Madrid, preocupados com o aquecimento global e as concentrações de dióxido de carbono, metano e óxido nitroso, somadas, ou acrescidas ao uso de combustíveis fósseis.
Nada disso havia na terceira década do século passado. Tudo era atraso, tudo ainda estava por acontecer.
Na moda, quando do parto do poema, estava o surrealismo, com suas imagens desconexas, supostamente inconscientes, e Sigmund Freud era o Fernando Gabeira ou o Al Gore da época.
Buñuel e Salvador Dalí fizeram um filme, Um cão andaluz, e, em close, podia se ver, como ainda se pode, um camarada afiando uma navalha para, em seguida, passá-la pelo globo ocular de uma dama de sua intimidade.
Hoje, temos os chamados “slasher films”, ou filmes macabros, de horror, onde o sangue jorra, as facas cortam e as vísceras correm soltas como, na horrenda vida real, nos municípios do interior brasileiro, segundo a OEI (Organização dos Estados Ibero-Americanos), mas não, nunca, jamais, no Rio de Janeiro, que ficou, como um colunista brasileiro fez questão de apontar, neste fim-de-semana que passou, ficou num mero – mero, ele disse mero -- 107º lugar.
Um ranking, segundo suas palavras, “pífio”. Seria interessante, talvez consolo, que as famílias dos filantrópicos franceses trucidados em Copacabana ficassem sabendo disso.
Vermelho que te quero vermelho, podemos parafrasear, sem surrealismos. Apenas docemente realistas, com o pé no chão, respirando essa porcalhada toda que andamos nós mesmos criando.
Nós estamos nos matando de crime hediondo. Com a arma branca, não da navalha no olho ou da faca no pescoço, mas com nosso simples zanzar, ir até a esquina, pegar o jornal e uma média com pão e manteiga, respirar ou emitir flatulências perto de um semelhante, fazer compras em Nova York.
Nem o poeta ibérico e nem a organização ibero-americana poderiam ver as coisas desse jeito. Ou “por esse viés”, como gostam de dizer os jornalistas.
O que fazer?
Outro (mais ou menos) poeta, o russo Lenin, escreveu seu opúsculo perguntando também: o que fazer? Na época dele, era fácil. Expropiar toda propriedade privada, passar pela arma branca mais próxima ou mandar bala em tudo mundo que se opusesse à nova ordem das coisas.
Era, Vladimir Illitch Lenin, um eco-guerreiro da época. O dióxido de carbono (CO2) que se danasse. O importante eram 3 (oquêi, digamos 2) refeições por dia, mais horas e condições de trabalho razoáveis.
Fez, por uns tempos, sentido. Depois, como tudo mais, e como sempre, a gente foi lá e fez besteira.
Agora, o aquecimento global e a chamada “fast food” são parte ínfima do grande problema que inclui o inevitável derretimento das calotas polares e ir de carro até o centro da cidade.
O que me chateia mesmo, no entanto, é o baixo nível do papo e a bobageira dos filmes. Em vez do Cão Andaluz, tivemos outro dia o ex-vice-presidente americano, e ex-candidato à presidência, Al Gore, ganhando Oscar naquela tolíssima cerimônia.
Na mesma semana, Al (nunca confie em alguém chamado Al) foi flagrado com uma conta de gás e energia 20 vezes superior à média nacional americana, nada “pífia”, por sinal.
“Intriga da oposição”, “Mágoas canalhas da direita”, berrou a esquerdalhada habitual. Os fatos, no entanto, continuaram a ser fatos, pois é só isso que sabem ser e fazer.
Meu passado me persegue
A esplêndida Joan Collins, que já foi estrela em Hollywood, vota para quem vai ou não a estatueta e, curioso, escreve bem e engraçado, sugeriu, com elegância, em artiguete escrito para um exclusivo semanário de alto nível, na sexta-feira, dia 2 de março, The Spectator, que alguém deveria pedir recontagem dos votos recebidos pelo assaz guerrilheiro ético verde Al Gore na disputa da cobiçada estatueta.
Verde que te quero verde, Oscar dourado que te quero dourado. Êi, Al, podia também perder uns quilinhos, né mesmo?
