Topo

Esse conteúdo é antigo

Doria compra material contra covid-19 direto da Ásia e se opõe a Bolsonaro

João Doria (PSDB), governador de São Paulo - Pier Marco Tacca/Getty Images
João Doria (PSDB), governador de São Paulo Imagem: Pier Marco Tacca/Getty Images

Simone Iglesias e Julia Leite

em São Paulo

03/04/2020 19h58

São Paulo, o estado mais rico do Brasil, está comprando equipamentos médicos diretamente de fornecedores estrangeiros e se diz pronto para ir à Justiça para impedir Jair Bolsonaro (sem partido) de ordenar o relaxamento da quarentena, em meio à disputa crescente entre governadores e o presidente.

Segundo o governador João Doria (PSDB-SP), o estado comprou mais de 1 milhão de kits de teste da Coreia do Sul, que devem chegar no fim de semana. São Paulo também está usando seu escritório em Xangai para ajudar a conduzir negociações para comprar equipamentos de proteção e respiradores da China.

As compras estão sendo financiadas pelos cofres do estado e R$ 211 milhões em doações de empresas, o que ajuda a garantir o pagamento e a agilizar as negociações com os fornecedores, segundo ele.

"Não vamos ficar dependendo dessas conversas federais para equipamento para crise", afirma Doria. "Hoje temos um ministro responsável que é médico, um profissional que respeito muito. Amanhã, por alguma circunstância, talvez ele não esteja nesta posição e não sabemos numa eventual saída do ministro Mandetta quem poderia ocupar esse ministério. Tudo o que não desejamos é que a saúde e a vida dos brasileiros de São Paulo fique dependente de alguém que não tenha a visão correta e científica e republicana como tem o ministro Mandetta."

Bolsonaro, que apenas alguns dias atrás havia adotado um tom mais conciliatório da crise, rapidamente voltou a chamar a pandemia de "gripe" e a questionar medidas de isolamento social. O presidente criticou repetidamente os governadores, culpando-os pela inevitável desaceleração econômica à frente.

O ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, também tem sido alvo frequente, alimentando especulações de que seria substituído em breve. Em entrevista à rádio Jovem Pan na quinta-feira, Bolsonaro disse que nenhum ministro é "indemissível" e que Mandetta extrapolou. O ministro negou que irá pedir demissão do cargo.

"O presidente muitas vezes adota discurso desafiador, mais extremado. Não é assim que se faz política, não é assim que se faz gestão pública. Se faz com diálogo e não no desafio, muito menos nas ameaças," diz Doria.

O Palácio do Planato não respondeu imediatamente ao pedido de comentário.

São Paulo, que tem cerca de 46 milhões de habitantes, é o epicentro do surto de coronavírus no Brasil, com quase metade dos 9.056 casos confirmados e 219 das 359 mortes no país.

Doria, um dos primeiros a adotar medidas mais estritas de distanciamento social, diz que o estado, que responde por cerca de 30% da economia brasileira, perdeu cerca de R$ 10 bilhões em receita até o final de março.

A decisão de estender, encerrar ou endurecer as ordens de quarentena do estado será anunciada na segunda-feira, segundo ele, acrescentando que os estados estão prontos para lutar contra Bolsonaro na Justiça se ele ordenar a diminuição das restrições.

"Todos os governadores já estão orientados dado o discurso feito pelo presidente, todos estão alertados", diz ele. "Adotaremos imediatamente medidas junto ao Supremo com a convicção de que o STF terá com base na lei e no bom senso atender os governadores e negar ao presidente um gesto que pode ampliar muito o potencial de vítimas no Brasil."

A pesquisa XP Ipespe divulgada hoje mostrou que a avaliação ruim ou péssima de Bolsonaro passou de 36% no início de março para 42%. Cerca de 80% dos entrevistados disseram que propostas mais rigorosas de quarentena são a melhor maneira de impedir a propagação da pandemia.

Já a desaprovação dos governadores caiu em todo o Brasil. No Sudeste, a região mais afetada, 19% dos entrevistados tiveram avaliação negativa dos governadores, de 27% há um mês.

"As medidas restritivas de isolamento social são adequadas, exatamente diferente do que prega o presidente que neste momento deveria liderar o país para superar a crise", afirma Doria. "Lamento muito mas os governadores continuarão, como eu, a fazer o que devem que é proteger as pessoas e salvar vidas."