Lorca, na verdade, nem sonhava com seu país, a Espanha, quanto mais um mundo, despoluído, responsável, com a humanidade, ou os espanhóis do Real Madrid, preocupados com o aquecimento global e as concentrações de dióxido de carbono, metano e óxido nitroso, somadas, ou acrescidas ao uso de combustíveis fósseis.
Nada disso havia na terceira década do século passado. Tudo era atraso, tudo ainda estava por acontecer.
Na moda, quando do parto do poema, estava o surrealismo, com suas imagens desconexas, supostamente inconscientes, e Sigmund Freud era o Fernando Gabeira ou o Al Gore da época.
Buñuel e Salvador Dalí fizeram um filme, Um cão andaluz, e, em close, podia se ver, como ainda se pode, um camarada afiando uma navalha para, em seguida, passá-la pelo globo ocular de uma dama de sua intimidade.
Hoje, temos os chamados “slasher films”, ou filmes macabros, de horror, onde o sangue jorra, as facas cortam e as vísceras correm soltas como, na horrenda vida real, nos municípios do interior brasileiro, segundo a OEI (Organização dos Estados Ibero-Americanos), mas não, nunca, jamais, no Rio de Janeiro, que ficou, como um colunista brasileiro fez questão de apontar, neste fim-de-semana que passou, ficou num mero – mero, ele disse mero -- 107º lugar.
Um ranking, segundo suas palavras, “pífio”. Seria interessante, talvez consolo, que as famílias dos filantrópicos franceses trucidados em Copacabana ficassem sabendo disso.
Vermelho que te quero vermelho, podemos parafrasear, sem surrealismos. Apenas docemente realistas, com o pé no chão, respirando essa porcalhada toda que andamos nós mesmos criando.
Nós estamos nos matando de crime hediondo. Com a arma branca, não da navalha no olho ou da faca no pescoço, mas com nosso simples zanzar, ir até a esquina, pegar o jornal e uma média com pão e manteiga, respirar ou emitir flatulências perto de um semelhante, fazer compras em Nova York.
Nem o poeta ibérico e nem a organização ibero-americana poderiam ver as coisas desse jeito. Ou “por esse viés”, como gostam de dizer os jornalistas.
O que fazer?
Outro (mais ou menos) poeta, o russo Lenin, escreveu seu opúsculo perguntando também: o que fazer? Na época dele, era fácil. Expropiar toda propriedade privada, passar pela arma branca mais próxima ou mandar bala em tudo mundo que se opusesse à nova ordem das coisas.
Era, Vladimir Illitch Lenin, um eco-guerreiro da época. O dióxido de carbono (CO2) que se danasse. O importante eram 3 (oquêi, digamos 2) refeições por dia, mais horas e condições de trabalho razoáveis.
Fez, por uns tempos, sentido. Depois, como tudo mais, e como sempre, a gente foi lá e fez besteira.
Agora, o aquecimento global e a chamada “fast food” são parte ínfima do grande problema que inclui o inevitável derretimento das calotas polares e ir de carro até o centro da cidade.
O que me chateia mesmo, no entanto, é o baixo nível do papo e a bobageira dos filmes. Em vez do Cão Andaluz, tivemos outro dia o ex-vice-presidente americano, e ex-candidato à presidência, Al Gore, ganhando Oscar naquela tolíssima cerimônia.
Na mesma semana, Al (nunca confie em alguém chamado Al) foi flagrado com uma conta de gás e energia 20 vezes superior à média nacional americana, nada “pífia”, por sinal.
“Intriga da oposição”, “Mágoas canalhas da direita”, berrou a esquerdalhada habitual. Os fatos, no entanto, continuaram a ser fatos, pois é só isso que sabem ser e fazer.
Meu passado me persegue
A esplêndida Joan Collins, que já foi estrela em Hollywood, vota para quem vai ou não a estatueta e, curioso, escreve bem e engraçado, sugeriu, com elegância, em artiguete escrito para um exclusivo semanário de alto nível, na sexta-feira, dia 2 de março, The Spectator, que alguém deveria pedir recontagem dos votos recebidos pelo assaz guerrilheiro ético verde Al Gore na disputa da cobiçada estatueta.
Verde que te quero verde, Oscar dourado que te quero dourado. Êi, Al, podia também perder uns quilinhos, né mesmo?